Nᴀ̃ᴏ ᴘᴏssᴏ sᴜʀᴛᴀʀ, ɴᴀ̃ᴏ ᴘᴏssᴏ sᴜʀᴛᴀʀ.
É apenas uma entrevista de emprego, nada demais, apenas uma entrevista depois de ter procurado um emprego por seis meses. Está tudo bem, mas parece que meus pés ou minhas mãos, precisamente mais especificamente meu corpo não sabem disso. Da forma que bato meu pé no chão parece mais que estou treinando para tocar bateria com meus pés e a recepcionista não parece ver isso como talento. Preciso concentrar em outra coisa, nas outras candidatas para esse trabalho? Claro, se eu quiser ter uma crise de ansiedade intensa. Só pela mulher que está sentada do meu lado tenho medo de olhar para o lado e ver as outras. Ela é esbelta, e se meu pai estivesse aqui chamaria ela de sexy. Eu tenho isso? Ser sexy. A não ser que ser gorda conta como algo sensual. Não, eu sou sensual. Tenho uma bunda grande, se eu fosse homem, ia morrer de vontade de apertar essa bunda. Isso. Eu sou. Então eu posso parar, respira Victória, faz como a Amanda disse, mostre-se confiante mesmo isso parecendo uma mentira. Só que talvez não seja mentira, e eu estou nervosa é mais porque não tenho tido muitas entrevistas à seis meses. Certo, não surta. Você tem um currículo acima da média, de acordo com a Rafaela supostamente futura namorada da minha irmã, então isso pode ser ou não algo para ela ter a minha aprovação – mesmo minha irmã não precisando disso para ter algo com alguém... Já não sei sobre o que estou pensando, mas pelo menos parei de bater o pé e apertar as minhas mãos uma na outra. O que a Rafaela disse que era a empresa mesmo? Fecho os meus olhos tentando me lembrar:"– Então você é a famosa Victória? – pergunta sorrindo.
– Acho que sou – falo meio sem graça – E você é a famosa Rafa – sorrio de lado – É um prazer conhecer você.
– Digo o mesmo. Bem, enfim, vou te explicar um pouco sobre a empresa para que se dê bem na entrevista, daqui a pouco tenho que voltar ao meu trabalho então vou ser o mais breve possível. – diz, Rafa fala que é uma agência de engenharia cujo a sede oficial é no Rio de Janeiro, faz três anos que fizeram uma das sedes em Belo Horizonte. Os donos são Philippe Andrade e seus filhos, atualmente quem comanda a sede daqui são os dois filhos mais velhos do homem que criou isso tudo..."
– Victória Guedes – abro meus olhos assustada depois que escuto o meu nome ser chamado pela recepcionista de forma impaciente. – A entrevista – fala como se precisasse me lembrar – É a direita, primeira porta.
Me levanto e vou na direção de onde ela disse, mas posso ouvir daquelas mulheres excentricamente bonitas algo desagradável "Além de gorda dorme durante uma entrevista.", "Patética.", finjo uma confiança que sei que não tenho agora. O que importa agora que vou fazer o meu melhor para ter esse emprego porque sei que isso irritaria elas e isso faria com que eu mostre que não é por ter gordura que sou insuficiente. Mas na realidade eu apenas queria me virar para essas magrelas e dizer umas coisas, ainda bem que não fiz, não seria legal perder um emprego que ainda nem é meu. Só preciso mostrar que vou ser a melhor assistente que esse engenheiro vai ter. Suspiro indo até a porta, e um detalhe importante que preciso mostrar para mim mesma é que não posso surtar. Bato na porta.
⸙ೋ⸙ೋ⸙ೋ⸙ೋ
Mentalmente começo a contar, já se passaram um minuto e cinquenta e cinco segundos que bati na porta. Talvez seja uma observação um pouco precária da minha parte já que estou muito ansiosa por esse emprego, mas acho que esse homem que orando muito vai ser meu chefe não deve passar de um velho mal educado porque bati na porta e nada dele falar para entrar como achei que faria. Bato mais uma vez, já que na minha opinião ele pode ter mesmo um problema de audição, como suponho. Então puft... A porta se abre e eu me vejo como um personagem secundário de um livro que acaba de pegar os protagonistas quase na hora que falta tirarem as roupas, talvez pareça um pouco com algum filme para menores de dezoito.. Não espera, maiores de dezoito. Olho para a mulher que deve pensar que está em uma situação desagradável, o que é verdade, onde uma completa estranha – que agora pode não ter mais emprego – a vê em um momento íntimo. Ela me encara como se eu fosse sair gritando com o que acabei de ver, que por alguma razão continuo olhando. Mas tirando isso, ela está normal. Talvez eu tenha uma explicação convincente, tipo que não esperava ver meu suposto futuro chefe que era para ser velho e enrugado, não que isso tire o charme de alguém mas.. Enfim, estivesse tão empolgado na sua sala de trabalho quando tem várias entrevistas de emprego para fazer. Achei que coisas desse tipo só aconteciam em livros, mas a natureza humana sempre surpreende.
Saio dos meus pensamentos quando olho bem diretamente para o meu ex-futuro chefe e engulo em seco, tenho a breve sensação que vou morrer, ser assassinada não estava nos meus planos de hoje. Agora Amanda não pode mais ficar convencida que faz até minha espinha tremer de medo. A mulher colocou a blusa e ajeitou a saia, da mesma forma que fez com o cabelo e saiu da sala com o olhar que sentia pena de mim. Então a porta se fechou.
– Por quê não bateu na maldita porta? E quem acha que é para entrar assim em um lugar sem ser chamada? – ele praticamente grita na minha direção.
Escuto calada de cabeça baixa como se fosse uma criança estúpida, faço a mesma coisa que sempre fiz quando meu pai gritava comigo quando era criança, tentar ser uma boa garota. Mas então eu penso, que culpa eu tive da porta estar encostada e ele estar quase transando com aquela mulher? Nenhuma, porque se alguém tem culpa é ele. Adeus emprego.
– A culpa não é minha se bati na porta e ela estava encostada, muito menos é culpa minha ver você e aquela mulher quase transando como cães no cio. Qualquer um poderia ter visto, você que não trancou a porta. Então a culpa não é minha, mas sua. – falo quase no mesmo tom, estou me defendendo de alguém que à segundos atrás pensei que fosse o meu pai, pelo jeito que falou.
Me arrependo de ter chamado os dois de cães no cio quando ele se levanta, porque aqueles olhos devem estar imaginando a melhor forma de me matar e aquela coisa quase entala na minha garganta, será que é saliva? Finjo ignorar.
– Por acaso esse escritório é meu e portanto o que acontece dentro dele não interessa à ninguém do lado de fora. – diz andando para onde estou e imagino quanto tempo um engenheiro com a quantidade de dinheiro que esse homem deve ter, ficaria preso por cometer assassinato. Por um instante acho que ele não ouviu sobre a parte do cio. – Cães no cio? – cogito que ele não me mataria, eu acho.
Perguntou para mim? Então ele reprime os lábios e em seguida começa a rir. Uma ofensa que não foi proposital virou uma piada?
– Não vai me matar? – pergunto já que realmente achei isso.
– Não, não cometo crimes, tento resolver a situação, e não mato mulheres, nem mesmo as mais enxeridas – responde voltando para sua cadeira e ajeitando a camisa, deu para ver sua forma de resolver as coisas.. Mas lógico que não falei nada disso, não quero eliminar mais as minhas chances de conseguir esse emprego. – Qual seu nome? É uma das garotas para a entrevista, certo?! – pergunta esquecendo o que aconteceu ou simplesmente fingindo.
Balanço a cabeça positivamente, ele diz para que eu me sente, então faço isso. Nunca vi ninguém voltar ao normal depois de um ataque de raiva desses, mas se bem que nunca vi o normal desse homem. Não posso agora parar de imaginar que o normal dele é ser descontrolado e depois ser alguém calmo. O pior que não dá pra controlar minha mente impura de criar a situação dele fazendo strip tise. Ah, tenho que parar de ver isso. Não tira a roupa, por que na minha imaginação ele está realmente tirando à roupa? Vamos parar com isso Victoria?
– Agora perdeu a voz? Achei você bastante respondona menos de meia hora atrás. — ele interrompi meus pensamentos.
– Eh.. Bem, eu.. Hã.. – gaguejo, o que eu fiz? Não podia apenas ouvir o que ele falava? Sinceramente, acho que não.
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Apaixonados - Saga Andrade [Pausada]
RomanceVictoria, é uma jovem de 22 anos que está determinada a superar as inseguranças causadas pelo bullying constante de seu pai em relação ao seu peso. Em busca de um recomeço, ela recebe a oportunidade de trabalhar na empresa de engenharia da família A...