Temporais

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É preciso ser forte para atravessar temporais. Meus temporais às vezes são mais fortes do que eu e, quando caem, derrubam minhas certezas, me forçam a um recomeço. 

E se começo a repetir algo, novamente eles chegam e lavam tudo. Lavam minha alma. Lavam minha boca dos beijos deixados ao acaso. Beijos que não foram fortes o bastante para provocar desejos, lembranças, novos beijos. Meus temporais são verdadeiros tormentos para os que sentem. Paraísos para quem não têm consciência. 

Meus temporais têm um vento forte, que sacode as árvores, arranca as roupas do varal. Faz bater portas e janelas. Enche a casa de folhas mortas e poeira. Meus temporais têm uma chuva grossa, que lava vidros e vidas, que alaga ruas e corações. Que molha a terra numa tarde de verão, uma terra tão castigada pelo Sol. Uma chuva grossa que dói quando cai nos nossos ombros. Que desfaz lágrimas e erros. 

É preciso ser muito forte para atravessar meus temporais, eu mal consigo.

Depois de tudo, os varais bagunçados, folhas de árvores cobrindo o chão, poças de água por toda parte e a claridade que somente dias brancos possuem, uma força chega de mansinho, junto com a brisa que sobrou, com os raios de Sol que tentam atravessar o que resta das nuvens para formar um arco-íris. Uma força calma e única, capaz de me acalmar depois de tanta chuva e tanto vento, que tiraram tudo do lugar. 


A força de uma lembrança... a tua lembrança. 

Está na hora de voltar.


Fragmentos de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora