20° Capítulo

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Malea

Acredito que todos nós sabemos que Família é um conjunto de pessoas unidas por laços sanguíneos com os mesmos objectivos e propósitos. Pelo menos foi essa a definição que eu aprendi no 4° ano e é também a que eu levei em conta por anos, até perceber que nem sempre a família é composta por pessoas com o mesmo laço de sangue. Com o tempo, eu acabei por perceber que os nossos amigos mais próximos também podem ser considerados como sendo a nossa família, ou mesmo a turminha da escola que é praticamente composta pelas mesmas pessoas por vários anos e acabam por criar um vínculo. Portanto, o conceito de família é demasiado relativo e vai de acordo ao estilo de vida e aos princípios de cada um. Porém, uma coisa é certa: Existem diferentes tipos de famílias no mundo inteiro e cada uma tem a sua característica que faz com que se tornem únicas.

E a minha família não está isenta desse critério.

O que diferencia a minha família das outras é a nuvem de insanidade que paira sobre a cabeça de cada um dos membros, fazendo com que qualquer pessoa que passe na rua e nos veja juntos, pense que nós somos um grupo de adultos e crianças que fugiram de um hospício. Só para vocês verem o nível de maluquice que há dentro da minha família.

-Pois e ela foi presa no fim de semana passado, não é incrível?- O meu tio mais velho, irmão da minha mãe, finaliza a sua história sobre o dia em que uma velhota de quase 60 anos bateu na parte de trás do seu carro e a polícia nada fez. Confuso, certo?

Mas calma, não acaba por aí, meus amigos.

Uma semana depois do ocorrido, ele veio a descobrir que a senhora inocente de 60 anos de idade havia sido presa por posse de drogas ilícitas. Ou seja, o carma decidiu estar a favor do meu tio fazendo com que a "pobre" senhora não fosse presa por destruir o carro do meu tio, mas que fosse presa por estar a fazer coisas que sequer eram ainda apropriadas para a sua idade.

-Mereceu e bem, velhota sem vergonha!- Um dos meus primos exclama, sendo seguido com anuíres de concordância por parte dos outros familiares presentes na pequena roda de conversa.

Eu olho para eles sem acreditar nas suas atitudes desprovidas de misericórdia e abano a cabeça em desaprovação.

-Tio, desculpe mas...tem alguma outra história que não envolva acidentes de carro e velhotas a serem presas?- Eu pergunto meio sarcástica e torço para que o meu tio não perceba isso, pois ele consegue ser bem chato quando quer.

-Eu creio que na...JÁ SEI!- Ele exclama de repente fazendo com quase todos se sobressaltem em seus assentos pelo susto.- Vou contar-vos do dia em que estive envolvido em um assalto a um banco e acabei por dormir com a recepcionista de lá.- Ele sorri com orgulho e metade dos meus primos, inclusive eu, fazem cara de nojo.

À essa altura, já todas as atenções da festa estavam sobre a nossa mesa e demasiados olhos voltados na nossa direção já começava a incomodar-me, causando-me uma pequena vergonha alheia. Alguns dos meus primos– mais especificamente aqueles que não são demasiado assanhados para idade a ponto de ficarem a ouvir a história do meu tio– e eu, começamos a retirar-nos dali, deixando aquela conversa apenas para os adultos. Direcionamo-nos todos para um pequeno parque que há à alguns metros da casa e decidimos sentar-nos lá para poder colocar a conversa em dia.

Eu sento-me sobre um dos baloiços vazios que há ali e uma prima minha mais nova que eu uns dois anos, a Kátia, senta-se no baloiço ao lado. Os outros espalham-se pelos outros brinquedos meio envelhecidos pelo tempo e entramos numa conversa descontraída sobre as nossas próprias vidas. Éramos 10 ali presentes, contando com Kénia e Malik, e todos tínhamos a mesma faixa etária tirando a Kátia, o Malik e um outro primo, André, que tinham 16 anos apenas.

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