Capítulo 3

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Faltava um dia para a festa dos Collins, não havia nenhum assunto mais importante na pequena Ouro Verde. O sino foi tocado mais três vezes, sinalizando que o ano novo estava próximo. Famílias caminhavam pela praça, sorrindo alegremente ao ouvir o badalar do grande sino central. Mulheres e filhas saiam de lojas em lojas, fazendo as compras para as vestimentas da grande noite. As damas batiam as colheres nas bordas das xícaras para beber mais um gole do chá e retornar com novo fôlego para comentar sobre a festa. Em todos os lugares eram o mesmo assunto. Claro, que não incluía a residência Mentis.

— Isso é absurdo! — Lemont deu sua tacada, colocando o taco atrás dos ombros com os braços levantados.

— Não, não é, é a lei — Seu irmão calculou milimetricamente onde a bola parou para tacar mais longe. — É óbvio que se você partir para violência com alguém terá consequências, irmão — Ele inclinou o taco para trás criando impulso para acertar a bolinha.

— Além disso... — Sua irmã abriu os braços, empurrando-os para ter espaço no meio deles. — Se você arrumar confusão com alguém, não irá só para cadeia, mas antes estará no hospital. — Falou em zombaria.

— Está insinuando que não me sairia bem em uma luta? — Lemont inclinou a cabeça para olhar a tacada da irmã, sendo a mais forte dos três, com a bola amarela em uma distância que era impossível passar. — Está certa! — Concluiu ele. — Quero saber para ter minha defesa quando alguém tentar algo. — ele pegou outra bolinha azul do cesto, a cor que escolheu para jogar. Lançando ela mais longe que a bola verde de seu irmão. Se Paul errasse sua tacada, ele ganharia. Paul se distraiu com os pulos eufóricos de Lemont, fazendo sua bola sair como um rato assustado a poucos centímetros de distância deles.

Lemont comemorou, dobrando o cotovelo no ar ao ver que ganhou. Bem, só havia ganhado de Paul.

— Quer dizer quando for pego por um marido ao descobrir suas escapadas? — Paul provocou o irmão, sem esconder no sorriso sorrateiro a sua intenção..

— Foi só uma vez! — Lemont lançou o taco no ar, caindo na provocação do irmão. — E você sabe disso. Não tinha intenção e nem tenho a intenção de me envolver com mulheres casadas.

Paul sorriu, dando espaço para as covinhas de seu rosto fino.

— Mas quase foi pego. — Francis seguiu com a provocação.

— Lanche, queridos! — Morgali desceu as escadas segurando uma bandeja com xícaras, sendo seguida por Judite que segurava outra bandeja com doces e biscoito que ela preparou pela manhã.

Morgali sentou, tirando as xícaras da bandeja e preparando o café dos filhos. Conhecia o gosto de cada um: Paul gostava com dois cubos de açúcar, Francis com apenas um cubo e Lemont gostava de café puro. Judite tirou os curtos fios pretos da frente dos olhos, mas o vento forte da manhã não a ajudava. Ficou tão irritada ao ver um fio do seu cabelo caindo nos biscoitos, que bufou, fazendo as rugas que conquistou com o avanço da idade transparecer em sua face irritada.

Os irmãos deixaram os tacos de lado e foram ao encontro da sua mãe. Paul ajudou Judite, tirando as vasilhas de biscoitos e colocando na mesa. O rapaz era um excelente cavalheiro, levou a outra bandeja com Judite para a cozinha, retornando para o jardim após ajudá-la. Ele foi o último a sentar, dando um tapa na mão de Lemont ao ver que ele estava indo com seus dedos como uma formiga em direção ao último bolinho de cenoura.

— Hum... — Lemont limpou os lábios com o guardanapo — Irei comprar um terno para a festa. Quer que eu lhe compre uma calça, irmã? — Virou seu corpo para olhá-la.

— Não há necessidade, mas agradeço. — ela pôs a mão na frente para tampar os farelos de biscoito que mastigava.

Lemont batucou os dedos no braço da cadeira, sentou-se sem postura, suas costas não encostaram na cadeira.

Por Todas As Coisas Não Vividas - Série Amores em Ouro Verde: 1 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora