Philip Smith

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Eu nunca acreditei nessas histórias de deuses e de seres místicos, só buscava os artefatos das antigas civilizações, não me importava o objetivo que eles tinham. Além disso, nada havia me dado motivos para acreditar neles até aquela expedição.

Eu e minha equipe nos dirigimos para uma área afastada em busca dos restos de uma suposta cidade livre que florescera naquela região em um passado longínquo.

Por dias escavamos sem encontrar nada além de areia, mas, quando começamos a acreditar que aquele maluco do departamento de história estava errado novamente, encontramos algo mais sólido. Sim, aquela era sem dúvida alguma uma pedra oriunda de outra região e que fora talhada como uma cobertura.

Continuamos a cavar com uma obsessão que beirava a insensatez. Era uma descoberta inimaginável, uma cidade livre, desconhecida de qualquer registro da história exceto algum pergaminho obscuro que o maluco do departamento de história havia estudado dentre as dezenas de insanidades sobre cultos antigos e figuras mitológicas escusas que ele tanto adorava.

Quando liberamos a entrada do primeiro edifício, reuni um grupo de mais 3 homens que iriam adentrar o local comigo para que fizéssemos uma busca de artefatos potencialmente valiosos e que algum burguês pagaria um montante bem maior que o do museu apenas para utilizá-lo como decoração.

Na entrada havia uma inscrição em uma língua antiga que mostrava que o local era um templo dedicado ao deus da cidade. Nós nunca havíamos ouvido falar dele.

Quando o encarregado da tradução me disse o significado da frase eu ri, como sempre ria frente a essas antigas crenças. Era um aviso para assustar intrusos: "Não entre se não desejar se entregar à servidão eterna, pois Yog Sototh a tudo vê, a tudo encontra e a tudo controla" 

Ignorei o aviso como de costume e iniciei a pilhagem.

É difícil dizer com palavras o que eu encontrei. Não sei descrever tamanha imponência e beleza. Estátuas de ouro maciço, com olhos feitos em pedras preciosas lavradas de forma tão precisa que nem o mais perfeccionista dos joalheiros encontraria algum defeito. Além disso, as paredes eram cobertas com inscrições e diagramas representando os rituais de adoração ao tal deus.

Ficaríamos ricos com as vendas para o mercado negro e escreveríamos nossos nomes na história pela descoberta e estudo das paredes. Pelo menos era o que acreditávamos até o cair da noite.

Não consegui adormecer por mais exaustivo que havia sido o dia. Eu imaginava que a excitação da descoberta mantinha minha mente ativa, mas algo dento de mim não parava de relembrar a frase "Yog Sototh a tudo vê, a tudo encontra e a tudo controla".

Ouvi o vento se agitando do lado de fora da minha barraca e imaginei que uma tempestade, muito comum naquela época do ano, se aproximava rapidamente de nosso acampamento.

O que vi não era uma tempestade. Na verdade não sei dizer o que vi, apenas o que senti. 

Medo.

Um medo tão primordial que não tive nenhum pensamento, nenhuma ação voluntária, apenas o instinto de sobrevivência me fez correr pelo deserto até desmaiar, exausto, no meio do nada.

No dia seguinte, me convenci que tudo havia sido uma alucinação causada pela exposição ao sol e ao cansaço e que havia sido alimentada pelo supersticioso aviso dos antigos habitantes da região.

Fiz a longa caminhada até o acampamento, mas nunca o encontrei. Não havia sinal de acampamento. Não havia sinal de escavação. Não havia sinal de que algum ser vivo havia estado ali desde o início dos tempos.

Voltei para Londres e tentei contatar os membros da universidade que havia patrocinado a expedição, mas todos alegavam que eu nunca havia saído da cidade. Tentei contatar as famílias dos membros de minha equipe, mas todos diziam que a pessoa por quem eu procurava nunca havia existido.

Para evitar ser tomado como um louco e aprisionado em um hospício onde ficaria privado de respostas pelo resto da vida eu decidi não contar minha história para ninguém e procurar sobre o tal Yog Sototh.

Infelizmente, minha busca logo me revelou informações. Sim, infelizmente. Descobri que o nome aparecia em uma espécie de compendium escrito por Abdul Alhazred, também chamado de "O Árabe Louco". O tal livro, o Necronomicon, descrevia diversas criaturas, rituais e deuses.

Em suas páginas eu encontrei as informações sobre Yog Sototh.

Em suas páginas eu encontrei as respostas às minhas perguntas.

Em suas páginas eu encontrei a minha perdição.

Pois nas páginas daquele livro eu vi a verdadeira face dos criadores do universo, eu vi seus objetivos. Por mais que eles nos odeiem, eu preciso adorá-los, eu preciso realizar os rituais, eu preciso trazê-los ao mundo.

Me dê aquele livro.

Não! Me ajude, me afaste do livro.

Eu preciso do livro, traga-o a mim.

Ah! O maldito livro...

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