Parte 3

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   Passados alguns dias, teve uma reunião de pauta:

   — Chefe, eu acho que vocês estão pegando pesado demais comigo — eu disse ao final da reunião, em particular.

   — Ô Jujuba, diga! Sei... Bom, eu já pedi para não fazermos mais o número com as baratas, você não está mais feliz??

   — Chefe, vocês estão colocando peixes na piscina comigo agora...

   — Poxa, não tem como você matar os peixes pisoteados! Não era esse o problema?

   Eu respirei fundo e tentei ser mais específico:

   — Matar os animais faz parte do problema, mas não é bem esse o ponto, vou tentar reformular. Antes do circo mudar para o Só para Adultos, eu levava bem a vida e era feliz. Eu não era brutalmente humilhado como sou hoje. Muitas vezes eu choro durante o espetáculo e minhas lágrimas ficam escondidas na maquiagem. Isso nunca havia acontecido antes.

   O diretor desviou o olhar. Pensou um pouco e acendeu um cigarro (dentro de um lugar proibido):

   — Jujuba, ou melhor, Santiago, vou contar-lhe algo. Às vezes quando eu acordo pela manhã, durante o meu banho eu lembro-me do meu pai, que fugiu de casa com uma mulher bem mais nova. Deixou a minha família jogada. Imagina como foi a minha infância: foi terrível. Eu vi a minha mãe prostituindo-se. Eu choro na chuveiro às vezes pensando nisso, depois visto uma máscara e venho trabalhar. Você está em vantagem em relação a mim, que a máscara que eu uso é invisível, a sua não.

Venham todos! É o Circo Só para Adultos!Onde histórias criam vida. Descubra agora