Capitulo 7

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-Mana, estou cheio de fome...- dizia o pequeno Henrique, sentado junto a uma parede perto da porta.

-Eu sei, eu também estou...- respondeu a mais velha com a voz rouca.

Eles não faziam ideia de quanto tempo estariam ali trancados naquela sala, mas ja estavam à tempo suficiente para alguém ter forçado a entrada e entrado a matar e destruir tudo o que la estava dentro. Mas isso não aconteceu. À já algum tempo que não se ouvia o barulho dos homens que os procuravam.

Aos poucos e poucos, Diana foi empurrando a pesada secretária da frente da porta. Sabia que podia correr o risco de uma armadilha, mas se ali permanecessem, o resultado seria o mesmo.

Muito silensiosamente, apertou-se na frecha da porta e olhou para o exterior.

A imagem era um tanto assustadora, por outro lado, aliviava os seus receios.

O corredor que conduzia às escadas estava pintado de vermelho. Jaziam dois corpos, um bem perto da porta e o outro estava deitado sobre as escadas, como se aquele homem se tivesse arrastado até lá, no seu ultimo momento de agonia.

Sem falar, a jovem indicou ao seu irmão que pegasse nas mochilas e a seguisse. Se algo corresse mal, ela estava armada.

Desceram todos os andares com cautela, e o mesmo repetia-se. O sangue dos bandidos escorria nas paredes e formavam poças no chão.

No andar de entrada ainda se encontravam todos aqueles corpos decepados, e mais um se tinha juntado recentemente. Diana pediu a sua mochila, que o pequeno entregou com os olhos arregalados.

-Isto é nojento!- exclamou baixinho.

-Achas? Pensei que achasses assustador...- Disse enquanto punha a mochila às costas e se dirigia para a saida.

Já era altura do seu irmãozinho tomar consciência do terror que era a morte. Não era bonito, mas ele tinha de ver aquilo.

Henrique foi aproximando-se das celas com a mão a tapar o nariz.

-É realmente nojento...- repetiu com uma voz nasalada.

Diana já estava na porta de entrada, e olhava o exterior. Sabia destinguir que era madrugada, pois o sol começava a nascer por detrás deles. Ainda sentia as mãos tremendo, e as armas chacoalhavam.

-Mana...- chamava numa vozinha abafada.

Diana voltou para dentro e pode ver Henrique debruçado sobre um corpo.

-Este está vivo!- chamou a irmã com gestos desesperados.

Ela aproximou-se rapidamente e verificou que aquele homem tentava virar-se sobre si. Henrique com esforço, ajudou.

-E... ele... demon... ana...- o bandido falava gorgolejando no proprio sangue. Ainda que involuntariamente, Os dois irmãos não deixaram de sentir pena. Era algo horrivel de se assistir.

-Cuida...do.- O homem tremia cada vez mais. Com um esforço do outro mundo, ele apontou para uma mala do tipo militar ali proxima.- Lev...em... águ... comida... argh!- com a mão no peito, deu o seu ultimo suspiro. Nos seus olhos ensanguentados, os dois puderam ver a sua vida extiguir-se.

O pequeno correu para abraçar a irmã, soluçando.

-Esqueceste que ele é um dos que nos perseguia?- disse um pouco fria

-Não, mas e se ele foi obrigado a ir com os outros? Se calhar ele era bom e não tinha mais ninguém...

Lagrimas corriam no rosto de Diana. Não emocionada com aquela morte, mas com a inocência do seu irmão. Ele acreditava na bondade, mesmo naqueles que não conhecia.

A mala estava parcialmente cheia de latas de conserva e garrafas de água. Eles mal acreditavam! Apressados pegaram em água e beberam ávidamente. A sede era descomunal, e parece que crescia a cada golo que davam.

Saciados, eles levaram a mochila para o exterior, pois já brilhavam os primeiros raios solares e o cheiro fétido era já insuportavel.

Encontraram cerca de dez latas de comida variada, cinco garrafas de água e alguns chocolates. Dividiram os mantimentos pelas suas mochilas. A irmã mais velha já se encaminhava para o final da rua, quando notou que Henrique olhava para o interior da mala.

-Que se passa maninho? Esqueci algo?

-Bem, sim.- afirmou, apontando.

Diana aproximou-se e viu um papel no fundo da mala. Quando o pegou, viu que se tratava de um mapa, desenhado à mão com cuidado. O mapa mostrava uma localização a nordeste de onde estavam. Uma pequena cruz assinalava um edificio.

- Hum...- murmurou Diana pensativa.- Talvez o abrigo destes bandidos?

- Pode ter mais comida lá, não?

- Pode ser uma emboscada, se existirem mais homens desses por lá.- ela não tinha a certeza se deveria seguir os seus instintos.

- Não temos mais para onde ir...- Henrique insistia.

- Sim... Se contornarmos esses edificios- continuou ela, desenhando um circulo com o dedo- podemos encontrar um sitio alto para nos escondermos e ver o movimento.

Embrulhou o mapa e o colocou no bolso de trás.

A cidade para onde se dirigiam agora não ficava longe, talvez uns dois dias de viagem.

Na cabeça dos dois uma questão gritava. Quem teria morto aqueles homens? E porque não os tinha atacado também?

Enquanto os jovens caminhavam lado-a-lado pela sombra do passeio, um vulto na escuridão de um apartamento observava. O plano estava a dar resultado.

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