A Aventura Começa

Capítulo 5: Tique-taque

          Jim tirou suas roupas de ginástica, tentando não engasgar com o odor corporal forte e o desodorante em spray que encheram o vestiário. Bobby sentou no banco ao lado dele, lutando para pôr suas meias. Infelizmente, as calças justas que sua vovó comprou para ele não deixavam Bobby dobrar os joelhos.

          — Ai, tá quase... — Bobby grunhiu. — Você falou com ela?

          — Falei — disse Jim, olhando em volta. Ele e Bobby eram as últimas pessoas no vestiário – o que provavelmente era bom, porque Bobby acidentalmente escorregou do banco, caiu para trás e bateu com a cabeça em um armário com um estrondo metálico retumbante.

          — Tipo, falou de verdade — perguntou Bobby, aparentemente ileso pelo machucado na cabeça. — ou foi coisa da sua imaginação?

          — Eu até gastei o meu español com ela — Jim disse. Ele abriu sua mochila e encontrou o Amuleto ainda lá dentro.

          — Acho que você devia tentar — disse Bobby, agora em pé com uma ideia se formando em sua mente.

          — O quê? A peça? — Jim disse. — Eu não sou ator.

         Bobby lutou com a meia novamente e disse, com esforço:

         — Qual é. Você vive dizendo que quer mais emoção na sua vida. Não é?

         — Eu não tenho certeza se Romeu e Julieta é a solução, Bobby — Jim disse, considerando o Amuleto em sua mão. — Eu não quis dizer... sabe, emoção, eu quis dizer...

          Ele estudou seu reflexo na face polida do Amuleto, seu rosto parecia distorcido pelas pequenas inscrições no metal. Jim mal reconheceu a pessoa olhando para ele.

          — Mais — Jim terminou. — É que eu preciso saber que a vida é algo mais do que só escola.

          Com o canto do olho, Jim percebeu um movimento repentino e sombrio. Ele rapidamente devolveu o Amuleto para sua mochila e olhou para o fim da fileira de bancos, mas não viu nada ali.

          — Além da escola? — Bobby perguntou. Aquela meia estava resistindo tanto que ele não percebeu um barulho de chocalho que veio do outro lado dos armários.

          Mas Jim ouviu. Ele deixou Bobby com suas meias e calças apertadas e seguiu o barulho pelo corredor. Um vapor espesso saiu do banheiro logo atrás dele.

          — Alguém aí? —Jim disse. — Olá, tem alguém aí?

          Algumas vezes, os outros caras na aula de Educação Física se esqueciam de desligar os chuveiros, desperdiçando litros e litros apesar da recente seca. Normalmente, Jim ouviria suas vozes ecoando nas paredes de ladrilhos enquanto eles brincavam e batiam toalhas uns nos outros.

          Mas agora o banheiro estava silencioso, exceto pelo leve chiado da água.

          — Oiê? — Jim disse de novo, se aproximando do chuveiro, seu pulso aumentando.

          Se ele tivesse deixado o amuleto na mão, Jim teria notado como o painel de vidro em sua frente começou a brilhar em azul. Como um aviso. Mas o amuleto permaneceu em sua bolsa, e Jim entrou no banheiro, seus tênis rangendo contra o chão molhado.

          Jim podia sentir seu coração batendo em seu peito. Seus olhos estavam se estreitando para ver através daquela névoa quando uma forma deslizou pelo outro lado dos chuveiros e mergulhou em uma cabine.

          Jim engasgou quando um grito alto veio atrás dele.

          — Consegui um! Uhuuu! — Bobby gritou triunfantemente, admirando a meia agora em seu pé.