Respingos de tinta.

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Era possível sentir o carinho da brisa suave em seu rosto.
Olívia amava a tranquilidade que aquele lugar passava para ela. Principalmente enquanto se balançava no balanço que seu pai construiu quando era menor, fingindo que ainda não tinha nenhuma obrigação em sua vida.

Logo, ele iria chegar.
Assim como sempre foi, desde o primeiro encontro.
Assim que o sonho se iniciava, Olívia se encontrava no balanço, ou perto do mesmo. Não demorava muito até que o rapaz chegasse com seu sorriso encantador. Mas depois dessa parte, tudo poderia acontecer. Já que cada sonho era diferente, sempre.

- Demorou mais do que o normal.
Comentou, e seus lábios involuntariamente se curvaram em um sorriso sutil.

- Me permiti viajar em alguns pensamentos antes de vir. - Se encostou na árvore de tronco grosso e forte, observando a jovem. - São roxos hoje; seus sapatos.

Abaixando o olhar para fitar os próprios sapatos, ela confirmou.
- Bem roxos. Eu...
E de repente sentiu que estava esquecendo de algo. Um momento? Não. Sentia as palavras presas em sua garganta, mas não conseguia lembrar. Ele pôde perceber seu olhar indo de um lado ao outro, como um relógio: um relógio bem rápido.

- Está tudo bem? - A pergunta soou mais estúpida do que o normal, mas de tanta força que fez para pensar, era possível ver os cantos de sua boca tremerem repetidas vezes. Finalmente, ela fez algo que não fosse encarar a alma dele. Era até como se saíssem faíscas dos cabelos castanhos dela, que ao Sol ficavam um pouco mais claros.

- O meu nome. - soltou em um murmúrio fácil de confundir entre animação e desespero. - Não me lembro de te ouvir dizendo o meu nome. E...e eu...
Algo a impedia de falar. Estava martelando em sua mente tentando fazer com que desviasse sua atenção. E se sentiu orgulhosa ao lembrar de algo que queria antes mesmo de fechar os olhos.
Apenas uma pergunta. Essa que agora ele não poderia fugir.

- Me diga... - Ela pegou nas mãos gélidas dele, o encarando outra vez. - Qual é o seu nome?

Pá.
Havia caído da cama.

A família Watson acordou cedo com um belo grito, meio suspiro e meio choro. Claro que prontamente uma aia adentrou o quarto, constrangida, mais por Olívia, que se encontrava em uma posição um tanto intrigante.
E depois de dizer a todos o motivo crucial de tanta tristeza é claro que o ódio matinal foi direcionado a sua pessoa.

- De todo o coração, iria amar que tivesse tido algum pesadelo interessante que envolvesse joaninhas gigantes que comem humanos. Como da outra vez. - Kevin comentou e sentiu, não viu mas sentiu, que Olívia havia feito uma daquelas caretas que te fazem questionar a beleza de alguém.

- Faz sete anos desde o último, tudo bem? Eu tive uma experiência traumática, é normal ter pesadelos. - A última palavra saiu abafada pelo o último pedaço de bolinho que ela colocou na boca. - E eu necessito safer o nome do rabaz.

Todos soltaram aquela risadinha soprada que se dá pelo nariz quando não se quer rir muito, precisa sorrir um pouco, mas um sorriso não é o bastante. E logo a manhã se despediu em um sopro.
Assim como a oportunidade de, teoricamente, saber o nome dele.

- Pelo amor de Deus, Alexander. - O jovem comentou entre uma risada contida. - Sua arte sobre a vida me faz querer morrer. Que maravilhoso.
Alex não esperava uma reação melhor do que essa, afinal o pintor ali era seu velho amigo.

- Eu tenho um dom encantador; deixar as pessoas deprimidas. - Piscou, limpando as mãos com um dos panos separados. E então ajeitou suas calças ao sair do banco alto. - Agora o seu quadro... Me deu fome.

- Então ele cumpriu bem seu papel. - Negou de forma bem humorada, apoiando o braço sobre os ombros do Lamont. - Sabe que podemos sair, Alex. Sinto quando está se sentindo preso.

Caleb não estava errado. Haviam dias em que seu pai se isolava no quarto e então todo o clima da casa mudava. Não que já não fosse pesado, e também não é como se Alex acreditasse em coisas espirituais. Mas era quase palpável a névoa de arrependimentos.
Especificamente quando isso acontecia, ele não saía de casa.
Se sentia nervoso e com toda certeza amarrado a alguma coisa que ainda não tinha descobrido o que era.

- Vou estar bem para sair quando as pinturas secarem. E por enquanto, vamos comer todas as coisas que seu quadro me fez lembrar que eu gosto.

Não foi preciso muito esforço para se distrair.

Piadas sempre foram o melhor jeito de disfarçar sentimentos intensos demais para se conversar.

Como Conseguir O Cavalheiro Dos SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora