19. Fase II - Aijō

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Notas da autora: Você encontra o significado das palavras marcadas com asterisco (*), assim como de todos os sufixos usados (ex: -dono, -sama) em Glossário & Honoríficos.

Aijō: Afeição

Importante: Eu gostaria de pedir encarecidamente para os meus leitores antigos NÃO comentarem spoilers de capítulos futuros. Alguns leitores novos gostam de ler os comentários e acabam descobrindo coisas que eram para ser uma surpresa, assim como foi para vocês e isso acaba estragando a experiência deles.
Se acharem que precisam comentar algo comigo, deixem subentendido e eu vou saber o que é, ok?

Obrigada e boa leitura!


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Tóquio – 10 de julho de 1877

Ano 10 da Era Meiji


Desta vez, eram cinco.

Três desvencilhavam-se entre os troncos das árvores à noroeste, suas sombras negras fundindo-se na escuridão da madrugada. Os outros dois o seguiam desde que atravessara a ponte, com passos quase triunfantemente abafados pela maciez da grama. Quase, pois nada passava despercebido aos seus ouvidos treinados.

E embora estivesse incomodado, decidiu ignorá-los e continuar seu caminho, soltando um grande bocejo. De fato, era cedo demais para se estar andando ali – ou tarde, a depender de como se encarava a situação –, sabia disso pela forma como o céu começara a dar os primeiros indícios de diluir a escuridão somente há poucos minutos.

Seu cansaço era evidente nos profundos círculos negros abaixo dos olhos e em suas constantes dores de cabeça.

Àquela altura, Sasuke havia recorrido a tantos métodos para tentar aliviar sua mente que perdera as contas: treinara até a exaustão, correra ao longo de toda floresta até que as pernas falhassem, meditara para tentar afastar os pensamentos que o desequilibravam e, após tantas semanas de fracasso, restou-lhe a mais banal das atividades: uma caminhada.

Em Serpente Dourada, nas madrugadas em que praticava sozinho, frequentemente via Sho caminhar floresta adentro e retornar somente após o desjejum. Naquela época, pensava ser apenas uma forma do velho manter-se ativo, mas agora que encarava o grau de desespero de sua própria situação, perguntou-se acaso o mestre também não o fazia para apaziguar sua própria cabeça.

Oh, uma pontada de saudades o atingira em cheio, embora orgulhoso demais para admitir senti-la. Seria tão mais fácil se estivesse ali para oferecer uma solução ao seu tormento.

Em seu caminho, um pequeno coelho cruzou a estrada natural de terra e o ronin encarou-o. A criatura de pelugem marrom aproximou-se lentamente, mexendo o nariz cor-de-rosa e as longas orelhas, colocando-se aos seus pés, perto o bastante para que Sasuke o erguesse pela nuca, na altura de seu rosto. O animalzinho debateu-se em sua mão; pensou que poderia cozinha-lo para o desjejum, mas desistiu ao recordar-se de todos aqueles malditos ossinhos que teria que arrancar. Aquela insônia o deixara mais impaciente que o normal.

Então, largou-o no chão e deixou que ele retornasse para a mata.

Era estranho como a vida de um homem comum começara a lhe parecer quase atrativa. Havia, certamente, Itachi para matar e um caminho de violência a trilhar para alcançá-lo, mas em toda sua dolorosa existência, Sasuke jamais chegou a considerar que poderia haver uma vida após concluir seus objetivos. Em sua mente, até então, existia apenas a vingança e nada mais. Mas eram momentos como aquele, em que regozijava de uma rotina calma e bucólica, longe da agitação da cidade, que a possibilidade de ter uma vida real após tudo começava a fazer-se presente.

Kurushimi - A Gueixa e o Samurai (SENDO TRANSFORMADA EM LIVRO)Onde histórias criam vida. Descubra agora