Capítulo 4

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Um vulto nas sombras andava lentamente. Pelo meio dos escombros da cidade, ele andava tão devagar que parecia estar em câmara lenta. Estava cansado. Carregava uma mochila de montanha cheia de tralhas e mantimentos suficientes para um mês inteiro, se soubesse poupar.

Ele procurava umas pessoas à um dia. Tinha-os visto à cerca de uma semana e desde então que os seguia. Mas no dia anterior tinha sido retido por saqueadores um tanto violentos e tinha perdido as suas "presas" de vista.

Sabia que não estavam longe, mas aquela era uma cidadezinha não muito pequena, e seria dificil encontrar o seu rastro novamente, principalmente agora que os saqueadores tinham o mesmo objectivo que ele.

Não tinha dormido desde o dia anterior, quando foi cercado pelos bandidos. Foi cercado na entrada do predio onde as pessoas que seguia tinham entrado e fugiu para longe, afastando assim o perigo para longe.

O sol já se punha lá ao longe e o homem via e sentia o frio chegar rapidamente. Era tudo tão rápido, no momento em que o sol nascia o calor ficava intenso, e quando vinha a noite, o frio gelava. Aquele dia em particular estava mesmo muito calor e isso contribuía negativamente para a sua busca.

Enquanto se encaminhava para uma rua transversal à que se encontrava, estagnou na esquina do prédio à sua direita e olhou pelo canto. Tinha ouvido risos e barulho.

Eram eles, os mesmos que o tinham emboscado na noite anterior. Podia ver, mesmo com a ténue luz do sol, já quase inexistente, as roupas e as cores das mochilas daqueles homens.

Não que estivesse com medo, porque ele não tinha nenhum desses sentimentos desde que a sua mulher e filha tinham falecido à alguns anos atrás. Ele estava a estudar a melhor maneira de poder saber o que eles estavam ali a fazer e o porquê daquele burburinho. Já quase adivinhava a razão, mas ainda assim era melhor certificar-se. Não iria entrar em conflito com aqueles desconhecidos se desnecessario. A luz do sol já se extinguira totalmente e usou isso a seu favor.

Muito rapidamente, esqueceu o seu cansaço e esgueirou-se para o outro lado da rua por entre os resquicios dos veículos daquela rua. Pousou a sua mochila dentro de um dos automoveis, na parte dos passageiros traseiros, e foi relativamente facil, visto que este carro não tinha vidros.

Retirou a sua Katana japonesa, arma que utilizava para matar silenciosamente, e por percaução, colocou um pequeno revólver na parte da frente do cinto. Tinha tirado o seu sobretudo negro para facilitar o movimento. Teria de ter toda a elasticidade possivel, porque usar uma arma corpo-a-corpo como aquela espada assim o exigia.

Como um verdadeiro ninja, ele foi aproximando-se do lugar onde os homens tinham estado. Quando se aproximou da porta daquele edificio, viu que estava encostada, facilitando a sua audição. O barulho era descomunal, ouvia moveis a ser arrastados, coisas a serem partidas, e os risos. Os risos nojentos, vindos de homens nojentos. Eles estavam entusiasmados, até demais para notarem a sua presença. Aquele lugar estava demasiado escuro para aqueles homens repararem num vulto negro de metro e noventa segurando uma Katana e tremendo de raiva. Naquele piso encontrava-se apenas um deles, e este olhava repugnado, apontando a lanterna para uma carcaça humana, que estava pendurada dentro de uma cela.

Agora que reparava, aquele lugar servira de matadouro para alguém doente. O cheiro a carne podre era insuportavel. O chão tinha sangue seco, o que dava a entender que aquelas atrocidades já teriam acontecido muito antes de eles lá terem entrado.

-O que raio se terá passado aqui?- perguntava o homem, numa voz grave e rouca, apontando a lanterna às restantes celas.

O que se passou a seguir foi demasiado rápido para o raciocínio do homem rouco. Quando percebeu um movimento atras dele, sentiu uma dor aguda nas costas. Sem que se pudesse virar, apontou a lanterna para o seu proprio peito e viu a ponta ensanguentada de um gume de espada. Quando a lanterna tocou o chão, aquele homem já estava morto.

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