Entre Corvos e Lobos

Ruby

Alguns anos se passaram desde a morte de meus pais, 8 anos para ser mais exata. Daquele dia em diante assumi o nome de Ruby, durante a minha tentativa de ajudar meu pai fui impedida por uma guilda de assassinos que me acolheram e treinaram. Talvez tenha sido alguma brincadeira do destino ou os deuses que simplesmente acharam bonito brincar com minha vida, mas depois de alguns anos eu acabei me tornando a melhor assassina dessa guilda.

Nosso líder é um homem que eu considero, a seu modo, justo, mas que tem seu lado negro. Todo em nossa guilda tem os seus parceiros de luta, meu parceiro é o Jeffrey, um cara bonito, com cabelos loiros na altura dos ombros e lindos olhos cor de mel, um pouco musculoso, mas sua qualidade mais marcante é a sua velocidade e agilidade, é também muito inteligente e habilidoso no uso de adagas, porem ele prefere usar uma katana.
Me lembro como se fosse hoje o dia em que ele chegou na guilda, ele era só um garoto maltrapilho e abandonado na rua. Na época todos achavam que ele morreria logo, ninguém acreditaria que ele pudesse se transformar em um dos melhores assassinos da cidade.
Hoje é meu aniversário de 19 anos, Jeffrey me convidou para bebermos na taberna e depois, talvez, caçarmos alguma confusão na cidade. Quando está bêbado Jeffrey costuma falar muitas besteiras e fofocas da cidade, coisas que ele ouvia no mercado ou em algum prostibulo, as vezes isso era até engraçado, quando estávamos na guilda é claro, cercados por nossos "companheiros" de luta, mas do lado de fora isso poderia ser perigoso, alguém poderia ouvir e se irritar. Hoje foi um desses dias. Estávamos sentados em frente do balcão da taberna quando o falatório de Jeffrey atraiu a atenção de dois homens que estavam do outro lado da taberna, um deles era alto e forte o outro um pouco mais baixo porem muito musculoso, isso dois vestiam roupas cinzas e estavam armados com katana. O mais baixo foi para perto de Jeffrey, ouvir o que ele estava dizendo enquanto o outro saia do meu campo de visão.
Eu estava sentada em frente ao balcão quando percebi alguém se aproximar, com o canto do olho observei quando o estranho se sentou ao meu lado. Era o rapaz mais alto, ele usava uma jaqueta cinza escuro com capuz, com um arco e flechas nas costas, percebi com um certo atraso que o que eles vestiam eram uniformes e que provavelmente ele e o outro eram membros da Õkami, os guardas pessoais e assassinos do imperador e sua família. Provavelmente estavam voltando de alguma missão.
- O que uma dama, como você, faz neste antro de perdição? Por acaso a senhorita está perdida?
Ele não se virou para falar comigo, continuou olhando para as bebidas expostas nas prateleiras, porém isso não me impediu de perceber o tom sarcástico na voz dele. Raiva fluiu por mim. Esse Õkami não sabia com quem estava lidando.
- Creio que o que eu faça não lhe diga respeito nobre senhor. Não estou perdida, mas o senhor provavelmente está, quer que eu lhe mostre a saída?
Coloquei um pouco de raiva e sarcasmo na voz ao dizer isso e percebi um pouco de surpresa nele, mas logo passou e ele riu um pouco, o que me surpreendeu, mas a surpresa maior veio quando ele se virou para me encarar e o capuz escorregou revelando um belo par de olhos azuis, tão azuis como safiras, ele parecia jovem, deveria ter no máximo uns 20 anos ou menos, muito lindo com lábios carnudos e um sorriso arrebatador.
- Calma senhorita, mantenha suas garras para si, eu vim apenas beber um pouco.
Ele disse isso com um sorriso lindo no rosto, admito que fiquei encantada com ele, mas não o deixei perceber isso.
- Que seja, apenas não se meta comigo!
Respondi para ele e percebi que o amigo dele não gostou muito do tom que usei, mas resolveu ficar quieto. Me virei para pegar meu copo de cerveja, só para perceber que ele estava vazio. Pedi mais um copo para o garçom.
- Você não acha que já bebeu demais?
Ele me perguntou com um sorriso sarcástico e eu me virei para ele me perguntando por que diabos aquele Õkami estava falando comigo.
- Olha vamos deixar uma coisa bem clara entre nós, você não me conhece, não sabe nada sobre a minha vida e não vai se meter nela!
Bem quando ele ia me responder fui empurrada e acabei caindo em cima do rapaz, levando nos dois ao chão. O rapaz ficou surpreso com aquilo e me olhou de um jeito estranho, tratei de sair logo de cima dele antes que algo acontecesse. Logo que me levantei olhei ao redor e descobri que quem tinha me empurrado era o Jeffrey, que no momento estava engalfinhado em uma briga com o companheiro do rapaz de olhos azuis.
Eu tentei ir ajudar Jeffrey, mas fui puxada para trás pelo rapaz de olhos azuis, ele passou por mim com um olhar de aborrecimento em seu rosto, pensei que ele fosse ajudar seu amigo a bater em meu companheiro, mas o que ele fez foi completamente o contrário. Ele deu um soco em seu amigo e o puxou para longe de Jeffrey. Passada minha surpresa fui ajudar Jeffrey a se levantar, vi que ele estava com um olho roxo e o lábio inchado e sangrando, o cara baixinho tinha feito um estrago e tanto nele.
- É só eu virar as costas que você já se mete em confusão, não é mesmo!? Você não tem jeito Jeffrey!
Jeffrey me olhou de cara feia.
- Só para deixar bem claro o outro cara que começou, e sou eu que estou com a cara arrebentada não você, por tanto fique quieta Ruby!
- Aww, me desculpe por ser tão insensível Jeff, vou recompensa-lo deixando seu outro olho roxo também, o que acha?
Dei um aperto de leve em seu ombro, para mostrar que eu não estava brincando. Nesse momento o cara com quem Jeffrey brigou levantou, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa ele foi impedido pelo seu amigo, o rapaz de olhos azuis, tudo o que ele pode fazer foi nos lançar um olhar de raiva.
- Você conhece este homem?
Quis saber o cara, percebi que ele estava me avaliando e respondi apenas com um olhar de raiva, me levantei e o avaliei também esperando para sacar minha adaga, escondida na manga de minha jaqueta, preparada para o caso dele querer brigar. Se ele quisesse lutar comigo também ia acabar sendo fatiado. Percebi que ele não ficou satisfeito, mas seu amigo de olhos azuis colocou a mão em seu ombro e o impediu de fazer algo.
- Já chega Tomás, isso já foi longe demais. - Logo depois de dizer isso ao seu colega o rapaz de olhos azuis se vira mim. - Me desculpe pelas ações do meu amigo senhorita, ele bebeu muito e isso lhe subiu pela cabeça.
O rapaz de olhos azuis me respondeu, admito que fiquei um pouco surpresa com sua educação, mas não o deixei perceber. Afastei-me de Jeffrey e encarando ele disse:
- Tem que se desculpar mesmo. Aliais quem são vocês? Eu nunca os vi aqui na taberna, temos regras aqui sabiam? Uma delas é "Não mexa com os corvos! ".

- Me desculpe por isso, nós já vamos embora.
Ele me respondeu com um ar de frustração e um pouco de raiva que eu supunha ser por causa de seu amigo.
- E aproposito, meu nome é Rukasu.
Seu nome era de origem oriental, provavelmente por que ele era membro da Õkami. Mas ele não tinha a aparência de um oriental.
Antes que ele pudesse chegar à porta eu o chamei:
- Affs, espera, fique e beba mais um pouco. Eu pago ...
Quando ele se virou para mim eu perdi o folego, seus olhos, que antes pareciam serem duas safiras brilhantes, agora pareciam como dois cristais de gelo, eles estavam quase brancos. Me surpreendi com aquilo, nesse momento um tipo de flash passou em minha cabeça, um tipo de memória, mas foi tão rápido que não pude descobrir o que era. Olhei de novo para os olhos de Rukasu, mas eles estavam de volta ao azul. Um garoto estranho, mas que, depois que olhei melhor vi que ele era um pouco familiar, como um parente que só se vê uma vez na vida. Eu precisava saber melhor quem era esse garoto, e eu ia descobrir.