V

83 5 54
                                    

— Você não dorme nunca? — Asteria perguntou assim que entrou na sala de reuniões na manhã do dia seguinte, acompanhada por Liam e Gawen.

Louis, de fato, não dormira mais do que algumas horas na noite anterior. Ele se sentia esgotado e as dores em seu corpo não seriam resolvidas se ele continuasse com maus hábitos como aquele, mas o rei simplesmente não conseguiu evitar. Por isso, passou a noite em claro, revisando seus dias em Solaris e sua última conversa com o príncipe Edward.

— Ainda pergunta? Está estampado no rosto dele — Liam continuou o assunto.

Louis precisou controlar uma careta de desgosto. Ele se recusou a encarar seu reflexo no espelho naquela manhã, sabendo exatamente que o cansaço estaria refletido em todo o seu rosto. Suas criadas não mediram esforços para demonstrar que ele realmente precisava de cuidados.

— Sentem. — Ordenou Louis, com pouca paciência. Seu temperamento também estava se tornando um problema. — Notícias?

— Sim. Houve um novo ataque em uma cidade pequena de Lótus. Muitos mortos, ouro e tecidos roubados, nenhuma marca deixada para trás — Liam reportou, voltando a parecer profissional. — Eles... levaram crianças. Três delas.

Louis franziu o cenho. Aquilo era novo.

— Camponeses? O que fariam com camponeses? — Gawen questionou.

— A venda clandestina de crianças está aumentando na fronteira. Prendemos alguns dos criminosos, mas... — Asteria respondeu, os olhos prateados brilhantes com o ódio que sentia. — Além disso, se estamos sendo atacados por landlos, eles definitivamente precisam de soldados.

Landlos. Sem-terra. Aqueles que nunca pertenceram a nenhuma fronteira, nenhuma cidade, nenhuma cultura. Eram, em sua maioria, marginais que aceitavam todo tipo de trabalho sujo pela quantidade certa de dinheiro.

— Definitivamente treinarão os mais velhos — Liam proferiu, incomodado. — Mas não posso dizer o mesmo sobre os mais novos.

— Escravos, talvez? — Louis questionou. — De prazer?

Asteria assentiu.

Louis se sentiu enjoado.

— Lunafair não teve nenhum confronto direto desde que assumi o trono — Louis disse. — Talvez estejam se preparando para algo maior? Lunafair pode ser o alvo principal.

— Que venham, então — Liam rebateu, o rosto expressando a determinação de um guerreiro. — Não passarão das defesas.

— Pode me garantir que protegerá meu povo, capitão? — Louis questionou, mesmo que já soubesse a resposta.

— Com a minha vida — Liam respondeu.

— Capitã?

— Lunafair é tudo o que eu tenho, majestade — disse Asteria. — Farei o impossível para proteger o meu país.

Louis assentiu, satisfeito. Confiava em Asteria e Liam com sua própria vida – seu próprio povo.

— Temos o maior país de Mirdust. Se concentrarem os ataques aqui e conquistarem o forte, o restante do continente será muito mais fácil — Louis disse, abrindo o grande mapa em cima da mesa de madeira. — Heveel é o nosso ponto forte. Se nos derrubarem aqui, nos derrubarão aqui — apontou para Kunst, o segundo maior forte de Lunafair, onde ficava o palácio. — Se continuarem atacando cidades menores, perderemos inocentes demais. Mas, se abaixarmos a guarda nas maiores cidades, estaremos muito vulneráveis.

Liam concordou, aproximando-se para observar melhor.

— Não podemos perder força nos nossos melhores pontos — Liam disse, apontando para as três maiores cidades do país: Kunst, Efasia e Heveel. — Mas não podemos continuar perdendo nosso próprio povo.

Ashes and Flames - L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora