Capítulo 2 - João Pedro

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Do alto do mezanino observo a festa se desenrolando no andar inferior. O hotel fazenda Belanucci foi uma boa escolha, apesar de afastado do centro da cidade, é espaçoso e conseguiu entregar exatamente o que planejamos para o lançamento da ArquiCasa, a mais nova revista de arquitetura e design de interiores do grupo editorial Goulart.

Os vários estilos de móveis espalhados pelo salão cumprem seu papel, dando a festa a identidade perfeita para a ocasião. Debruçado sobre o guarda-corpo, levo meu copo à boca, apreciando o sabor do Macallan 18. Porra, eu não poderia ser pobre! Tem gente que não vive sem café, eu não vivo sem um Whisky que tenha idade para pedir seu próprio whisky.

Apesar disso, essa noite, nem mesmo a minha bebida preferida espanta o tédio. A festa está perfeita, exatamente o que deveria ser, chata. Incontestavelmente, chata. Enquanto observo tudo se enrolar no andar abaixo de mim, sinto o telefone vibrar no bolso do terno. Ao pegá-lo, um sorriso cresce em meu rosto automaticamente, já não era sem tempo.

− Espero que você tenha trazido um pouco de diversão com você! Porque essa porra tá um saco. -Digo, e o filho da puta do outro lado da linha gargalha.

− Claro que está! Você sabe que eu sou a alma da festa, sem mim, qualquer uma fica morta. Mas pode relaxar, eu cheguei! -É a resposta que ouço e o sorriso na voz do meu amigo é tão claro quanto as vogais e consoantes que ele pronuncia.

− Se você conseguir animar essa festa, Marcos! Você é muito mais que a alma dela, você pode ser declarado, oficialmente, a porra de um santo! -Uma gargalhada efusiva alcança meus ouvidos e eu preciso afastar o telefone para não ficar surdo.

− Você sabe que foi você quem organizou essa festa, né?

− Porra nenhuma! Foi o setor de eventos, e eles fizeram um excelente trabalho para o público da revista. Mas, definitivamente, eu não faço parte desse grupo.

− Nem eu! Cheguei há cinco minutos e essa música já tá me dando nos nervos!

− Eu estou aqui há horas, meu amigo! Horas!

− Onde você está?

− No mezanino.

− Beleza! Chego aí em vinte minutos.

− E vai fazer o que durante esse tempo, Marcos?

− Cumprimentar as pessoas, porra! Minha mãe me deu educação.

− Vai pra porra, filho da puta! -Digo por último e desligo o telefone.

Com o celular em mãos, e sem nada melhor para fazer, aproveito para conferir minhas mensagens: mãe, trabalho, trabalho, trabalho, mulher, trabalho, trabalho, trabalho, mulher, trabalho, mulher, mulher, mulher, trabalho... nada importante. Deixo para responder minha mãe quando entrar no avião mais tarde. O próximo aplicativo a ser conferido é o de e-mails, o de trabalho está, como sempre, superlotado, e o pessoal, vazio.

Ninguém me manda um e-mail pessoal, para o endereço eletrônico, meu cpf não existe. Dos e-mails, passo para o Instagram, passeio por alguns perfis de arquitetos e empresas do ramo que estão presentes na festa, acompanhando por ali a cobertura que estão fazendo do evento em suas páginas. Leio comentários, vejo a repercussão e o número de pessoas acompanhando aa transmissão ao vivo do evento, me perdendo em trabalho, como sempre.

̶  Quem é vivo sempre aparece! -A voz de Marcos soa alta em meio à música ambiente chata para um caralho, tocando ao meu redor.

Me viro, encarando meu amigo, o filho da puta é uma vadia! Vestindo um terno azul marinho e camisa branca, o barbado loiro anda na minha direção já com os braços abertos para um abraço que eu recebo e retribuo de bom grado.

Contrato de PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora