Capítulo 13 - Eliza

437 50 0
                                    

− Então deixa eu ver se entendi... O e-mail que você me mandou, mas que eu nunca recebi, na verdade, foi parar na caixa de entrada de um empresário aqui de São Paulo mesmo, um cara super rico, que te chamou pra uma entrevista de emprego, e você foi, sem fazer ideia de que a vaga era pra ser puta dele. Quando descobriu, saiu correndo, mas ao invés de deixar o sapatinho de cristal pra trás, deixou a carteira de identidade, porque a gente é pobre e se deixasse o sapato, o príncipe nunca viria atrás, o chulé ia espantar. -Explica e faz uma pausa no próprio falatório para rir da piada que ela mesma contou: − Daí o homem te encontrou, veio até a sua casa, te comprou comida quando percebeu que você estava o dia inteiro sem comer, fez você implorar pra gozar nos dedos dele, disse que você é a puta dele e que era pra você ligar quando aceitasse isso?  -Joana pergunta, com as sobrancelhas arqueadas e uma expressão muito divertida em seu rosto, fazendo-me revirar os olhos.

− Basicamente. -Reconheço, derrotada, que sua narrativa absurda descreve com uma exatidão de detalhes perturbadora a novela que minha vida virou. E, para ela, é mais do que suficiente. Sua gargalhada sonora toma conta da minha casa e eu balanço a cabeça negativamente.

Hoje é o quinto dia no meu programa de reabilitação de João Pedro Govêa, e eu precisei pedir socorro, ou faria uma loucura. O homem simplesmente se recusa a abandonar meus pensamentos. Mesmo que, desde o dia em que Luiz esteve aqui para deixar as compras, eu não tenha mais tido notícias dele, continuo vendo-o em meus sonhos, e mais que apenas vê-lo. Sinto seu cheiro, seu gosto, seu toque, um inferno que está virando minha cabeça e me deixando a beira uma decisão muito absurda.

Foi isso o que me fez correr até a padaria na frente de casa ontem, colocar crédito no meu celular e ligar para Joana, implorando para que ela viesse almoçar comigo hoje. Eu precisava contar tudo o que vinha acontecendo na minha vida para alguém, ou eu explodiria. E por mais que eu realmente não quisesse contar para ela, porque sabia que esse seria exatamente o tipo de reação que ela teria, não é como se eu tivesse muitas opções.

Hoje faz exatamente uma semana que eu o vi pela primeira vez, e Senhor! Como eu quero vê-lo de novo! Desconfio que eu esteja com saudades. Mas como isso é possível? Como eu posso, em sã consciência, estar sentindo saudades de um homem que disse com todas as letras que eu era sua puta. Não sua namorada, ou alguém com quem ele se importava, ou, nem mesmo, sua amiga, mas sua puta!

E que cuidou de você, te fez gozar e saiu daqui sem nenhum tipo de satisfação pessoal, te comprou comida quando você estava um dia inteiro sem comer, e, no dia seguinte, mandou compras o suficiente pra alimentar uma pequena família da Malásia, e ainda te obrigou a aceitar... Meu subconsciente intrometido me lembra, dando mais uma marretada forte na parede de proteção que levantei contra a vontade de reconhecer meu próprio desejo de ligar para ele e dizer que sim, eu aceito, o que quer que ele me oferecer, eu aceito, porque ele estava certo o tempo todo, eu o desejo com uma loucura que eu nunca nem mesmo imaginei que viveria antes.

Esfrego as mãos sobre o rosto, tentando limpar a mente de toda essa confusão. A pequena mesa entre Joana e eu, ainda servida com o almoço, me confronta, me dizendo que, se não fosse por ele, a essa hora, eu provavelmente estaria dormindo para evitar sentir fome, como em tantos outros dias. Percebendo minha seriedade, Joana finalmente se esforça e para de rir.

− Qual é o grande problema, Eliza?

− Você tá realmente me perguntando isso, Jo?

− Sim! Eu tô! Porque está escrito na sua cara que você quer pular em cima do telefone e ligar pra esse cara. Então o que é que está te impedindo?

− Eu não sou uma prostituta, Joana!

− Mas quem foi que disse que você é? -Questiona, e eu reviro os olhos, perguntando silenciosamente "Sério?!"

Contrato de PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora