Custo de oportunidade

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No mundo dos negócios existe um conceito chamado "custo de oportunidade". Todo mundo que trabalha com gestão de projetos conhece o momento em que se precisa escolher, dentre duas oportunidades, aquela que receberá o investimento – a escassa verba que a empresa libera para cada projeto, ou que financiadores estão dispostos a investir. Ao escolher um projeto, os preteridos representam chances que se foram, e seus possíveis sucessos são um custo para a empresa – o custo do investimento no projeto escolhido.

O custo do que foi preterido pode assombrar um gestor e uma equipe por anos. Principalmente quando a oportunidade é escolhida por outro investidor e se mostra mais frutífera do que aquela que foi executada pela empresa.

Em toda a minha vida, esse conceito me persegue. Desde o custo de ter optado por um x-box e não conhecer o final da saga de God of War, até o custo de ter feito alemão na faculdade, ao invés do tão útil inglês, ou de ter adotado um pequeno gatinho vira-lata ao invés daquele cachorro lindo, mistura de husky com pastor e que está em uma casa grande, com um quintal maravilhoso e duas crianças que brincam com ele o dia todo – nesse caso, quando passo por ele a caminho da padaria, fico feliz de ter escolhido o gato; para o cachorro, o custo de oportunidade de ter ido morar comigo é muito inferior aos lucros que ele tem agora.

Mas eu não consegui ficar em paz com o custo de ter te deixado ir embora.

Não posso dizer que penso nisso todo dia, mas há períodos longos nos quais me pergunto como teria sido a minha vida ao seu lado. Sei que você está sozinho. Sei que eu nunca estive sozinha por mais do que um ou dois meses desde que nos despedimos, mas ninguém nunca chegou perto de me conhecer como você conhece. Eu gosto da minha vida hoje, sou feliz com o Carlos, ele me ama e eu o amo. Tenho certeza de que quero continuar construindo a minha vida com ele e acho que vale o investimento escolhido. Mas quando olho para trás, quando me deparo contigo... como teria sido? O que foi que eu perdi? O que foi que a minha escolha fez nós dois perdermos?

E se você me pedisse para voltar?

Eu sou uma garota materialista. Dois mais dois são quatro, o marketing usa cores e emoções para criar necessidades que não temos e não importa no que cada um acredite, a única certeza que temos é que só temos essa chance de fazer o melhor que pudermos, de ser a nossa melhor versão. Você está na minha vida há tanto tempo que nem me lembro mais dela sem você. E desde sempre você quis ficar ao meu lado. Me disse, tantas vezes, que eu não deveria te procurar depois, quando nada mais restasse. Que só me queria se fosse agora, e se fosse para sempre. Um amor tão puro e idealista que nunca me vi correspondendo à altura – como eu disse, sou materialista demais para isso. Não acredito em amores adolescentes, nem em primeiros amores que durem para sempre. Acredito no desejo, na paixão, na capacidade do ser humano de fazer merda – e foi quando percebi o potencial que eu tinha para fazer merda contigo que me afastei. Nunca fui a mais casta das adolescentes, nunca idealizei minhas relações, e você sempre me ofereceu um mundo completamente diferente. Mesmo nos meus piores momentos, você estava lá, me ouvindo, me oferecendo seu ombro, me lembrando que poderia estar comigo se eu pagasse o preço de ser só sua. Meu alívio é saber que nunca te enganei, mas isso não me impediu de te machucar.

Para ser sincera, sinto sua falta de uma forma dolorida, do amigo que você foi por tantos e tantos anos. Mas nem consigo imaginar o quanto isso te custou. Entendo você ter se afastado de vez, lamento por tudo o que fiz que te fez sofrer. Mas nunca consegui me livrar dessa sensação de que minha vida não é completa sem você, e nesses momentos, nunca sei o que fazer. Não te procurar é a melhor coisa que posso fazer por nós dois, afinal, eu ainda sou uma garota mundana, um tanto quanto workaholic, com crises de bebedeira e paixões avassaladoras – embora eu esteja constantemente apaixonada e envolvida há um tempo maior do que eu mesma poderia imaginar. Você ainda é aquele cara que me colocava num pedestal que nunca mereci. E por mais que não seja o mesmo adolescente casto de antes, eu nem ao menos consigo te ver de outra forma. Quando fecho os olhos, tenho muito claro o contorno do seu rosto, seu jeito de me olhar, seu sorriso quando me viu chegando naquele cinema, ou quando eu te peguei tirando uma foto escondido naquele show. Você se lembra?

Não importa como poderia ter sido, as viagens que faríamos juntos, os museus, os shows, as exposições e as leituras que compartilharíamos. Não importa o filho que teríamos tido, nossa coleção de vinis ou as conversas no anoitecer, regadas a vinho e jazz. Eu preciso aceitar de uma vez o investimento que escolhi – afinal, cada um aceita o amor que acredita merecer. Você é a pessoa que mais me conhece neste mundo e ainda assim me idealizava, com todos os meus defeitos, como se fossem apenas uma casquinha de machucado e logo fossem embora. Em tardes como esta, eu sofro pensando em como poderia ter sido. Mas, ainda assim, não arrisco voltar. Você idealizava meus defeitos porque, no fundo, não acreditava neles. Enxergava uma versão de mim muito melhor do que essa que realmente existe.

Logo mais, Carlos estará aqui, e eu sinto saudades dele. Ele me ama sem expectativas além do que somos, e me sinto bem ao lado dele, acho que ele me quer exatamente do jeito que mereço. E acho que também o amo como ele quer ser amado. Queria meu amigo comigo, mas não consigo aceitar o amor que ele trazia e sei o quanto isso machuca, por isso vou guardar essa carta junto com as outras tantas que te escrevi desde que eu te disse que não daríamos certo juntos. Desde os dias em que você me contava suas confusões e paixões – e o quanto elas tinham ciúmes de mim sem me conhecer. Sabia que o Carlos também tem ciúmes de você? E eu não te vejo há... doze anos? É isso mesmo?! Não importa. Foi um custo muito alto para voltar atrás agora. 

Fragmentos de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora