Vɪᴄᴛᴏ́ʀɪᴀ ❁

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          Uᴍ ᴅᴏs ᴇsᴛᴀɢɪᴀ́ʀɪᴏs ᴍᴇ ᴠɪᴜ ᴇ ᴀᴘᴏɴᴛᴏᴜ com a cabeça em minha direção. O pânico borbulhava em meu peito quando Bárbara se virou para ver o que ele estava olhando. Eu me abaixei para me esconder no canto da mesa, mas não antes dela me notar.

– Secretáriazinha.

Merda, merda, merda. Eu não queria vê-la, não queria que ela me visse! Não depois que atrapalhei ela e meu chefe a transarem, de novo. Seus saltos clicaram enquanto caminhava pelo corredor que me separa da cobra. Existe um porquê muito lógico do motivo que evito conversar com a Bárbara, e é mais um daqueles ditados antigos "com cobras não se brinca". Acrescento ainda que com cobras a gente não conversa.

Da muita raiva quando não consigo evitar ela, porque falo demais e muitas vezes tenho que parar pra pensar antes de calar a boca. E nisso entro em situações que não deveria entrar. Dou um sorriso falso para ela, o máximo que consigo.

— Oi? — é, o sorriso não adiantou muito quando falo secamente. Eu tentei. — Precisa de algo?

— Se eu não precisasse não te chamaria, bem, enfim quero que faça uma reserva no restaurante Glamour para o Hugo e para mim. Faça a reserva para às nove, e reserve também um hotel, que não fique muito longe do restaurante.

Tive vontade de falar "não trabalho para você, por que não faz isso sozinha?". Mas disse:

— Claro, farei e mando o endereço para você. — afinal não é bom caçar o perigo duas vezes no mesmo lugar.

Bárbara joga seus cabelos ruivos para trás dando as costas para mim, sem nem mesmo soltar um "obrigada". Por que ela não pode ser um pouquinho educada? Às vezes faz bem. Arrumo minha blusa antes de sentar de frente para o computador. Bom, hora de começar a fazer o relatório da arquitetura da mansão Pardo, antes que venha o pitbull xingar.

Começo a ler as observações do projeto, enquanto anoto em um caderninho — que por sinal é bem lindinho — o que parece que deveria ter um destaque no relatório que estou fazendo. Fico com uma vontade enorme, literalmente, de pegar meu celular e colocar uma música para tirar um pouco desse som de teclas sendo clicadas. Penso, penso novamente se coloco ou não. Decido por, se tiver baixo ninguém pode reclamar né? Caço a música que queria e boto Ellie Goulding - My Blood.

Maria é a senhora que trabalha na limpeza, ela aparece perto da minha mesa com um sorriso enorme. Às vezes no horário do café da manhã ela faz um café e trás pãozinhos caseiros que realmente nada consegue me fazer recusar, além que é uma das pessoas daqui que eu mais converso.

— Maria! Hoje não te vi na cozinha, senti sua falta.

— Ah minha querida, ultimamente ando meio gripada então estou evitando ficar perto de muitas pessoas. Sabe como gripe passa rápido. — Maria responde deixando o cabo da vassoura próxima do corpo.

Pauso a música, e paro de digitar no words o relatório. Agora prestando atenção a Maria.

— Foi ao médico? Se está muito gripada deveria ficar um pouco na sua casa, não? — pergunto realmente preocupada.

— Oh não, prefiro trabalhar e logo essa gripe deve passar.

— Maria, tem certeza disso? Não se esforce muito, está bem?

— Não se preocupe meu bem — Maria dá outro sorriso e começa a varrer o chão — Agora me diz Vick, melhorou sua convivência com o senhor Hugo?

Reviro meus olhos mostrando sem ter que dizer que continuo a pensar a mesma coisa de antes. Maria solta um riso fraco.

— Você realmente tem uma personalidade forte.

— Eu? Não tenho Maria, eu acho. — caramba, agora sei porque nunca consigo terminar aqueles testes de personalidade, não conheço minha personalidade direito.

O telefone toca quando parece que a Maria vai me responder, atendo. Antes de começar a falar, Hugo fala: "Victória venha na minha sala imediatamente".

— Sim senhor, já estou indo. — desligo e coloco o telefone no lugar antes de me levantar. Que dia fascinante, estou amando tanto que qualquer traço de ironia desse pensamento é pura verdade. — Maria o pitb.. O senhor Hugo está chamando, depois conversamos mais?

— Claro querida, vou voltar ao meu trabalho também.

Começo a andar até o escritório do Hugo, bato na porta com um pouco de força a mais, para ele não dizer que não bati.

— Entra. — responde do outro lado.

Fico realmente impressionada que pela primeira vez ele foi rápido. Abro a porta e entro, não posso deixar de demostrar minha surpresa.

— O senhor está passando mal? — uso até a palavra "senhor" para essa situação inédita.

— Não, por que acha isso?

— Pediu que eu entrasse sem fazer uma eternidade esperando, isso não é muito normal. — estranho isso já que ele hoje me fez como poste.

— Era para ser uma piada? — meu chefe pergunta.

— Não, as piadas que faço sobre voc.. Hum, o que precisa? — mudo de assunto o mais rápido que posso quando percebo que me dedurei.

— Faz piadas sobre mim Victória Guedes? — Hugo pergunta com um sorriso, e não parece ser de deboche.

— Eu? Jamais, não faria uma coisa dessas com o melhor chefe de BH. Não, de Minas. — uso da ironia que é a amiga de todos.

— Vou fingir que acredito, senta-se Victória. — ele se levanta da cadeira e eu me sento antes dele dar a volta na mesa.

Será que ele desconsiderou que eu chamei ele de prostituto um pouco mais cedo e decidiu que ultrapassei meus limites? Que na verdade, ultrapassei há muito tempo. Deixo minhas mãos sob meu colo.

— Precisa que eu faça algo? Se for sobre a reserva a Bárbara já pediu, vou fazer agorinha mesmo.. — começo a falar rápido, quero me auto pedir para calar um pouco.

— Que reserva? — Hugo se vira para mim erguendo suas sobrancelhas escuras enquanto me encara.

— Do restaurante e do hotel para hoje a noite.

— Não faça a reserva. Esse não é o assunto que quero conversar com você Victória, e por favor para de falar antes que eu tenha que por algo na sua boca. — fala.

Fico calada para tentar saber o que ele tanto queria falar e também gosto da minha boca sem nada impedindo ela.

— Preciso que "trabalhe" amanhã para mim, te pago a mais.

— Trabalhar? Mas o relatório já está quase pronto e amanhã é sábado.

— Sei disso, é mais um trabalho e um favor. Não vai ser tão ruim, espero. — ele faz uma careta que enruga sua testa.

— Sobre o que se trata esse trabalho? — se o pitbull que é raivoso e que mostra não precisar de ninguém, precisa de mim deve ser importante.

— Ir no jantar da minha família amanhã, fingir se dar bem comigo e evitar ser respondona.

— Não tinha outra pessoa que podia pedir ajuda? Ou a Bárbara?— olho desconfiada para ele.

— Talvez tivesse. A Bárbara não dava, pense nisso como a forma que também me ajude a reconsiderar o que você disse antes.

— Isso é chantagem.

— É algo justo apenas, Victória só responde com sim ou não.

— Não tenho roupa pra ir. — espero ele dizer que entende minha situação e que chamaria outra pessoa para isso.

— Compro para você, agora fala logo Victória se vai ou não.

— Aceito se puder faltar sexta.

— Certo, vou mandar entregarem na sua casa seu vestido amanhã. Esteja pronta às 19h30, vou te buscar nesse horário. — Hugo passa a mão pelo cabelo como se tivesse acabado de resolver um problema difícil. — Me mande o relatório por e-mail que você pode sair mais cedo.

— Sério? Já vou então mandar o relatório — me levanto com pressa, quase caio por tropeçar no meu próprio pé. Seguro na cadeira para não cair, quando vejo que Hugo tinha estendido o braço para me ajudar, dispenso a ajuda dele — Tchau chefe.

Saio do escritório, indo direto para a minha mesa.

Apaixonados - Saga Andrade [Pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora