Capítulo 3

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O amanhecer chegou bem mais rápido do que os jovens sobreviventes queriam. Neste mundo, em que o clima estava desregulado, o sol batia forte e o calor era abrasador. Sem brisa alguma, era por vezes, praticamente impossível sair de um qualquer abrigo à sombra. Este era um desses dias. Este foi o dia em que a vida dos dois, Diana e Henrique, mudou para sempre.

-Mana,- começou o mais jovem- a nossa água acabou e estou cheio de sede.- falou implorando.

-Sim, e está assim!- respondeu, levantando a mão apontando para o céu.- Como vamos sair daqui assim?

Estavam ambos na soleira da porta do edifício em que tinham pernoitado, na sombra.

-Não podemos ficar aqui, iremos assar vivos, mas se não encontrarmos água, podemos desidratar drasticamente...- Diana estava quase desesperada.

O dia anterior tinha sido algo suportável e ela tinha rezado, em vão, para que o seguinte fosse igual.

-Vamos fazer como de costume, de prédio em prédio.- disse ela.

Os jovens tinham adoptado uma tática simples, mas eficaz. Entrariam em todos os edificios, tanto para procurarem mantimentos, como mantendo-se o maximo possivel na sombra. Muito embora fosse um tanto desagradável sair nesse tempo, se não o fizessem, morreriam numa questão de horas.

Percorreram cerca de metade daquela rua, até que se depararam com uma cena assustadora. Não estavam sozinhos ali.

-Vamos Henrique, rápido!- gritou Diana ao pequeno rapaz. Com um movimento brusco, puxou o irmão pelo colarinho para dentro do edificio onde se encontrava e fechou a porta com estrondo.

-Eles viram-nos!- gemeu Diana desesperada- Eles viram-nos entrar aqui!

-Mana, olha para isto!-disse Henrique, que estava de costas para a porta, enquanto a irmã ainda a segurava, tremendo.

Ao ver os olhos arregalados do irmão, Diana virou-se num ápice e escancarou a boca, horrorizada.

Com uma rapidez notável, ela tapou os olhos do pequeno, que já choramingava. Ao que parecia, tinham entrado numa esquadra antiga da policia , pois de onde se encontravam, conseguiam ver as celas por detras do balcão. A cena era perturbadora.

Dentro das celas, jaziam alguns cadáveres amontoados aleatoriamente, como sacos de batatas. Só depois de se depararem com esta visão é que o cheiro nauseabundo lhes chegou ao nariz. A esquadra era composta por cinco celas ao comprido da única sala daquele andar e todas elas tinham corpos espalhados, e apenas uma delas, a mais próxima das escadas que davam acesso aos restantes andares, tinha apenas um corpo. E talvez fosse aquele corpo pendurado por um gancho, como um pedaço de carne no talho, que tornava toda aquela visão tão horrenda. Estava decapitado, e aberto do peito às virilhas. As visceras ainda estavam penduradas, mas roçavam o chão enegrecido de sangue seco.

Diana segurou com força o pequeno, virando-o para si.

-Faças o que fizeres, mantêm o teu olhar em mim e nunca o desvies, entendeste?

-Mana, o que é isto?- repetiu Henrique assustado.

-Não desvies o olhar, vamos para os andares de cima, não podemos sair mais por aqui.

Num passo acelerado, os dois percorreram aquela sala saída dos filmes de terror e logo se apressaram ainda mais a subir as escadas. No andar superior não havia nada de interessante, parecia serem escritorios. Quem quer que tenha feito aquelas atrocidades, manteve a sujeira la em baixo. Todos os restantes andares eram iguais, e quando chegaram ao ultimo, como uma benção, Diana sorriu. "Armazem de armas e provas" dizia um placar ao lado da porta.

-Não podia ser mais propício...- ofegou a jovem mulher, escancarando a porta de forma muito pouco delicada. O ânimo de Diana foi de sol-de-pouca-dura, pois o armazém estava virado de pernas para baixo. Várias caixas rotuladas estavam espalhadas pelo chão, vários sacos de plastico transparente jaziam pelo chão, em conjunto com papeis e documentos.

Sem avisar, um estrondo veio de lá de baixo, e várias vozes fizeram ouvir-se. Gritos e barulho de confusão cresciam a cada segundo e Diana sabia que os seus perseguidores estavam a vasculhar todos os andares, eventualmente iriam parar ao ultimo.

-Rápido, ajuda-me a fazer a barricada!- pediu ao menino assustado.

Fecharam a porta, pegaram numa secretária velha e pesada que estava ali perto e a colocaram a impedir alguém de entrar ali. Algumas estantes partidas reforçaram a barricada e daí a pouco eles estavam seguros. A respirar pesadamente, os dois investiram na demanda já esperada desde que ali entraram. Encontrar a saída. Diana sabia que estavam condenados, pois ninguém no perfeito juízo colocaria uma saída de emergência no depósito de armas. E não havia mesmo. Estavam cercados. Ainda assim, não estavam totalmente desprovidos de sorte. Bem nos fundos da ampla sala, estava um armario entreaberto, e la dentro tinha duas caixas verdes escuro. Com o coração aos pulos, Diana logo as abriu e encontrou a sua ultima salvação. Quem quer que ali tenha estado, ou não teria necessidade ou não seria suficientemente esperto para levar duas GLOCK's 9.00 mm. E munições não faltavam. Se eles fossem emboscados ali dentro, não iriam ser levados ou mortos sem luta.

E a luta iria começar em breve, pois ouviram o mexer frenético na maçaneta da porta.

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