Capítulo 11 - Eliza

458 51 2
                                    

A porta fecha e eu continuo parada, olhando para ela, me perguntando se realmente não era um sonho. Com o olhar fixo, tantos sentimentos giram dentro de mim que me pergunto se sou capaz de dar conta de todos eles. Raiva, irritação, gratidão, um desejo incontestável e um outro sentimento que se parece muito com medo, mas que eu tenho certeza de que é sensatez. Expulsá-lo daqui era a única resposta possível, não era? Eu não sou uma prostituta e não serei tratada como uma! Não importa o quanto meu corpo pareça gostar desse tratamento... Desvio meus olhos para o meu braço e a marca avermelhada do beliscão que dei em mim mesma continua lá, firme e forte e, percebo, caminhando para se tornar roxa. Ótimo, todo castigo é pouco, não é mesmo?

Com as costas apoias à parede, deslizo até o chão, me sentando antes de deitar a cabeça no muro de concreto gelado. Como foi que tudo isso aconteceu? Quer dizer, isso não acontece na vida real, acontece? Homens gloriosamente lindos não entram nas vidas de mulheres pobres, desesperadas e virgens por causa de um e-mail sexual... Mas todo aquele porte..., aquelas palavras sujas e terrivelmente excitantes, o jeito dele de me beijar, me tocar, me provocar... Meu Deus! Bato a mão sobre o rosto quando a constatação me atinge com força: minha vida virou um romance fajuto, desses que eu leio para esquecer da vida, mas que, obviamente, nunca retratam algo possível!

João Pedro Govêa disse que me quer. Balanço a cabeça para um lado e para o outro, mas o riso brota no fundo da minha garganta e atravessa minha boca solto. Gargalho, rio com gosto por minutos a fio, até meus olhos arderem, lacrimejarem, até minha barriga doer e eu me contorcer no chão, porque eu virei uma mocinha de romances! Ai meu Deus! Deixo meu corpo terminar o caminho que começou e deito no chão, estirada no piso frio, penso sobre tudo o que acabou de acontecer.

O homem bateu na minha porta, invadiu minha casa, disse que me investigou, comprou comida pra mim, depois, fez eu implorar para ele me foder com os dedos. Ai meu Deus! E eu implorei, não implorei? Escondo meus olhos sob meu braço, fugindo da minha própria vergonha. Mas foi tão, tão bom... O cheiro, o gosto, o toque, o calor, tudo nele é malditamente bom. Quer dizer, tudo não. Ele não podia ter o pinto pequeno? Esse é um defeito com o qual seria muito mais fácil de lidar, já que nunca senti um dentro de mim, poderia me acostumar com o que viesse...

Sério, Eliza? Há horas atrás você mal conseguia pensar na palavra boceta, e agora está pensando que o cara poderia ter o pinto pequeno?  Sim, eu estou! Porque tudo seria absurdamente mais simples, fácil... Até porque, muito provavelmente, mesmo que ele não tivesse tudo aquilo que eu não vi, mas senti ser esfregado em mim várias e várias vezes essa noite, ainda assim, ele saberia usar com maestria, não saberia? Então seria um defeito muito mais fácil de lidar e ele nem seria tão prejudicado assim...

Mas não! O infeliz tinha que ser mandão, arrogante e escroto! Um macho escroto, ridículo, que diz que trata bem suas putas! Ai, que vontade de socar a cara dele! Mas depois ele disse que eu era "a" puta... Isso significa que não haverá outras? Ou só eu? Ai, Cristo! A que ponto eu cheguei, me autodeclarar puta não me incomoda, mas o fato de que ele pode ter outras, sim! Mas que e-mail maldito! Que ideia de Gerico, Eliza! Poxa vida! Por que não mandou uma mensagem de texto, um WhatsApp, qualquer coisa que você não pudesse errar a porcaria do endereço? Não, a estúpida aqui tinha que enviar um e-mail! Droga! Droga! Droga!

Encaro o teto encardido, descascado, cheio de infiltrações e me pergunto o que fazer. O desgraçado saiu daqui sem esconder a certeza que tinha de que eu voltaria atrás. E eu queria tanto dizer que ele está erado, tanto, mas não posso. Fecho os olhos e quase posso sentir seu gosto em minha língua, seu cheiro em meu nariz. Minha pele arrepia-se e eu gemo, frustrada. Droga, droga, droga!

Eu não menti. Não gosto da montanha russa em que é estar ao seu lado, mas, ao mesmo tempo, em dois encontros com ele, senti-me mais viva do que em minha vida inteira. Eu nem mesmo resisti, não quis resistir. E isso não é algo que eu faria, se fosse, eu não seria uma virgem de vinte e dois anos. Meu estômago ronca e eu coloco minha mão sobre minha barriga ainda descoberta.

Contrato de PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora