04. Finally in peace

45 6 0
                                    


Draco precisou de muito tempo para digerir tudo aquilo. Pensava no que tinha ocorrido e no que poderia ter acontecido se ele tivesse apenas se aberto com Astoria. Não foi fácil ouvir as palavras proferidas por ela, no entanto imaginava que também não tivesse sido das tarefas mais tranquilas para Astoria dizer tudo.

Era ainda mais angustiante ver que a vida de todos seus amigos - e ex-inimigos - estavam indo para a frente, com casamentos, filhos, família, enquanto ele continuava ali, preso às memórias que estavam lhe consumindo e acabando com suas chances de ser feliz.

Foi quando decidiu voltar a procurar o auxílio para lidar com as atrocidades do pós-guerra no St. Mungus. Da primeira vez, havia sido algo compulsório por conta do que fizera a si mesmo, mas nunca havia considerado aquela possibilidade por espontânea vontade. Sentia-se culpado por muito do que acontecera e, de certa forma, não esquecer e conviver com a dor massacrando-o era uma forma de punição que havia imposto para si mesmo. Considerava ser o mínimo que poderia fazer para compensar todo o mal que causou: abster-se de, um dia, voltar a ser feliz.

Contudo, cada vez mais Astoria inundava seus pensamentos e as palavras de confiança e apoio dela reverberavam na mente dele. Decidiu que talvez pudesse tentar e colocar a cabeça no lugar antes de qualquer coisa. Não tinha muitas perspectivas de reconquistar Astoria, desconfiava que ainda não se sentiria digno nem se a terapia de fato funcionasse, mas não queria que ela sentisse que era um fardo amá-lo.

Deixar os traumas para trás não era nada fácil e em muitos momentos Draco quase desistiu. Talvez se tivesse o apoio de Astoria, as coisas teriam sido diferentes. Poderiam ter encarado aquilo juntos, mas ele negara essa opção a eles ao afastá-la, e compreendia o peso da sua atitude. Agora, estava tendo que enfrentar seus maiores arrependimentos cara a cara. Sozinho. Achou sinceramente que a sra. Bones havia enlouquecido ao recomendar que ele escrevesse um pedido de desculpas para Harry Potter, aproveitando a deixa para parabenizá-lo pelo nascimento de seu primogênito. Ele jamais faria aquilo.

A resposta de Harry e Ginny Potter veio apenas alguns dias depois. Não estavam irritados, muito pelo contrário, foram bastante educados e disseram que não havia o que se desculpar, pois entendiam o contexto.

Aquilo o fez ficar inquieto. Harry Potter foi, definitivamente, o mais afetado por suas ações. Como ele poderia dizer que entendia? E que sequer havia o que perdoar... Não, não, não. Nem Draco havia se perdoado, como ele poderia fazer aquilo após um mísero bilhete? Foi esse o pensamento que lhe conferiu o impulso de andar casualmente na frente do Ministério em um dia de semana qualquer. Foi Harry quem o viu primeiro.

— Malfoy? — seu tom não parecia surpreso. Talvez imaginasse que sua resposta não tivesse sido suficiente.

— Potter — cumprimentou simplesmente, de repente sentindo-se um idiota por estar lá. Sequer sabia como começar aquilo.

— Presumo que tenha recebido minha resposta — Harry incentivou, arqueando a sobrancelha. Draco desviou os olhos e pigarreou. Estava mais óbvio do que havia considerado que estaria.

— Eu não entendo — falou por fim, sentindo-se cansado. — Eu não fui capaz de me perdoar. Como você e sua esposa puderam simplesmente dizer que estava tudo bem?

— Fomos muito bem educados — falou seriamente. Quando Draco abriu a boca, incerto do que responder àquilo, Harry riu pelo nariz, balançando a mão. — Estou brincando. Nós fomos sinceros — garantiu, voltando a assumir um semblante sério e respirando fundo. — Estivemos em lados opostos por muito tempo, é verdade, mas eu entendo que muitas vezes foi questão de escolha. Em certos momentos você teve escolha, em outras não. Não posso culpá-lo eternamente por tudo. No fim, você só foi mais uma vítima, assim como eu. Em proporções diferentes, é claro. Sei que você não aceitaria uma comparação como essa — acrescentou rapidamente e Draco não pode deixar de sorrir minimamente. — Agora que temos o poder de escolha, acredito que o que podemos fazer para ficarmos em paz com nós mesmos é simplesmente fazer o certo.

White Blank PageOnde histórias criam vida. Descubra agora