Capítulo 01

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P.O.V. Atena

— Bora, Pereirão.

— Bora, Marcão. Vou só pegar a mochila lá no container e já saindo. Pode ir, tá quase na hora do seu busão.

— Vou te esperar, só tá nós dois aqui. te deixar sozinha não.

— Pode ir, vou pedir o moto-táxi de sempre, ele chega em cinco minutos. Vai na fé, cara. Até amanhã!

Olha lá hein. indo então, toma cuidado. Até amanhã, Pereirão.

É muito bacana o cuidado que os funcionários têm comigo. Ser a responsável por uma equipe praticamente toda masculina na área da construção civil não é fácil, mas com muito suor, dedicação e empatia, conquistei o meu lugar. 

Hoje lidero quarenta e cinco marmanjos e oito mulheres na maior obra da história da CL Construções. Meu pai deve estar orgulhoso de onde chegamos, esteja onde estiver.

Tranco o cadeado do portão da obra e pego o celular para chamar o meu transporte. Ou pelo menos essa era a ideia. Droga, está sem bateria. 

Será que esqueci de colocar pra carregar ontem a noite? Pelo visto sim. 

Merda. O jeito é andar até o ponto de ônibus e rezar pra passar um táxi, senão vou perder a prova do segundo horário.

Começo a caminhar rápido pela avenida meio deserta quando vejo um carro chique parado e uma moça muito elegante do lado de fora olhando para o celular. De repente ela se irrita e dá um chute no pneu, e como obviamente doeu, dá uns pulos segurando a ponta do pé. Que figura!

— Olá, posso ajudar?

— Olá! O pneu furou e eu não estou conseguindo sinal para chamar o reboque.

— Aqui só pega bem uma operadora. Eu até te emprestaria meu telefone, mas está descarregado. Você não deveria ficar aqui sozinha, a região ainda não é habitada e só tem obras. Pode ser perigoso, ainda mais com um carrão desse.

— Mas o que eu posso fazer? Não sei trocar pneu.

— É, e que eu saiba, não dá pra consertar pneu na base da bicuda, não é mesmo? — Ela riu e concordou. — Hum, que tal a gente fazer um combinado. Eu troco seu pneu e você me deixa num ponto de táxi?

Onde estou com a cabeça para me oferecer para uma carona com uma estranha? Não sei, talvez na prova que não posso perder. Além do mais, duvido que a patricinha seja perigosa.

— Moça, se você conseguir trocar esse bendito pneu, eu te deixo onde você quiser!

Ela disse tão desesperada que eu achei graça. Ser a filha mais velha numa casa de três e órfã de pai me transformou numa pessoa muito proativa para várias coisas. 

Desde muito nova era eu quem trocava o botijão de gás, a resistência do chuveiro, o pneu do Fusca, e qualquer conserto que fosse necessário.

O senhor Orlando sempre me ensinava essas coisas, e mamãe apoiava totalmente. Ela sempre disse que as pessoas, e principalmente as mulheres, precisam ser as mais independentes possível. 

Lá em casa todas sabem lavar, passar, cozinhar, trocar pneu, fazer pequenos consertos, independente de ser homem ou mulher. Inclusive o meu irmão Dionísio faz o melhor brigadeiro e Ártemis é a nossa bombeira hidráulica mais eficiente.

Troco o pneu com certa facilidade, pois mesmo que não tenha muita força nos braços como um homem, nada que uns pulos sobre a chave de roda para conseguir soltar os parafusos não resolva. 

Mariana: Quebrando paredes. (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora