Desentendimento e poder

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Aqui estou eu, sentada na cadeira do meu quarto, esperando meu pai chegar. Depois da conversa com a tia Renatta, corri para casa cheia de esperança — esperança de ter meu pai de volta. Que essa ligação que estou sentindo nos aproxime como éramos há onze anos.

Finalmente, vejo o carro dele entrando na garagem. Pulo da cadeira e corro pelo corredor até a escada.

– Pai, eu preciso falar com você – digo assim que ele passa pela porta que dá acesso à garagem.

– Agora não, Melissa. Preciso resolver uns assuntos importantes no escritório – ele passa por mim e entra no escritório, fechando a porta.

Tia Renatta sai da cozinha e me observa.

– Vai – ela me incentiva com um olhar. Não penso duas vezes e vou atrás. Abro a porta do escritório e entro.

– Melissa, o que eu falei...

– Pai, é importante – o interrompo antes que comece a dar desculpas. Ele põe os papéis de lado e me encara, cruzando os braços sobre a mesa.

Por mais que tenha parado no tempo aos dezoito anos, meu pai se tornou um homem maduro, cheio de responsabilidades e negócios a tratar.

– Diga – responde com um tom sério.

– Er... – me aproximo e apoio as mãos na cadeira. – Você... você está sentindo algo diferente? – pergunto hesitante.

– Não – diz firme. – Melissa, você veio até aqui só pra...

– Não! Pai, é sério! Hoje eu acordei estranha e fui falar com a tia Renatta. Ela disse que estou tendo uma ligação. E você pode estar sentindo algo também!

– Melissa, pare de colocar bobagens na cabeça. Sua tia tem ligação com a Anna, o que é normal por causa da linhagem de lobos do pai dela.

– Mas... a mamãe e ela também tiveram isso... – "Mamãe?" Será que...? Arregalo os olhos e respiro fundo.

– O que foi, Melissa? – meu pai se levanta da cadeira e se aproxima.

– Mamãe...

– O quê? – pergunta, confuso.

– A ligação... com a mamãe – sussurro, olhando em seus olhos.

– Melissa, sua mãe está morta – ele leva os dedos às têmporas, visivelmente irritado.

– Mas pode ser que... – ela esteja viva, penso.

– Olha, tenho mais o que fazer, ok? Não vou ficar ouvindo essas coisas que você inventa – ele volta a se sentar e mexe nos papéis novamente.

Ele nem sequer se interessou... Isso pode ser um aviso ou... uma esperança. Uma esperança de que minha mãe esteja viva.

– Por que... por que você não foi atrás dela? – meu pai me encara sério. – Você me prometeu que ia trazê-la de volta quando eu tinha sete anos!

– Melissa...

– Melissa nada! A única coisa que você fez foi ficar sentado, se lamentando! – eu precisava de uma explicação. – Você ainda ama a mamãe?

– Sim – ele responde, mas seu "sim" não me convence.

– Será mesmo? – cruzo os braços. – Se ainda ama a mamãe, por que está com outra?

– Minha vida amorosa não é da sua conta, Melissa. Agora saia e me deixe trabalhar.

O quê? Estou indignada.

– Olha a diferença entre o amor do tio Douglas e da tia Renatta. Isso sim é amor, pai! Tenho certeza de que, se fosse ao contrário, o tio já teria movido mundos para encontrá-la! – lágrimas ameaçam cair dos meus olhos.

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