Capitulo 8

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Este capítulo relata o episódio da ida a Sintra. Carlos convida o maestro Cruges para um passeio na vila, na esperança de aí encontrar Maria Eduarda, que passeia por aquelas paragens, tendo Dâmaso como cicerone.
Carlos fica desiludido com o passeio, pois não consegue satisfazer a sua expetativa de se cruzar com a mulher que domina os seus pensamentos.
Apercebemo-nos que Sintra era um espaço propício a encontros fortuitos com mulheres, como se depreende da estadia de Eusebiozinho e do jornalista Palma Cavalão no hotel Nunes, acompanhados de duas espanholas.

Numa manhã, por volta das oito horas, pontualmente, Carlos parava o break na rua das Flores, diante do conhecido portão da casa do Cruges (conhecido no Ramalhete como " o maestro "), mas o senhor Cruges já não morava ali.
Carlos foi então informado por uma criada que o senhor Cruges tinha ido viver para a rua de S. Francisco. Durante um momento, desesperado como estava, Carlos chegou a pensar em partir sozinho para Sintra.
Já na rua de S. Francisco, Carlos esperou durante um quarto de hora, até que por fim o maestro desceu a correr, sendo admoestado, de cima, pela voz da mãe, que lhe pedia para não se " esquecer das queijadas ".
Cruges subiu precipitadamente para a almofada, ao lado de Carlos. Estava uma manhã muito fresca, toda azul e branca, sem uma nuvem, com um lindo sol que não aquecia. O maestro desde os nove anos que não ia a Sintra.
Pouco a pouco o sol elevava-se e eles iam vencendo a estrada, acabando por chegar à Porcalhota, onde o maestro ansiava banquetear-se com o famoso coelho guisado. Carlos, para lhe fazer companhia, aceitou apenas beber uma chávena de café.
Carlos só pensava no motivo que o levara a Sintra. Havia algum tempo que ele não avistava uma certa figura e que não encontrava o negro profundo dos seus olhos, que se tinham fixado nos dele. Supunha ele que ela estava em Sintra e não esperava nem desejava nada, apenas querendo cruzar-se com ela.
Depois de algum tempo de viagem chegaram às primeiras casas de Sintra. Cruges estava desejoso de ficar no hotel Lawrence, mas Carlos, imaginando que aí estaria hospedada a mulher dos seus sonhos e para não dar a entender que andava a segui-la, defendeu que era preferível irem para o hotel Nunes, onde se comia muito bem.
À porta do Nunes, Carlos precipitou-se para a entrada, perguntando ao criado se ele conhecia o senhor Dâmaso Salcede, tendo o criado respondido que ele estaria no hotel Lawrence.
No hotel Nunes, Carlos e Cruges surpreenderam Eusebiozinho e o diretor do jornal " Corneta do Diabo " acompanhados de duas prostitutas espanholas. Eusebiozinho chegou a mostrar-se envergonhado, inventando desculpas para justificar o facto de estar ali.
Às duas horas Carlos e Cruges saíram do hotel para fazerem um passeio a Seteais. Alimentando a secreta esperança de vislumbrar Maria Eduarda, em frente do Lawrence, Carlos retardou o passo, para mostrar o hotel a Cruges.
À media em que iam caminhando, observavam as belíssimas paisagens de Sintra. Durante o passeio, cruzaram-se com o poeta Alencar, que os acompanhou na caminhada. Pensaram em subir ao palácio da Pena, mas Carlos teve ainda o cuidado de voltar à Lawrence, tendo aí obtido a informação de que os Castro Gomes, acompanhados de Dâmaso, tinham partido para Mafra e de lá iriam para Lisboa, pois a senhora estava em cuidados com a filha.
Então o espaço idílico de Sintra perdeu repentinamente o interesse para Carlos (espaço psicológico), que se mostrou saturado do passeio, querendo regressar rapidamente a Lisboa. No caminho de regresso, de repente soou a voz de Cruges, que lamentava o facto de se ter esquecido das queijadas.

Continua a ser adiado o encontro entre Carlos e Maria Eduarda. Nesta altura espera-se que a curiosidade do leitor esteja ao rubro. Avencemos na leitura do próximo capítulo.

Resumo Os MaiasOnde histórias criam vida. Descubra agora