TRINTA E UM (INVERNO INFERNAL)

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quando você foi embora naquele dia vinte e um de junho, foi quando ele finalmente instalou-se. em seus ventos gelados soprando em meus ouvidos, pude ouvir um acalanto. em seus assobios, assoprou para longe por um breve momento, a dor da tua partida. ainda haviam pegadas suas indo em direção contrária do meu abraço lareira. o fogo apagou-se e eu congelei.
incrédula do teu abandono, também quis me abandonar para seguir contigo,
mas ao invés de correr em vão, decidi ouvir o conselho que o vento trouxera e, resolvi simplesmente fazer um chocolate quente, sentar-me em frente  a janela e apreciar-te por mais alguns segundos...

não queria ver-te partir,
mas foi preciso.

segurei-me firme para não deixar-me escapar nas lágrimas que escorriam em minha face.

de tanto engolir o choro, embebedei-me afogando as mágoas em garrafas de vinho.

era uma rotina etílica,
pois só fora de mim e esbarrando nos móveis não seria capaz de esbarrar em você aqui dentro do peito.

foram dias de luto,
noites de surtos...

momentos um tanto quanto confusos.

os primeiros dias são os mais terríveis.

as lembranças no seu aconchego, atomentam.
o seu cheiro em meu travesseiro,  sufoca.

um amontoado de "nãos".

até que um dia desses, a luz do sol adentrou bem fraquinha pela fresta; quase que se esguelando para entrar pelas cortinas fechadas, só para se encaixar em mim.

veio aquecer meu corpo hipotermico e dizer que restavam poucos dias para desabrochar.

os dias foram passando e a dor da sua ausência foi amenizando.
ficava um pouco mais fácil, mas alguns pensamentos insistiam em dificultar tudo.

eu ainda sentia a tua falta,
meu corpo te sentia,
a saudade batia forte com as tempestades que congelaram meua sentimentos.

até que naquele dia vinte e dois de setembro, você retornou:
me pediu desculpas por partir e acabar por partir nossos corações.
disse-me que seria incapaz de germinar em outro peito e queria se plantar em meu colo, para que minhas mãos pudessem entranhar-se em seus cabelos sedosos, fazendo com que assim, finalmente sua alma se aquecesse e pudesse descansar.

e foi naquele dia vinte e dois de setembro, que ela instalou-se e restaurou a minha felicidade.

foi preciso ver-te partir, para assim fazer com que de fato quisesse ficar, fincar os pés e criar raízes.

foi exatamente naquele dia vinte e dois de setembro, que vi a primavera mais linda do mundo.

APENAS MAIS ALGUNS TEXTOS SOBRE AMOR E DOROnde histórias criam vida. Descubra agora