This is how i disappear

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Me pediram para explicar algo imperdoável que fiz.
Mas não querem que eu conte sobre o sangue drenado e o show das crianças.
Ninguém sabe dos rituais de morte que faziam nas ruas escuras à noite.

— No que está pensando? — Cassidy disse no pé da cama.

— Em nada.

— Sei que está pensando em algo, está com a cara fechada. — Chegou mais perto, envolvendo minhas mãos nas suas — Algo aconteceu?

— Tem coisas que eu fiz que você não deve saber jamais.

— O que está dizendo, Jackson?

Respirei fundo. Essa mulher não é para mim, ela é perfeita, mas não é o meu perfeito.
Cassidy é carinhosa, cuidadora, esteve sempre do meu lado, amorosa, a mulher mais incrível que eu já conheci.

Mas eu não a mereço.

Eu não a amo como ela me ama.

Tomei a decisão de que tentaria ao menos conforta-la nesse período em que estarei vivo, não quero que ela sofra. Não quero partir pensando que, por ser sincero, acabei magoando e machucando a única pessoa que se importou comigo a vida toda.

— Cass, eu irei partir sem você, e irei viver o outro lado para sempre sozinho.

— Não diga isso. — Ela beijou minha mão — Por favor não diga isso.

— Mas... — Fiz uma pausa para repensar o que diria — Quero que saiba que vivi feliz ao seu lado por todos esses anos. E mesmo depois da guerra, você era a única que conseguia me fazer dar pelo menos um sorriso quase todos os dias.

Seus olhos ficaram marejados. Após um tempo curto, ela respondeu com a voz quase inaudível:

— Sem você, é como eu vou desaparecer, vou passar o resto da minha vida sozinha.

— Se permita conhecer outras pessoas.

— Eu não quero.

A mulher se levantou e saiu do quarto. Com certeza ela precisava respirar. Perder alguém que ama não é nada fácil.

E eu odeio pensar que matei pessoas que outras amaram.

Logo irei caminhar entre os mortos-vivos que morreram perto de mim. Irei reconhecer aqueles que afogaram meninos e meninas em suas camas. As boas garotas que se comportaram muito bem e os garotos que souberam guardar segredo.

Deus, se existir me responda; É verdade que todas as garotas boas vão para o paraíso?

Bem, o paraíso deve saber.

Cassidy voltou, com a cara mais fechada que nunca. Numa expressão de ódio intenso.

— Jackson, me responda uma coisa. — Ela fechou a porta do quarto e ficou em pé, na beirada da cama.

— Sim.

— Enquanto estava "fora", conheceu outra mulher?

Congelei.

Enquanto estava na guerra, uma mulher no qual auxiliava a cuidar dos soldados feridos escrevia para mim. Dizia que eu era lindo, e que queria conhecer-me mais.

Fiz errado.

Acabamos tendo 3 ou 4 noites de amores intensos às escondidas quando eu havia voltado para cuidar de alguns ferimentos.
Até o momento em que nossa base principal foi bombardeada.

Ela morreu.

Segui em frente, ela usava meu corpo assim como usei o dela e estávamos bem com isso. Sei que ela queria alguma coisa a mais que apenas prazer, mas eu não daria a ela.

Era claro que eu nunca contaria isso para Cassidy.

— Não, meu amor. Nenhuma das mulheres me interessavam.

Ela tirou de um dos bolsos do vestido, um papel velho e amassado, o abriu e começou a ler:

— "Meu querido Jackson Raymond. A noite de ontem foi maravilhosa! Você é uma pessoa incrível. Quero muito te conhecer mais ainda. Estive pensando em te chamar para comer alguma coisa quando tudo isso acabar, mas enquanto não, poderíamos ter mais noites prazerosas como essa última, o que acha? Beijos, de Esther Miller"

Era uma das cartas no qual Esther havia escrito para mim. Se não me engano, a sua segunda carta.

— Onde você achou isso?

— Estava na sua mala, aquela que guardou no armário assim que voltou da Alemanha. - Ela aumentou o tom de sua voz - Por que fez isso?

— Eu estava fora de mim, foi um erro.

— Um erro? É isso que tem a dizer? Um erro!? — Aos poucos ela foi se tornando histérica.

— Desculpa. — Abaixei a cabeça, eu me sentia péssimo.

— Você sabe por quantas noites eu chorei e clamei por você? Pra quando te ver novamente, me engasgar com essas palavras que eu nunca pensei que iria conhecer!? Você sabe como eu estou rezando para que seja mentira desde o dia em que descobri? — Começou a chorar.

— Desculpa não ser com você como era antes.

— Você é só um fantasma pra mim.

— Então eu não posso te machucar mais — Tentei dizer, com a voz falha.

Estou me afundando cada vez mais nisso. Só me deixa ir de uma vez logo, porra.

— Eu me sinto tão longe de você... — A dor era audível na sua voz. Após isso ela pegou sua bolsa na poltrona e foi embora. Acredito que para casa.

No fim das contas eu não estava tão errado.

É sem ela que eu vou partir.

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⏰ Última atualização: Aug 20, 2022 ⏰

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