P.O.V. Atena
Otávio realmente é um otário. Como se não bastasse o comportamento infantil durante toda a reunião, ele ainda me expôs para estranhos.
Tudo isso porque nunca dei brecha pra ele e suas cantadas baratas. Ao passar por mim, olhando para o pai falou baixo mais uma de suas frases idiotas.
— Desculpa, Atena. Eu sempre me esqueço que sapatão mesmo achando que é homem, não é pai. Dê lembranças aos seus filhos sem pai.
Eu me segurei em respeito ao Orlando e para não dar plateia. O moleque mimado não sabe o que o espera.
Ele está achando que vai levar uma bolada se vendermos a empresa, mas o que ele não sabe é que todos os seus luxos e imaturidade custarão a boa vida que ele leva.
Otávio se envolveu em dois acidentes de trânsito graves, havendo inclusive um óbito no segundo.
Orlando moveu mundo e fundos, contratou o melhor advogado do país para ajudar o irresponsável, e ainda pagou indenizações para as vítimas.
Como o filho torrava o dinheiro da família com noitadas e viagens, eles não tinham mais uma poupança tão gorda.
No desespero, o patriarca pegou dinheiro emprestado com o caixa da construtora e colocou sua parte como garantia.
Ou seja, dependendo do valor da venda, eles não ficarão com tanto dinheiro assim, e o projeto de playboy vai ter que trabalhar de verdade para sustentar o nível de vida que está acostumado.
A reunião acabou e corri para o banheiro para me trocar, haverá apresentação de trabalho hoje na faculdade.
Coloco a mochila sobre a pia, solto o cabelo, molho do jeito que dá e o penteio com as mãos mesmo.
Tiro a botina, troco de calça e coloco a sapatilha. Tiro o restante do uniforme e quando pego a blusa limpa dentro da mochila, a porta se abre e as irmãs Meireles ficam paradas na entrada.
Elas me encaram por alguns segundos e eu fico paralisada de vergonha, com a blusa na mão. O clima estranho é quebrado por Juliana.
— Nossa Senhora, você malha onde? Já quero o nome do seu personal. Olha aquela barriga, Mari! Barriga, não, tanquinho!
— Meu personal? Ah, tá. Você deve estar falando do senhor Concreto e do senhor Tijolo! — Respondo rindo enquanto termino de me arrumar mais ou menos.
— Sério que você não malha? Sarada desse jeito?
— Não tenho tempo. Meu físico é por causa do trabalho mesmo. Às vezes, aliás, quase sempre, eu acabo colocando literalmente a mão na massa.
— Entendi. — Ela olha estranho para a irmã, que está me encarando calada e com as bochechas vermelhas. — Para onde será a carona do dia?
— Não precisa se preocupar. Hoje vou bancar a Angélica e vou de taxi.
Juliana gargalha e a irmã continua calada, porém consegui ver um sorrisinho de lado.
— Gostei de você, faço questão de te levar. Não me negue este prazer, morena.
Eu rio dela me chamando de morena. Se ela soubesse o efeito que isso causa sendo dito na hora certa...
— Mesmo lugar, apresentação de trabalho hoje.
— Então vamos.
Saímos do banheiro e nos dirigimos ao elevador, com a Mariana calada e as bochechas coradas o tempo todo. Ela me parece bem tímida, ou então está desconfortável com minha presença.
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Mariana: Quebrando paredes. (Degustação)
RomanceMariana Medeiros, arquiteta, 27 anos. Uma mulher solteira, inteligente, rica, mas muito tímida e não gosta de contatos físicos. Não sabe o que é sentir o sabor de um beijo, o prazer carnal, o amor. Atena Cabral, mestre de obras, 32 anos. Solteira...