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As pernas de Annie doíam de tanto correr. A mata ao seu redor era densa e o chão era irregular. O seu pulmão doía, Anne sentia os arranhões dos galhos arderem em seu rosto, seus braços e pernas descobertos. Estava completamente nua.

O suor formava uma camada grossa em sua pele, escorrendo pelas suas costas como meras gotas de água. O cabelo que se soltava do coque estava grudado em suas têmporas e nuca. Annie sentia o pânico a preencher quando ouviu pisadas fortes mais perto do que antes.

Precisava ser rápida. Com o peito doendo, a loira começou a escalar a árvore mais alta que conseguiu achar. Suas mãos e pés se arranhavam da casca áspera da planta, o sangue começando a banhar suas palmas e fazer ela ficar escorregadia.

Quando alcançou o galho mais baixo, Annie lançou-se sobre ele, agarrando-se na madeira e pouco se importando sobre os arranhões e gotas de sangue que se acumulavam em seu corpo. Ela nem mesmo sabia se o que grudava em seu rosto era suor, sangue ou lágrimas. Talvez os três.

A titã apareceu, com as curvas iguais as que Annie se lembrava. Seu corpo coberto de músculos e fumaça quente. O cabelo loiro cobria boa parte do rosto, mas Annie reconhecia aqueles olhos – seus olhos. Trêmula, a garota tentou ficar quieta. A titã viera andando atrás de Annie enquato a garota corria, como se debochasse da sua humanidade.

Agora, parecia farejar qualquer sinal da loira que se agarrava ao galho. Estavam apenas alguns metros de distância, e a folhagem densa fazia Annie se camuflar bem na paisagem. Entretanto, não podia levar muito tempo para que a garota fosse descoberta. Annie sabia o quanto sua forma titã era atenta e talentosa quanto se tratava de achar o que queria.

Com esse pensamento em mente, não levou muito tempo para que os olhos azuis e grandes se fixassem na humana pequena e sangrenta encolhida naquele galho. Com a mão monstruosa, a titã agarrou o corpo magro e descoberto de Annie com uma força sobrenatural. A garota gritou quando teve certeza de que algumas costelas se partiram. Chorava sem controle. Parecia, certamente, patética.

Os olhos da Titã Fêmea a encaravam com uma frieza odiosa indescritível. Annie arranhava a mão do monstro que a segurava, e socava também, tentando ao máximo se libertar, mesmo que soubesse que nada adiantaria.

— Por favor — conseguiu soltar entre soluços. O ar se esvaia de seu pulmão com lentidão, mas Annie não deixava de gritar de dor.

A titã sorriu, debochando de sua dor. Annie sentiu suas pernas petrificarem. Não conseguiu mechê-las. Os gritos ainda saíam de sua garganta. A titã a apertava com força demais, o mundo girava e Annie sentia sua força se esvair. Quando um lampejo azulado e brilhante começou a envolver seus braços e cintura, Annie percebeu o que estava acontecendo: estava sendo transformada num cristal.

— Annie! — ouviu a voz que outrora era calma chamando seu nome.

Com os ombros sendo balançados, Annie abriu os olhos. O único toque que a apertava eram as mãos de Armin em seus ombros. Ele possuía uma expressão de terror nos olhos, o cabelo bagunçado formando uma auréola loira em sua cabeça.

Os lençóis estavam úmidos, assim como a pele de Annie. Seu rosto estava molhado de lágrimas e a garota ainda tremia. A luz das velas era a única coisa que iluminava o quarto.

— Foi um pesadelo — sussurrou Armin, puxando a garota trêmula para seu peito.

Ele ainda estava com a blusa social de mais cedo, embora a mesma estivesse aberta, exibindo o abdômen agora trabalhado do garoto. O Titã Colossal havia transformado seu corpo. As mãos quentes do garoto alisavam as costas de Annie enquanto ela agarrava com as unhas a blusa de Armin.

Quando finalmente conseguiu recuperar o fôlego, afastou-se de Armin com o rosto quente. Provavelmente estava corada, mas tentou não demonstrar se abalar por isso. Olhou para a porta agora aberta de seu quarto.

— Eu... posso perguntar agora por que deixa a porta destrancada? — Armin tentou rir, sem sucesso. — Pode ser perigoso.

Annie agarrou os lençóis. O fato de que o garoto estava de joelhos e ela estava entre suas pernas a deixava estranha. O pesadelo ainda a aterrorizava, mas a presença de Armin... ela piscou.

— Se tranco a porta... — ela sussurrou — me sinto presa — admitiu, envergonhada e com um nó na garganta. — E não consigo dormir.

Um olhar de compreensão invadiu o rosto de Armin. Annie desviou o rosto. Por que ainda não tinha ido embora?

— Você quer conversar sobre o pesadelo?

A garota ficou quieta. Ainda se perguntava o que diabos Armin estava fazendo ali. Ela agradecia por tê-la tirado daquele transe odioso. Daquele pesadelo. Das garras da Titã Fêmea. Engoliu à seco. Armin respirou fundo. Annie ainda tentava não olhar para baixo do pescoço. Ele não parecia notar que sua blusa estava aberta.

— Quando eu tenho pesadelos — ele murmurou, puxando conversa —, parece que eu estou naquele campo de batalha de novo. Estou banhado em sangue e há corpos ao meu redor — o olhar de Armin estava distante. — E... Mikasa está morta ao lado do Eren — Armin engoliu à seco e seu corpo parecia tenso. — E você também.

Annie piscou. O pesadelo de Armin envolvia sua morte. Armin balançou a cabeça.

— Desculpe. Sei que não perguntou, mas achei que talvez se eu te contasse...

— Estou sempre correndo dela — começou Annie. — A Titã Fêmea. E ela sempre me alcança — a sua voz quebrou. Odiava demonstrar vulnerabilidade perto de pessoas, mas Armin... Armin havia mostrado sua própria vulnerabilidade para Annie durante dois anos quando estava no cristal. — E no fim, estou sendo petrificada novamente.

Armin suspirou. Suas mãos foram parar nos ombros de Annie novamente. Ele emanava calor e conforto. As pálpebras pesadas de Annie a desafiavam enquanto a garots tentava manter os olhos bem abertos e olhando nos olhos do loiro na sua frente.

— Marley realmente acabou com você — sussurrou Armin.

— Você não sabe nem da metade — Annie sussurrou de volta.

— Bem — ele continuou. Ambos pareciam completamente cientes da proximidade em que estavam e Annie só conseguia pensar sobre os joelhos de Armin se enterrando nas laterais de seu corpo. — Agora você está segura. Marley não tem mais motivo para atacar ou comandar você.

Certamente, Annie se sentia segura. Mas apenas ali. E não fazia ideia do motivo. Apenas sabia que a quentura que Armin emanava era inebriante. Não estava exatamente ciente do que estava fazendo quando suas mãos foram para o peito de Armin, se inclinando para perto.

Ele não recuou. Annie sentia uma parte de seu cérebro a dizendo para se afastar, ir para longe do calor. Mesmo assim, a loira agarrou o colarinho de Armin, que arquejou, surpreso. As mãos do garoto desceram para as omoplatas nuas de Annie, e a garota estremeceu.

Era como se um laço invisível os segurasse, amarrasse e apertasse Annie e Armin cada vez mais perto. Com o polegar desenhando o contorno da boca de Armin, Annie sussurrou:

— Acho que você deveria ir...

Armin respirou fundo. Os olhos castanhos fixos na boca da garota.

— Talvez fosse melhor eu ir — ele murmurou enquanto uma de suas mãos moviam-se até a cintura da garota. Annie engoliu à seco. — Você está certa. Melhor eu ir...

A garota escorregou suas mãos pelo peitoral de Armin, que estremeceu sob seu toque. Quando Annie recolheu sua mão, Armin também tirou sua mão da cintura dela.

— Você consegue dormir?

Não, Annie pensou. Não consigo, porque você não sai da minha cabeça estúpida. Entretanto, Annie fez que sim com a cabeça. Armin mordeu o lábio inferior enquanto se levantava da cama. Ele parecia completamente alheio ao efeito que a sua imagem causava nela. Annie piscou para longe enquanto ele alcançava a porta e saía, para o quarto ao lado.

𝑚𝑦 𝑦𝑒𝑙𝑙𝑜𝑤 {𝐚𝐫𝐦𝐢𝐧 + 𝐚𝐧𝐧𝐢𝐞}Onde histórias criam vida. Descubra agora