Então você é mais um dos que veio em busca de uma história de um artista excêntrico e cheio de manias.
Bem, entre e sente-se. cuidado, gosto de manter a escuridão em meus aposentos, não me pergunte o motivo.
Meu último trabalho? Aquela escultura é de causar arrepios, não é mesmo?
Aquele humanoide com um grande polvo entrelaçado em sua cabeça, controlando-o.
Não, não lhe direi o que me levou àquela ideia, ela é perturbadora mesmo para alguém como eu.
Como eu consigo esculpir no escuro? Não seja tolo, eu não esculpi na escuridão, esta necessidade de manter a luz afastada de meus aposentos só surgiu após esse trabalho.
Novamente, não lhe direi o motivo da escuridão.
Aquela escultura de uma massa disforme que traz uma estranha sensação de se mover e ter vida? É assim que se refere ao meu Shoggoth?
Devo admitir que ele me deu um certo trabalho, mas imagino que não esteja aqui em busca de conhecimento sobre técnicas de escultura. Na verdade, não sei dizer porque está aqui. Imagino que não seja para disfrutar de minha companhia. Talvez os boatos sobre minha loucura tenham chego aos seus ouvidos.
Ahh, quer saber sobre a pintura do ser com grandes olhos e tentáculos sendo engolido por um buraco negro? Como é, você não concorda com essa interpretação dos críticos de que ele está sendo engolido pelo corpo cósmico?
Interessante, você acha que é a minha criatura que está engolindo o buraco negro.
Você chegou mais perto que aqueles idiotas, mas ainda não compreendeu o que eu estava mostrando. Aquilo não era um buraco negro, era o nosso insignificante universo.
O que foi? Agora me acha um excêntrico? Você é como todos os outros que vieram antes, não são capazes de compreender minhas obras?
Como é? Quer acender a luz? Não, isso não será possível, como já lhe disse eu prefiro a escuridão.
Quer ver meu rosto enquanto conversamos? Não é necessário, minhas palavras bastam. Ou você não é capaz de compreender minha existência sem conseguir me ver? Talvez eu não exista mesmo e seja apenas uma voz em sua cabeça, ou talvez eu seja um personagem de sua mente, uma tentativa de esconder a própria insanidade criando uma figura insana.
Ora não se assuste, estou apenas brincando. Eu sou tão real quanto você.
Onde estávamos? Ah sim, minhas obras.
Como é? De volta à escultura do humanoide com o polvo?
Entendo, você continua querendo conhecer a inspiração que me levou a ela, ainda mais agora que sabe que tal inspiração resultou na minha mais nova excentricidade.
Pois bem, irei lhe contar o motivo de eu abominar a luz e ser um adepto dos ambiente escuros.
Sim, eu abomino a luz, pois a luz me permite ver.
O que eu vejo?
Acalme-se, vou lhe contar.
Eu era um artista desconhecido, que criava obras comuns até poucos meses atrás. Estava frustrado, sabia que jamais faria sucesso apenas baseado em minhas habilidades, eu precisava de uma obra esplêndida.
Então eu entrei em contato com um velho amigo arqueólogo. Imaginei que ver alguns artefatos antigos me traria ideias diferentes.
Eu não podia estar mais correto.
Depois de uma longa visita aos museus e à coleção particular de meu amigo eu encontrei um colar. Ele não tinha nada de muito especial, apenas uma pedra simples, engastada com uma espécie de olho.
Meu amigo me presenteou com o colar, sem saber que aquele seria o ponto de virada de minha carreira.
Comecei a usar o colar constantemente e passei a ter visões. De início pensei serem apenas vislumbres de sombras que minha mente exausta preenchia com formas grotescas. Mas com o tempo as visões passaram a durar mais em minha mente, até que fui capaz de manter uma delas por tempo o bastante para pinta-la.
Sim, a minha pintura chamada "Yog-Sototh" a qual você se referiu mais cedo foi o primeiro fruto dessas visões.
Passei então a ver essas coisas com muito mais facilidade do que gostaria, na verdade, eu os via sempre que estava com o colar.
Mas as visões eram grotescas demais para serem encaradas a todo momento, mesmo para alguém como eu, por isso passei a usar o colar somente quando precisava de inspiração.
Foi dessa forma que esculpi meu Shoggoth, me expondo à diversas horas de visões medonhas e deslumbres de seres fantásticos.
Como é? Não acredita em mim? Acha que são apenas delírios não é mesmo? Continua me tomando por um louco?
Pois bem, talvez eu seja um pouco louco, mas isso é real.
Tome, segure o colar um pouco.
Sei que não é capaz de ver nada ainda, não é possível ver nada com essa escuridão, mas aguarde enquanto eu termino minha história.
Depois da escultura do Shoggoth eu já tinha algum reconhecimento no meio artístico. É assustador ver o quanto as pessoas se sentem atraídas pela insanidade, quase como se ela fosse mais bela que a razão.
Usei o colar mais uma vez e criei minha obra prima. Essa mesmo que você me perguntou assim que chegou aqui. Sim, o humanoide controlado pelo polvo. "O Homem de Cthulhu" eu o chamei.
O que foi? Ainda não lhe contei sobre a escuridão?
Ah sim, durante a execução dessa obra, percebi que as visões chegavam a mim com uma facilidade cada vez maior, até chegar ao ponto em que eu não mais precisava do colar para ver.
E agora não sou mais capaz de ver o mundo normal sem que ele seja preenchido de seres monstruosos, por isso mantenho todas as luzes afastadas de meus aposentos, pois privado da visão não sou obrigado a encarar os horrores a todo momento.
Agora permitirei que acenda a luz por alguns momentos para usar o colar e ver o que vejo.
Porque apagou a luz tão depressa? O terror é tamanho que não o suporta por alguns instantes?
Sua pergunta é muito esperta, quer saber como alucinações que só existem em sua mente são afastadas pela falta da visão comum.
Bem, há uma explicação bem simples para isso, não é?
Pense bem, uma alucinação só existe em sua mente e pode surgir a qualquer instante, mas se precisa de seus olhos para ver, bem, você está encarando algo real.
Ainda não acredita em mim? Pois bem, acenda a luz e olha para mim.
O que foi? minha cabeça de polvo lhe assustou?
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Backgrounds de Personagens
General FictionUm conjunto de contos que resumem a vida de alguns personagens de RPG