Minha vista estava embaçada, porém ainda assim pude visualizar logo a frente o caçador que havia arrancado minhas asas. Quando se aproximou, trouxe consigo uma pena em suas mãos, ele balançou em frente ao meu rosto mostrando que era minha. Respirei profundamente e pude sentir o cheiro de sangue.
— Solte-me — sussurrei, minha boca estava seca, não possui nem forças para xinga-lo.
— Estou esperando ansiosamente Zoe, quando ela chegar talvez você seja libertada, ou morrerá junto com ela.
Ouvi batidas e uma voz feminina chamou pelo caçador.
— Venha Diego, eles estão aqui.
— Vejamos que chegou a hora.
Ele deu as costas para mim, e saiu do local me deixando a sós.
Olhei para cima encarando meus braços que ainda estavam presos pelas correntes, forcei-os para baixo em uma tentativa falha de me soltar.
— Eu deveria ser mais forte que isso.
Forcei novamente meus braços, porém senti uma imensa dor a onde antes estavam minhas asas.
— Alice — ouvi meu nome, mas não identifiquei de onde vinha a voz. — Minha doce Alice.
Forcei meus olhos, e então o visualizei.
A mesma criatura que me tornara um demônio estava em minha frente. Não havia duvidas que era ele, as enormes asas e os olhos de um vermelho intenso.
— Ajude-me — pedi. — Foi você quem fez isso comigo, então ajude-me.
A criatura balançou a cabeça em afirmativo e encarou as correntes que logo estouraram, assim libertando-me. Ele pegou a adaga que ainda estava suja com meu sangue e estendeu para mim, assim que a paguei ele desapareceu.
Sem me questionar a recente presença, corri até encontrar a maçaneta em meio ao escuro e abri a porta, assim que meus olhos começaram a se acostumar com a claridade, comecei a caminha pelo corredor na esperança que eu encontrasse a saída.
Ouvi o barulho de tiro, e meu cabelo balançou com o vento que a bala fez ao passar pelo lado de meu rosto, havia um caçador em minha frente pronto para fazer o próximo disparo.
Joguei-me para o lado quando ele atirou, e lancei a adaga em sua direção acertando em cheio sua arma que caiu de suas mãos.
Acelerei meus passos e pulei em cima dele, antes que ele recuperasse sua arma.
O caçador conseguiu facilmente ficar sobre mim, e soqueou meu rosto, o empurrei com força para afasta-lo de mim, e recuperei a adaga que estava caída no chão, quando ele se aproximou para dar uma ajoelhada em meu estomago, eu agilmente finquei a adaga na região de seu coração.
Respirei profundamente para retomar o folego e voltar a correr pelos corredores.
Por fim visualizei aquele mesmo homem que antes me salvara na morada da lua, ele segurava uma enorme espada.
— Erick! — chamei.
Seus olhos cinzentos me visualizaram e então corri em sua direção, não faço ideia de como consegui forças para alcança-lo, assim que estava mais perto me joguei em seus braços. Ele soltou sua espada para conseguir me segurar, meus braços contornaram seu pescoço, e os dele se fecharam em volta de minha cintura.
— Suas asas? — perguntou.
— Erick — falei novamente seu nome, agora com a voz chorosa.
— Meus homens estão feridos, preciso que você aguente mais um pouco, pode fazer isso por mim? — respirei profundamente e assenti, ele sorriu e falou. — Vamos sair daqui Alice.
Erick entrelaçou suas mãos na minha e começamos a correr em direção a uma janela, fechei os olhos quando pulamos, quebramos o vidro da janela e os estilhaços caíram sobre nós.
— Recuar! — Erick gritou para os seus caçadores, e logo todos começaram a fugir.
Escutei mais tiros, mas não olhei para trás, apenas continuei seguindo os passos de Erick.
Quando nos distanciamos bastante da morada, Erick me puxou para seu colo e sugeriu.
— Estaremos em breve em casa Alice, enquanto isso feche os olhos e adormeça.
Antes mesmo de eu relutar, apaguei.
***
— Alice! — ouvi uma voz feminina gritar.
Abri meus olhos e visualizei Erick olhando-me, ainda estava em seu colo, observei em volta e sabia que estávamos entrando na morada da lua.
— Está tudo bem — Erick sussurrou.
— Alice! — novamente gritou a voz feminina, ergui minha cabeça para poder encarar de quem vinha a voz, e então notei que era Zoe.
— Estou bem, posso andar — falei para Erick. Ele assentiu e me ajudou a ficar em pé, mas seus braços em volta de minha cintura.
Zoe correu em minha direção e me abraçou.
— Você me deixou tão preocupada — Zoe se afastou e olhando para Erick agradeceu por ter me salvado. — Agora a leve para a enfermaria.
Erick andava lentamente para me acompanhar, sempre me olhando com medo que a qualquer momento eu pudesse desmaiar.
Assim que chegamos na enfermaria, deitei-me na cama e Erick sentou-se ao lado segurando uma de minhas mãos.
— Obrigada — agradeci.
— Se for para morrer, tem que ser pelos caçadores da lua e não do sol.
Eu dei uma gargalhada e falei.
— Essa é sua tentativa de ser carinhoso.
Ele sorriu.
— Tento melhorar a cada dia — voltou a ficar sério antes de perguntar. — E suas asas, elas vão voltar a nascer?
— Não sei, nunca experimentei arranca-las.
— O que eles fizeram com você?
— Me prenderam, perfuraram minha pele e arrancaram minhas asas.
— Como conseguiu sair?
— Consegui quebrar as correntes — menti. Não podia simplesmente falar que o mesmo demônio que me transformara havia me salvo.
— Sinto muito por demorarmos a chegar — ele segurou firmemente minhas mãos como se demonstrasse preocupação.
— O importante é que chegaram.
Erick levantou-se da cadeira, e então disse.
— Talvez haja como mudar o que você é.
Não o respondi, apenas fiquei o encarando.
Uma enfermeira abriu a porta, e antes de Erick sair, se aproximou de mim e sussurrou próximo aos meus ouvidos.
— Pela primeira vez parece que um demônio me conquistou.
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Criatura da Noite
FantasiAinda criança, Alice foi transformada em um demônio, tivera que se acostumar desde cedo com suas asas, os olhos de um vermelho intenso, e o longo rabo que flutuava no ar. Haviam caçadores que estavam atrás de demônios como Alice, e seu primeiro enco...