Capítulo 4

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O café da manhã na casa dos Mentis foi indigesto, mas não pela comida — que estava deliciosa — de Judite, mas pelo assunto controverso que a presença do rapaz, Cristopher Pilmon, trouxe para dentro da mansão. Francis revirou os olhos tantas vezes que estava quase ficando com dor de cabeça, não entrava em seu entendimento que alguém tão gentil como o Cristopher tem o sobrenome de um homem tão odioso.

— Então foi o pai do Cristopher que ajudou o Francisco a fugir? — Francis cuspiu a pergunta, sentindo seu estômago embrulhar novamente.

— Não sei se é o pai dele. — Morgali circulou a borda da sua xícara com o seu indicador.

Esse assunto incomodava tanto Morgali, que ela não tocou no café, deixando o líquido preto esfriar em sua frente, apenas fazendo subir o vapor em sua mão enquanto mexia na xícara.

— Perdão, mamãe! — Francis jogou o guardanapo na mesa, levantando o olhar para a sua mãe. — Não irei mais trazê-lo aqui em casa

— Claro que não, querida. — Morgali olhou fundo nos olhos castanhos-escuros da filha. — Não se limite por questões passadas da minha vida. O rapaz pareceu ser um verdadeiro cavalheiro. Não fez muito caso com o vidro quebrado. Enfim, não quero que as questões do seu pai atrapalhem de alguma forma a vossa vida.

— O que é isso? — Lemont surgiu, beijando a cabeça de sua mãe, roubando um biscoito do prato de Francis. — Por que estão falando de fantasmas logo pela manhã? Em um dia tão bonito — ele abriu os braços em frente à janela. — Lembrando ser o grande dia da festa dos Collins. Não vamos ter uma indigestão logo hoje.

— Seu irmão tem razão, não vamos falar de fantasmas. — Morgali sorriu, aproximando uma xícara vazia para o filho beber algo.

Francisco Mentis não morreu, isso era um fato que todos sabiam. Dentro e fora da família, mas, para Morgali e todos dentro daquela casa, foi mais prático considerá-lo como morto para não tocar mais no nome do homem que, por inconveniência do destino, era o pai deles.

Francisco fugiu com uma moça que era governanta na casa dos Pilmons, acobertado e protegido por Marcos Pilmon, proprietário e regente da família, e grande amigo de Francisco. Aquela história já havia sido digerida pelos Mentis que restaram em Ouro Verde. Mas, nem todos, Morgali não sabia, mas a história do Francisco mexia de forma inconsciente com sua filha. Francis, por saber que o homem que tinha o seu sangue, fugiu um dia depois do seu nascimento, sentia um aperto em seu coração sempre que a história retornava para assombrar a família, como um fantasma. Ela não falava sobre isso com a mãe ou com os irmãos, mas se culpara durante esses 20 anos, como sendo a responsável de ter feito o Francisco desistir das obrigações familiares.

Isso era irracional. Morgali nunca considerou nada assim, muito menos os seus irmãos, que se soubessem que esse pensamento atormentava a cabeça da irmã, não se perdoariam por deixá-la remoer isso durante tantos anos. Morgali e seus filhos sabiam que o único culpado de tudo era, ninguém menos, que o próprio Francisco.

Mas a culpa já estava plantada na cabeça da jovem, o suficiente para guardar rancor pelo Pilmon, não só por acobertar o Francisco, mas por se abster da responsabilidade e deixar sua mãe desamparada sem respostas, após Francisco fugir sem dar mais explicações, deixando sua mãe com dois filhos de 8 e 5 anos para cuidar, e uma filha recém-nascida.

— Qual o assunto? — Paul sentou, ainda dando nó em sua gravata.

— O fantasma! — respondeu Lemont, afundando seu braço entre as pernas, na sua posição confortável de sempre, com os ombros encostados na cadeira e o corpo escorregado para baixo.

— Por que isso logo pela manhã? — Paul largou a xícara, cerrando os olhos.

— Minha culpa, perdão. — Francis sorriu, olhando sem jeito.

Por Todas As Coisas Não Vividas - Série Amores em Ouro Verde: 1 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora