Após caminhamos um pouco logo chegamos na sede da Õkami, um casarão imponente e antigo, construído seguindo os padrões dos antigos prédios asiáticos. Um local bonito, porém, muito bem guardado por muitos guardas, mesmo não sendo vistos.
Assim que chegamos Tomás põem a mão em meu ombro e me impede de subir a escadaria da entrada.
- Sei que está irritado, mas pelo que entendi deveria pensar seriamente em se afastar da Õkami e ir ajudar seu pai.
Respiro fundo e suspiro antes de me virar para ele.
- Eu sei, apenas... acho que estou com receio em voltar. Sabe como aquele lugar ficou após a morte dela.
- Eu sei Rukasu, mas sinto em lhe dizer que após tantos anos ouvindo esse mesmo argumento começo a pensar que isso se transformou em desculpa para você não fazer nada.
Olho com espanto para ele, apesar de sua expressão seria vejo a preocupação em seus olhos. Tomás sempre foi bom em me dar conselhos e sermões, porém dessa vez a verdade que me diz parece mais como um soco.
- Não me olhe assim, sabe que é verdade. No fundo você sabe que está apenas inventando desculpas para se esconder.
Não consigo mais sustentar seu olhar, me viro e saio andando da mesma forma ele sobe a escadaria e entra no prédio. Ando pelas ruas da cidade sem rumo apenas pensando e me perdendo em lembranças.
Não sinto raiva daquilo que Tomás me disse, até porque no fundo sinto que é verdade apenas não admito. A morte de minha mãe, seis anos atras, afetou todo o império, além de ter sido uma ótima mãe também foi uma exímia Imperatriz. Ela sabia de tudo, desde como organizar o palácio até estratégias de guerra, eu a admirava e a tinha como exemplo. Meu pai a amava mais que tudo e sempre pedia a opinião dela nos assuntos do império, meus irmãos assim como eu a idolatravam e seguiam seus passos. Sua morte pegou a todos de surpresa, não por ser precoce, mas pela brutalidade com que foi feita. Nunca esqueci o dia em que entrei em meu quarto e encontrei um pequeno baú em cima de minha cama, quando o abri vi seu coração dentro, seu corpo havia sido esquartejado e diferentes pedaços foram entregues a cada um de seus filhos e esposo, com exceção de Daniel, meu irmão caçula. Meu irmão Marcos estava indo treinar arco e flecha, quando ele chegou ao galpão de treino viu os olhos de nossa mãe perfurados pelas flechas de sua aljava, Leonardo estava indo treinar esgrima quando encontrou sua espada sendo segurada pelo braço de nossa mãe, sua mão estava fechada sob o punho da espada. Nosso pai acordou em sua cama sentindo os lençóis molhados, ao abrir os olhos se deparou com a cabeça dela cuidadosamente colocada sob o travesseiro.Nunca nos recuperamos, e nunca entendemos como tudo aconteceu. A cabeça de minha mãe foi posta no travesseiro ao lado de meu pai, na mesma cama, como ele não acordou? Como ninguém viu o que aconteceu? Por que aquilo tudo aconteceu? Por que ela foi morta? Todas essas perguntas e muitas outras martelaram na cabeça de todos do império por anos.
O único que se salvou de tais visões foi meu irmão caçula Daniel, que na época estava na casa de nosso tio. Reynard era irmão mais novo de nossa mãe e o único parente vivo que ela tinha, foi um choque imenso para ele ao saber da morte dela, ele chegou a acusar meu pai de tê-la assassinado e jurou que se vingaria de quem quer que tenha feito isso, independente de quem fosse.
Comecei a pensar no que meus irmãos disseram e no que aconteceu a 10 ano atras, não queria desconfiar de meu tio porem ele é a pessoa que mais tem motivos para querer se vingar de meu pai. O problema dessa teoria era meus irmãos, nós quatro éramos apenas crianças na época por tanto não existe motivos para ele achar que meus irmãos e eu temos algo a ver com a morte dela, a menos que seus objetivos não fossem vingança e sim tomar o trono. Essas teorias a princípio fazem sentido, no entanto ainda existe o conselho e a õkami, se meu tio quisesse tomar o trono para si primeiro teria que matar meu pai, mas para isso precisaria tirar a õkami de perto dele, o que teoricamente ele já está fazendo, mas ainda sim teria meus irmãos no caminho. Com a morte de meu pai tanto o Leonardo quanto Marcos poderiam assumir o trono, Leonardo tem o apoio do exercito imperial e Marcos o favoritismo, questionável, do conselho, seria uma briga entre políticos e militares que poderia muito bem resultar em uma guerra civil. Se ele conseguisse matar meus irmãos ele ainda teria que lidar com o exército, afinal, duvido muito que o Damiao fosse deixar de vingar a morte de seu príncipe favorito.
Suspirei e comecei a retornar pelo caminho que vim, voltando para a irmandade, por hora irei deixar esse assunto para depois, afinal, ainda não estou a par de toda a situação. Não me sinto contente com a ideia de ter de retornar para o palácio, mas pelo visto é o que terei de fazer.
Ao chegar na õkami passo pelo salão e vou em direção as escadas que levam ao andar de cima, ao subi-las passo pela biblioteca e vou em direção ao meu dormitório, entro e decido tomar um banho antes de dormir. Após o banho deito na cama e começo a pensar nos acontecimentos da noite, Ruby logo ocupa todos os meus pensamentos, a garota que não hesitou em querer puxar uma adaga para um oficial da õkami. Virei meu rosto em direção a vela acessa em minha cômoda e a apaguei com um sopro, fechei meus olhos e tentei dormir, acabei por sonhar com um par de olhos cor âmbar.
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Entre Corvos e Lobos
FantasíaAna, Lili, Ruby, princesa, filha ou assassina. Lucas, Rukasu, príncipe ou guardião. Duas pessoas com vidas semelhantes, porem vividas em extremos opostos, um ato de traição do passado unindo seus caminhos. Segredos e uma origem desconhecida sendo re...