Dead!

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Depois de dias jogados nessa velha cama, apenas uma pergunta tem rondado a minha cabeça:
"Eu tive o que eu merecia?"

Sabe, a morte. 

Não sou eu que me pergunto isso, na realidade. É como se tivesse um 'outro eu' dentro da minha própria mente contrariando tudo o que eu penso.
Será que se eu for pro paraíso, alguém estará me esperando ansiosamente, dizendo "Você teve o que merecia."? 

Não vou mentir, eu tenho ficado agoniado pensando nessas coisas.

 — Jackson! Você tem visto os jornais esses dias? — A voz da minha doce Cassidy inundou a sala, tirando-me dos meus devaneios.

— Não. Não tenho visto nada nos últimos dias.

Sentando ao pé da maca, ela suspirou lentamente, me encarou com suas orbes castanhas e me explicou:

— São notícias dizendo que você morreu.

— Como!?

O jornal foi pousado nos meus braços, Cassidy ainda estava abalada e era óbvio que não era só uma falsa notícia que a preocupava. Pedi para a mesma tomar água para se acalmar, e assim que a mesma o fez, eu peguei o pedaço de papel e comecei a ler.

"Soldado sobrevivente da Segunda Guerra morre essa manhã.

Na manhã do dia 27 de Junho de 2003, Jackson Raymond morreu no hospital principal de New Jersey. O Homem serviu no exército contra o ataque Nazista durante os anos decorrentes da Segunda Guerra Mundial. 
 Após os acontecimentos horríveis dessa época, Jackson foi internado no hospital no dia 12 de Fevereiro de 1999, depois de descobrir um câncer em estado avançado. Os médicos responsáveis pelo homem não quiseram dar entrevistas"

Não quis ler mais sobre isso, só conseguia rir. 

Rir de desgosto.

Não é como se todas as pessoas que eu conheci, se importassem verdadeiramente comigo. Ninguém tinha algo legal para dizer para mim ou Cassidy, porque se fosse, teriam ligado pra cá ou para minha mulher deixando pêsames e palavras vazias de conforto. Acho que nunca gostaram de mim, de qualquer forma.

Embora seja uma notícia falsa, parte de mim queria acreditar que eu realmente morri. Sair dessa cama de hospital e ser levado para um caixão não me parece uma má ideia.

Minutos depois, Cassidy e o Dr. Anthony entraram no quarto. Nenhum deles estavam com uma cara boa e, sinceramente, é melhor assim.

— Senhores, tenho uma notícia para vocês dois, é complicado explicar tudo detalhadamente e sendo franco, não é algo que precisa ser dito assim mas-

— Dr., chega dessas condolências. Apenas fale e vá embora - Falei impacientemente, não aguentava mais esses joguinhos de 'bom coração' que esses doutores fazem constantemente.

— Certo, desculpe - Ele pigarreou, antes de continuar — O senhor fez uma operação na semana passada, correto? Após isso, fui estudar os resultados e, na minha sincera observação, durante essa operação, nós encontramos uma complicação no seu coração, então... Descanse, porque você tem, talvez, duas semanas de vida.

Cassidy parecia mais abalada ainda, caída numa poltrona, ela desabou em lágrimas. O mesmo médico repetiu várias vezes 'desculpe por isso' e depois se retirou. 

Eu queria rir novamente. Queria me levantar dessa cama, correr por aí e rir loucamente como se estivesse drogado e bêbado. Tudo isso parece uma grande piada, uma piada sem graça que se repete todos os dias nessa droga de hospital.

Mas a vida não é apenas só uma piada.

Então, por que eu estou rindo?

Por que eu não estou...

Morto?

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