E lá estava ela. Com um vestido verde água, cheio de brilhos e volumes um tanto desnecessários na parte de trás. Sua mãe e seu primo a arrastaram até lá. Até que sua irmã não havia se envolvido muito, mas não se importava.
Estava presa em uma conversa maçante com um dos pretendentes que seu primo lhe arranjou. E tudo por culpa de todos que estavam sentados à mesa do jantar na semana anterior.— Céus. — Murmurou, depois de sair dos devaneios e focar no cavalheiro em sua frente. Sim, ele tinha um nome, e não ela não se lembrava dele.
O jovem a olhou dando um sorriso aberto e bem ensaiado, deu para perceber. Olívia só se deu conta que ele esperava ela dizer algo depois de alguns segundos, e ainda demorou mais alguns até dar o seu "melhor" sorriso e acenou de leve com a cabeça.
— De fato, Senhor...ahm. Sua história de vida é tocante.
Havia certo sarcasmo em sua fala, mesmo que sem querer. Mas ela disse o que todo homem quer ouvir depois de se gabar por quase uma hora de todas as suas "grandes" conquistas. Não é?Era incrível como poderia nunca aparecer em nenhum evento e dar a sorte de ser tão disputada em todos eles. Sorte sim, de acordo com sua mãe. Mas para Olívia só tornava tudo aquilo mais cansativo.
E ainda sim a hora que mais temia ainda não havia chegado. Hora de dançar. Mesmo com as melhores e mais elaboradas desculpas, não conseguiu se livrar da dança, nem mesmo depois de ficar com uma dor repentina e muito muito forte mesmo bem no ouvido.Quando viu já estava no meio do salão, esperando todos começarem a dançar feito bonecos.
E ela também era uma das bonecas. Olívia não era graciosa e misteriosa, muito menos discreta. Mesmo pisando em pedras ela as quebraria, seu primo quem disse. Mas sua mãe mesmo assim dizia que na dança, ela parecia uma dama de verdade.Primeiro, se curve. O cavalheiro na sua frente será seu par pelos próximos quatro ou cinco minutos decisivos. Tinham moças que diziam ter fisgado seus maridos com a dança.
Segundo, vocês se juntam e são dois passos para a esquerda, dois para a direita e então um…giro? Não. Não era hora de girar.E foi assim que Olívia acabou derrubando o próprio par, e mais outras duas ou três moças.
Mas reforçando, ela avisou. Sabia que acabaria estragando tudo nesse baile, assim como em suas outras tentativas de ser uma pessoa diferente quando estava em público. Mesmo sendo difícil admitir, como uma criança pequena e frágil, ela queria chorar. Chorar de vergonha. Por mais um desastre, ridículo e constrangedor.— Você está bem, Srta. Watson? — Não. Só queria correr dali. E foi isso o que ela fez.
Em situações assim, Olívia pensava em duas escolhas. Era como aquela coisa de "lutar ou fugir". E ela contava até três antes de escolher um dos dois. Na maioria das vezes preferia lutar. Como no dia que quebrou o vaso favorito de sua mãe e ao invés de esconder ou culpar sua irmã, foi lá e confessou. Mas em dias como o de hoje, ela escolhia fugir.Graças a Deus o seu desastre foi esquecido depois de um filho de alguém ter derramado, sem querer, uma jarra de vinho inteira sobre o vestido de uma mulher de um conde, pelo menos era o que Olívia pensara já que todos ficaram tão comovidos.
E depois de ter se encolhido em um canto da festa por quase duas horas inteiras, algo, ou melhor, alguém chamou sua atenção.Na verdade um cabelo, que prendeu sua atenção. Um cabelo ruivo e levemente ondulado que parecia estranho de tão familiar que era. Ela ficou curiosa, pois não sabia de muitas famílias que possuíam aquela cor viva e natural de cabelo. Então sim, seguiu discretamente um rapaz durante um tempo, mas ele estava sempre andando, então só o viu de costas.
Era conhecido, já que parou pelo menos umas cinco vezes em cada corredor que passou. E Olívia estava vendo tudo de longe, com o seu nada chamativo vestido verde água. Desculpe, eu preciso reforçar já que sua mãe a fez vestir um exagero pomposo desses.Mas, voltando a falar do menino de cabelos interessantes, ela o seguiu porque quem sabe, ele poderia ser o menino com quem estava sonhando esses dias. Sério. Vai que Deus ou o Universo decidiram fazer da vida dela um imenso clichê. Não custava ficar atenta.
E então conseguiu notar uma situação um tanto comum começar. Uma mãe estava empurrando a filha para o rapaz de cabelos avermelhados, mas ele parecia não estar mesmo, de jeito nenhum interessado em levar a próxima dança com ela. Diria que ele parecia até desesperado com a ideia.
Algo rápido demais aconteceu. Quando o rapaz se virou e Olívia pode vê-lo e muito bem mesmo. Estava paralisada, e ofegou pensando em se beliscar para ver se não estava ficando maluca. Mas… ele estava bem ali. E não só estava ali como estava vindo na sua direção e em poucos segundos se curvou e a olhou, quase parando também.— Por favor, diga que vai dançar comigo.
Ele estava tocando em sua mão. Bem, na ponta dos dedos, mas estava.— Uh?
Tantas coisas. E esse foi o único som que passou pela boca de Olívia.— Dance comigo, senhorita. Preciso que me faça esse favor, ou então serei obrigado a passar horas com uma companhia não muito desejada.
Ainda não havia olhado nos olhos da menina que estava abordando. Estava só desesperado demais para fugir das garras afiadas da mãe de Ashley. Uma das meninas que tentava loucamente se casar com ele. E então a primeira saída que achou foi dizer que já tinha prometido a próxima dança a outra pessoa. E a única dama próxima era a menina de vestido verde. Ou azul. Ele não sabia diferenciar.
Quando enfim, levantou o olhar, sentiu seu corpo todo esquentar e estremecer ao mesmo tempo, como se tivesse levado um tipo de choque. Era...ela. Impossível. Essa era a maior coincidência que poderia acontecer em séculos. Como ele poderia encontrar alguém com quem sonhou? Talvez, estivesse maluco. Bem que Julie disse que passar muito tempo sozinho faz mal para a cabeça. Mas… mesmo se estivesse louco, não se importaria.
Estava sonhando com a mesma dama faz semanas e a encontrou assim, do nada.A música começou.
E ele acordou do surto interno, puxando a moça para o meio do salão, sem desrespeitar a mesma, claro.
Ela concordou em dançar, ou quase isso. Pelo menos balançou a cabeça para cima e para baixo e isso era um sim, certo?Olívia ainda estava abismada com o garoto em sua frente. Ele era de carne e osso. Ela podia sentir, não de forma estranha mas, sabia que ele estava ali. Naquele momento. E estava dançando com ela de verdade. E ela não estava errando aquela dança ridícula!
Dane-se, talvez tivesse apenas cochilado no meio da festa e estava delirando. Mas por Deus, não se importaria de nunca mais acordar.
Foi tão real, e tão único.O cavalheiro dos seus sonhos, quer dizer, ele estava bem na sua frente.
E de verdade.
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Como Conseguir O Cavalheiro Dos Sonhos
RomantikAquele sonho, outra vez. Faziam dias em que Olívia tinha sonhos com aquele cavalheiro misterioso. E ela particularmente, havia encontrado seu porto seguro ali, naqueles pequenos momentos irreais.