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O som dos socos cruzando o ar e batendo no couro de forma seca ecoava pelo quarto de Annie. Os dedos já se encontravam doloridos e vermelhos, provavelmente iriam começar a sangra em breve, mas era uma dor a qual Annie estava acostumada. Uma dor que trazia a sensação de nostalgia de volta ao peito. Pelo menos sentia algo.

Havia pedido para alguns funcionários do navio que trouxessem um dos sacos de pancadas do navio no seu quarto. Tinha sorte de o navio ser utilizado antigamente para transporte das Tropas: havia vários instrumentos de treino que a garota podia usar. Com graciosidade, Annie chutava e esmurrava o saco, sem piedade. O objeto já estava velho, alguns rasgos se encontravam nas extremidades das costuras. 

A mente viajou. Lembrou-se da vez que lutara com Eren. Os olhos receosos do garoto a encaravam com curiosidade na primeira vez que estavam parados frente a frente, quando ainda eram cadetes. Os olhos que se tornaram opacos anos depois. Olhos que foram mortos pelo tempo e pelas suas escolhas. 

Engoliu à seco. Os olhos que se tornaram iguais aos dela. Sabia que havia passado por muita coisa, ambos tinham. Todos tinham, na verdade. E o plano que Annie seguira desde o início, apenas iria contribuir para tudo aquilo continuar acontecendo. Sentia uma pontada de culpa. Pela sua mente, pessoas como Marco sempre apareciam novamente. Especialmente em alguns pesadelos especiais, onde a culpa a dominava.

Quando estava quase dormindo, conseguia ouvir a voz de Marco e seus gritos enquanto o titã o devorava. Parecia que estava de volta naquele telhado com Bertholdt e com Reiner... 

Annie socou de mal jeito. A mão escorregou pelo saco de pancadas, o pulso entortando e uma pontada irradiando do seu pulso até o cotovelo. Annie gritou de dor. Segurou o pulso com cuidado enquanto agachava-se. A dor preenchia seu braço e a garota gemia fraco.

Segundos depois, passos pesados ecoaram pelo corredor antes de um loiro de olhos castanhos e preocupados abrir a porta. Armin olhou para Annie agachada no chão e voou para perto, agachando-se ao lado de Annie.

— O que aconteceu? — ele perguntou.

— Mas que diabos? — Annie sibilou. — Você está me espiando, por acaso?

Armin ignorou a pergunta, pegando a mão de Annie. A dor irradiou novamente pelo braço e a garota soltou outro gemido de dor. A mão ainda fechada em punho, Annie seu pulso começaria a inchar. Com certeza tinha torcido: não conseguia mexer direito.

— Mas de quem foi a ideia de colocar um saco de pancadas aqui?

— Minha — a garota respondeu, cortante e fria como uma lâmina.

Armin ficou calado. A garota se perguntava se ele a achava imprudente ou se entendia seus motivos. Mas, decidiu por fim que não se importava com isso. Armin sempre a conheceu dessa forma, não era como se ela fosse mudar da noite para o dia só porque o seu fluído espinhal era como o de uma pessoa comum agora. 

— Você não me respondeu — ela disse, em tom acusativo. — Está me espionando agora?

— Não — Armin balançou a cabeça. — Como você sabe, meu quarto é do lado do seu. Eu... só ouvi você gritar. Vim ver se estava tudo bem.

— Estou bem — disse Annie, puxando sua mão de volta. No mesmo momento, arrependeu-se, pois deixou sair outro grito quando mexeu o pulso. Com certeza estava machucado.

— Ok, deixe-me lhe ajudar a imobilizar o seu pulso — Armin disse, tentando ajudar Annie a levantar-se.

— Não, eu posso fazer isso sozinha — ela disse, levantando-se com dificuldade do chão enquanto segurava a própria mão contra o peito. Ouviu o barulho da porta do quarto se fechando.

𝑚𝑦 𝑦𝑒𝑙𝑙𝑜𝑤 {𝐚𝐫𝐦𝐢𝐧 + 𝐚𝐧𝐧𝐢𝐞}Onde histórias criam vida. Descubra agora