Capitulo 8

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Bob levantou-se com uma moleza demasiado incomum naquele dia. Ficou um pouco sentado no fundo da cama, com o rosto entre as mãos a pensar na noite anterior.
<<Que noite e tanto!>> pensou, levantando-se lentamente, enquanto afastava a cortina da pequena janela. Lá fora observava o movimento da cidade. <<Como formigas...>> O transito continuava caótico, e as pessoas continuavam naquela rotina de correria incessante.
Gostava de ficar ali uma meia hora olhando as ruas e os seus habitantes nas suas vidinhas, era relaxante.
Dirigiu-se para a casa de banho e num relance, olhou com desprezo para o telemovel na mesinha de cabeceira, apostou para consigo numas vinte chamadas não atendidas.
Saiu de casa e naquele dia não encontrou os usuais vizinhos barulhentos no rés-do-chão. <<Que familiazinha confusa.>> Dirigiu-se para aquela loja tão conhecida de cafés, e salivou ao pensar nos donuts. <<Nunca percebi porque associam sempre policias e donuts... Não os comem todos?>> Pensou ironicamente.
Como era o seu dia de folga, iria passar a manhã inteira naquela loja, e com um pouco de sorte ainda metia conversa com a menina da caixa.
Ouvia as sirenes lá fora e o seu coração sobressaltava a cada carro azul e branco que passava lá fora.
Enquanto almoçava, Bob lia o rodapé do noticiário da tarde. Frases rápidas sobre a crise, a guerra no médio oriente, e como seria de esperar, a falta de medicamentos.
Agora que estava bem desperto, lembrou-se de várias e muito mais constantes transmissões do rádio da polícia em que se pedia muitas vezes reforço policial nas farmácias locais. Pelo menos uma vez por dia era despachado um carro para assegurar que a situação não saía do controle.
Pediu a conta e saiu para dar uma volta pelo quarteirão. Planejava ir visitar a sua mãe ao lar de idosos no outro lado da cidade.
Outro pequeno tremor de terra quase imperceptível. As sirenes iam tocando ao longe.
Passaram trinta minutos até que estivesse de frente para a fachada do tão conhecido Senior's Care, de aspecto um tanto quanto tenebroso. Havia sido um sanatório, uma prisão para maluquinhos nos tempos da segunda grande guerra. Agora restaurado, apenas tinha um ar mais limpo, mas a estrutura imponente ainda se mantinha original.
- Bom dia!- Bob comprimentou a senhora que estava habitualmente atrás da secretaria, de cara enfiada no ecrã do computador.
- Sr. Morris, que bom vê-lo, a sua mãe está no jardim de trás, insistiu que hoje tinha de podar as flores, pois os seus clientes podiam machucar as mãos em algum espinho.- disse brincalhona.
- Uma vez botânica, sempre botânica.- respondeu, retribuindo o sorriso, e encaminhou-se para as portas ao fundo do corredor imediatamente por detrás da recepção.
Como estava um dia limpo e com um sol quente, mal abriu a porta do jardim, sentiu o tão característico cheiro a pólen inundando-lhe as narinas.
- D. Ana, você não pode andar por aí com um alicate de poda, ainda se machuca.- uma das enfermeiras andava atras de uma senhora baixa, de corcunda e cabelo grisalho e encaracolado.
-Enfermeira, permita-me.- pediu Robert educadamente, fazendo sinal para que se afastasse.
-Calêndulas.- disse a idosa.
-Diga mãe?- perguntou confuso.
-Calêndulas.- repetiu calmamente- Interessante que estão tão dificeis de encontrar. Conheces esta planta Bob?
-Bom, nem por isso mãe, mas deixe isso agora para lá, estas meninas estão...
- Calendula offininalis, umas plantinhas cheias de amor para dar, não é minhas queridas?- continuou, enquanto afagava amavelmente as suas petalas.
- Mãe, por favor, deixe isso de lado, você sabe que não pode andar por aqui a tratar do jardim- retorquiu passando o punho na testa, limpando o suor que escorria, estava bem abafado ali.
- Querido, foi "isso" que te limpou muitas feridas que fazias no tempo da escola. E foi "isso" que tirou todo o teu acne para ires ao baile de finalistas com a Margeret...- respondeu a senhora com um grande sorriso.
- Sim mãezinha, é verdade, mas por favor, venha comigo à cafetaria um pouco, deixe estas meninas sossegar por um bocado- pediu enquanto tirava a tesoura ta mão da mãe e entregando prontamente à jovem enfermeira.
Tinham sido situações como aquela que levaram Robert a optar por colocar a sua mãe naquele lugar. Enquanto se dirigiam à cafetaria do lar, Bob ia se lembrando de uma vez que ela tinha invadido o jardim de uma casa e dar um sermão de como aparar a cerca viva aos donos da casa. Repetia varias vezes que não deviam cortar de aparadora eletrica, mas de tesourão, porque o barulho da serra stressava a planta e a fazia murchar mais depressa.
Robert sentia culpa por a ter posto ali, mas quando os acessos começaram a ser mais frequentes, ele tinha de parar o seu trabalho, para se dirigir à casa de alguém e pedir desculpas aos proprietários, só porque eles tinham de parar de usar adubos de supermercado.
Naquele lar, sem contar com o seu aspeto exterior, Robert sentia uma certa paz, algo que era otimo para a sua mãe, um sitio de descanso. E as pessoas que lá trabalhavam eram muito competentes e atenciosas. Ela estava em boas mãos, mas ainda assim, o sentimento de culpa era maior.
Perto do fim do dia, despediu-se da mãe com um beijo na testa.
- Esta semana estou cheio de trabalho mãe, por muito que goste de a vir visitar, a cidade anda um caos e preciso dedicar-me mais ao trabalho. Amo-a muito, mãezinha.
Ana respondeu com um sorriso.
O céu ia escurecendo e um barulho de fundo ia tornando-se maior enquanto caminhava de volta ao centro da cidade.
<< Ás vezes é bom viver nesta confusão...>> -refletia enquanto era engolido pela rotina citadina novamente.

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⏰ Última atualização: Aug 04, 2017 ⏰

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