A Minha Última Esperança

#8

Lucifer deu por si parado à porta da casa dela nesse final de tarde. Depois de algumas horas coletando garrafas de bebida e limpando a sala de estar da sua bagunça idiota. Ele tinha dispensado os empregados, incluindo a Maze, para chafurdar nos seus sentimentos desconhecidos e dor então teve de fazer tudo sozinho. Ele cuidou de si como já não fazia a alguns dias e galopou para encontrar Chloe novamente. Ele não sabia o que fazer ou dizer, mas ele queria estar com ela. Talvez ela tivesse mais respostas sobre o amor... ele ainda achava essa ideia absurda, mas o aperto que se seguiu com a sua saída e as dúvidas que se instalaram eram contraditórias.

Ele bateu ansioso. Ele ouviu movimento juntamente com o choro da cria. A porta abriu revelando Chloe com um aspeto um pouco mais desleixado e uma menina muito descontente nos braços. "Oh Lucifer... eu pensava que virias amanhã." Ela corou um pouco. Levando a mão ao cabelo e ajeitando uma madeixa que escapou do seu penteado agora praticamente arruinado. Madeixas douradas emolduravam o seu rosto e ela não parecia ter sucesso em corrigir com a menina barulhenta por perto. Ele adorou ver Chloe assim, parecia mais natural e bonita. "Entra. A Trixie não está a cooperar ultimamente. Os dentes estão finalmente a aparecer." Ela explicou.

Lucifer entrou. Os gritos de Trixie enchiam a casa, Chloe parecia exausta ao caminhar com a menina pela sala. Farto do incessante choro Lucifer aproximou-se. "Posso?"

Chloe olhou entre ele e a filha antes de avaliar a situação. Ela entregou a menina nitidamente desesperada para acalmar não só a filha, mas também a dor de cabeça. Quase imediatamente a menina percebeu a mudança e o chorou foi ficando mais suave. Chloe suspira.

Enquanto balançava a menina, Lucifer olha para Chloe o que a faz corar. Poucas horas passaram e com a crise de Beatrice ela mal teve tempo para pensar nos seus atos. Ela beijou o diabo e o diabo beijou-a de volta. Aquilo era mesmo real? Ele tinha mesmo sentimentos por ela como parecia. "Eu preciso me refresca, volto já." Chloe saiu subindo a escada que levava para o seu quarto e fechou a porta. Ela estava a levar tudo bem demais, mas como poderia ser diferente quando tudo o que ele lhe transmitiu foi segurança?

Ela notou a sua aparência desgrenhada e corrigiu-a rapidamente antes de lavar a cara na pia. Depois de se secar notou novamente a sua aparência. Ela tinha mudado um pouco após a morte de Marcus. Ela parecia mais bonita e descontraída. Ela já não se vestia como uma dama rica, pois não tinha interesse nessa formalidade e ninguém a conhecia naquela zona.

Apesar de ainda escolher os vestidos com tons mais escuros ela sentia-se preparada para tentar novamente as cores mais claras. Não apenas por ela, mas pela alegria que a filha lhe dava. Ela olhou para a mancha que Beatrice causou no decote do vestido, ela devia trocá-lo. Ela procurou algo mais simples na arca e encontrou um antigo vestido que ela tinha guardado de quando era solteira. Ela amava o tom azul e os bordados, era fora de moda, mas ela não tinha de se apresentar a ninguém que não fosse Lucifer. E ele já a tinha visto de camisa de noite e com vomito de Beatrice em cima por isso não tinha muito a acrescentar.

Ela olhou-se no espelho. Sentia-se simples, mais jovem e encantadora. Ela começou a perceber porque os jovens da sua aldeia a olhavam. Ela parecia bem com qualquer coisa e isso sempre chamou a atenção de qualquer homem. Ela desceu as escadas para encontrar Lucifer com os braços esticados mantendo a Trixie o mais longe possível de si.

Assim que se aproximou ela percebeu. Uma fralda para trocar, ela entrou em ação levando a menina dele com um sorriso travesso. O diabo realmente era um amador com crianças, mesmo que a pequena adorasse estar nos seus braços.

Pronta para mais um ataque Chloe devolveu Trixie a Lucifer. A menina meteu as mãos na boca e depois começou a tatear Lucifer que lhe deu um olhar de desgosto. "Não sei se estas manchas de baba vão sair."

"Não te preocupes, a roupa vai ficar bem." Ela diz para ele.

oOo

De noite a menina já estava adormecida no seu quarto. Chloe voltou para a cozinha limpando tudo o que podia e Lucifer apenas a acompanhou sentindo-se doméstico com a visão.

"Já é tarde, não terás problemas em retornar na escuridão?" Ela perguntou.

"Eu consigo cavalgar na escuridão."

Ela limpou as mãos numa toalha depois de servir dois pratos de frango e arroz. Era simples, mas saboroso e ambos podiam falar durante a refeição que à luz das velas e completamente sozinhos parecia tão romântica.

Ela olhou para ele enquanto se sentou. "Esse vestido fica-te muito bem." Ele diz.

"Obrigado." Ela corou ligeiramente.

"Sobre esta tarde..."

Ela olhou para ele intensamente. "Não tem de significar nada Lucifer." Ela suspirou ao perceber a confusão dele. "Tu és... mais velho do que posso pensar, imortal e... e estás de férias na Terra não tens de te preocupar com uma humana que provavelmente vai morrer algum dia e com uma filha anexada." Ela bebe um pouco de água. "Nós vamos ficar bem."

"É um pouco tarde, eu já prometi que cuidaria dela se algo acontecesse." Eles ficaram em silêncio por algum tempo. A meio da refeição ele tomou coragem e pegou a mão dela sobre a mesa. O diabo tinha de tomar coragem... ridículo. Porque tinha de ficar tão nervoso e incerto perto dela? "Mas e o calor no peito e o formigueiro na mão?" Ela olhou para onde a mão dele roçava os seus dedos dela. Parecia correto e verdadeiro, mas como poderiam?

"Eu posso mantê-los para mim se for preciso." Ela afastou a mão dele e não ousou olhá-lo nos olhos.

"Eu quero sentir." Ele diz fazendo-a olhá-lo. "Eu quero continuar a sentir-me assim perto de ti. Parece certo e eu não consigo me afastar... eu não posso e não quero fingir. Se é amor que seja, mas eu vou ficar enquanto permitires."

"Lucifer..."

"Deixa-me terminar. O que eu quero dizer é que eu gosto de como me fazes sentir. É estranho e diferente, mas é bom. Antes eu tinha aquela sensação de vazio, mas depois que te conheci eu não me sinto tanto assim."

"Mas tu vives rodeado de pessoas."

"Mas nunca ficam."

Ela dá-lhe um sorriso triste. "Compreendo." Chloe compreendia o que ele queria dizer. Ele era rico, as pessoas apareciam por conveniência. Apenas para pedirem favores. Eles continuaram a refeição que estava quase a terminar. Ele provavelmente voltaria para uma casa sozinho. "Queres ficar esta noite?" Ela oferece. "Eu posso ficar no sofá."

"Eu não quero ocupar a tua cama. Não sem ti." Ele diz.

Ela sente o rosto aquecer num segundo. Ele estava mesmo a sugerir que dormissem juntos? "Não sei se é uma boa ideia."

"Bem o diabo não morde minha querida, apenas de pedires bem." Ele pisca para ela.