— Maldita luz do sol! — gritou Blinky.
Suas quatro mãos sacudiram a grade de metal corroída do túnel de drenagem à sua frente, mas não se moveu. AAAAAAAAH!!!, encurvado atrás de Blinky, estremeceu com o barulho, os olhos cheios de lágrimas. Pois os dois Trolls haviam assistido daquele esconderijo escuro no canal seco enquanto seu melhor amigo, Kanjigar, se sacrificava poucas horas atrás.
Blinky e AAAAAAAAH!!! se sentiram perturbados depois que Kanjigar deixou a biblioteca da tradição Troll. Algo que ele tinha dito – ou que não tinha dito – e a maneira com que os olhos do caçador de Trolls nem chegavam a encontrar os deles, os preocupou. Então quando Kanjigar estava atrasado para retornar da patrulha noturna, Blinky e AAAAAAAAH!!! viajaram do Mercado Troll para o túnel no mundo da superfície.
Quando o sol apareceu no nevoeiro da manhã, os dois Trolls pegaram o último segundo da batalha final de Kanjigar com Bular. AAAAAAAAH!!! poderia ter facilmente derrubado a grade com sua tremenda força, mas a luz do dia preencheu o canal entre o túnel deles e a ponte. Blinky gritou no topo de seus pulmões para tentar distrair Bular. Mas a ponte estava muito longe. E os dois Trolls assistiram horrorizados quando o Caçador de Trolls se jogou da ponte e bateu contra o fundo do canal em milhares de fragmentos de rocha.
AAAAAAAAH!!! teve que desviar o olhar depois disso, mas Blinky obteve alguma satisfação sombria ao espiar Bular enquanto o troll escuro tentava em vão alcançar o amuleto enterrado nos restos mortais de Kanjigar. Toda vez que Bular se aproximava da pilha de escombros, os raios de sol que o cercavam queimavam sua pele de pedra. Depois de muitas tentativas falhas e rugidos de frustração – e a cidade humana acordando – Bular finalmente recuou para o bosque próximo, o qual ainda estava intocado pelo sol da manhã. Por um longo tempo, Blinky e AAAAAAAAH!!! ficaram sem falar nada. Eles só ficaram sentados ali, no túnel úmido e mofado, sem palavras com o coração partido.
— Por quê? — Blinky proferiu em um sussurro rouco — Porque Kanjigar não aceitou nossa ajuda quando o oferecemos mais cedo? Talvez se eu tivesse sido mais forte na minha...
— Não — resmungou AAAAAAAAH!!!. — Kanjigar quis dessa maneira.
— Mas... por quê? — Blinky teve que perguntar de novo.
A pergunta o incomodou, e suas seis sobrancelhas estavam arqueadas em confusão, até que ele ouviu um novo som sobre o fraco fio de água do esgoto. Olhando através da grade para o canal, Blinky avistou um garoto humano em sua – oh, do que são chamadas? Ah, sim – bicicleta. O garoto removeu seu capacete e massageou as têmporas como se estivesse lutando contra uma dor de cabeça.
Um garoto maior logo se juntou ao primeiro no canal, embora ele parecesse estar em muito menos controle de sua bicicleta. Gritando, ele acelerou pela encosta do canal, passou pelo amigo, rolou para trás e caiu de cara no chão.
— HA! Quão impressionante somos? — Blinky ouviu o garoto largo gemer quando ele se levantou do concreto, levantando um fraco polegar para cima. — Nós somos impressionantes!
AAAAAAAAH!!! foi despertado pela comoção e olhou por cima do ombro de Blinky para os dois jovens humanos. Em silêncio, os Trolls assistiram o garoto de cabelo escuro soltar seu capacete cuidadosamente para o lado. Ele deu um passo incerto em direção aos restos de Kanjigar, depois outro.
— Grande Gronka Morka — Blinky proferiu em voz baixa.
— Você que diz — AAAAAAAAH!!! sussurrou de volta.
• • •
— JAMES LAKE.
A voz na cabeça de Jim estava crescendo tanto, que ele pensou que seu crânio ia explodir. Ele tirou seu capacete para aliviar a pressão e tropeçou para a frente. De alguma maneira, andar naquela direção diminuiu a intensidade da voz. Jim deu outro passo, e a voz ficou mais calma ainda. Olhando para a frente, Jim descobriu uma pilha de escombros no centro do canal, bem embaixo da ponte.
— JAMES LAKE — a voz chamou de novo.
— Aí. Aí, Bobby — Jim chamou por cima do ombro enquanto se ajoelhava na frente da pilha de pedras. — Você ouviu uma voz?
— Que voz? — Bobby perguntou, alcançando Jim e encarando as pedras estilhaçadas.
"Ótimo" Jim pensou. "Agora estou imaginando vozes que só eu posso ouvir. Acho que posso acrescentar insanidade à minha impopularidade e média podre de notas."
— JAMES LAKE — a voz chamou das rochas. Era tão alta que tanto Jim quanto Bobby caíram para trás de surpresa.
Os dois amigos trocaram um olhar assustado. Por um lado, Jim estava feliz que Bobby ouviu também. Isso significa que Jim não estava louco. Ou que a loucura poderia ser contagiosa e eles dois iam parar no hospital. Ao menos eles estariam juntos...
Mas por outro lado, pedras não deveriam falar diretamente para o cérebro de uma pessoa.
— Essa — Jim falou. — Esse monte de pedras sabe o meu nome.
Se aproximaram dos escombros. Jim olhou cautelosamente, mas Bobby deu de ombros.
— São ortoclásios. Minerais não falam — Bobby disse. Se tem uma coisa que ele gosta tanto quanto comida, é geologia.
A voz tinha parado de tocar na cabeça de Jim, embora ele ainda se sentisse obrigado a algo. Sua mão alcançou a pilha de rochas, quase contra a sua vontade.
— Eu tenho certeza que tem algum tipo de rádio por aqui — Bobby disse, enquanto os dedos de Jim se chocavam contra um objeto gelado entre as pedras. Mas com certeza não parecia com um rádio.
Jim removeu sua mão dos escombros. Abrindo a mão, ele descobriu um grande dispositivo circular na palma da mão, quase como um cronômetro enorme, mas feito de um metal cintilante que ele não reconheceu. Segurando-o mais perto, Jim estudou suas intrincadas engrenagens, suas gravuras e as estranhas palavras que haviam sido esculpidas.
— Huh — Jim disse. — Parece que é um amuleto.
Ainda escondidos no cano de esgoto, Blinky e AAAAAAAAH!!! se entreolharam quando ouviram o garoto dizer "amuleto".
Verdade seja dita, Bobby já foi vítima de milhares de brincadeiras durante sua infância e toda essa coisa com rochas e a voz gritava "pegadinha" para ele. Ele olhou para cima e gritou:
— Quem tá fazendo isso? Aparece agora!
Blinky e AAAAAAAAH!!! instintivamente se afastaram da grade. Enquanto isso, Jim segurava o misterioso Amuleto perto de sua orelha.
— Oiê? — Ele disse para o objeto. — Eu tô ouvindo.
Jim fechou seus olhos, esperando que a voz retornassse e talvez dissesse algo além de seu nome, quando....
TRIIIIIIIIMMMMM!
Jim e Bobby congelaram pelo som distante. Eles o conheciam muito bem.
— Ah! Ai, é a última chamada! — Jim disse. — Estamos tão atrasados que os nossos filhos vão ficar de castigo.
Sem pensar duas vezes, Jim colocou o Amuleto na mochila, arrumou o capacete, subiu na bicicleta e disse:
— Anda, Bobby! Ainda dá tempo!
— Eu tô atrás de você — Bobby respondeu enquanto ele e Jim passavam apressados pelo túnel de drenagem em direção à escola.
Assim que o som dos humanos diminuiu, Blinky e AAAAAAAAH!!! retornaram para perto da grade.
— Ele escolheu... um humano? — disse Blinky, com seus múltiplos olhos, desacreditado.
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A Aventura Começa
Fiction généraleTítulo original: The Adventure Begins Autor: Richard Ashley Hamilton Publicado em: 12 de dezembro de 2017 Nº de capítulos: 19 __________ Sinopse Jim Lake, de 15 anos, é apenas um adolescente comum. Até que ele é escolhido para ser o primeiro humano...