I - A Lendária Casa Mal Assombrada

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— Chegamos. — Disse Pedro. 

Quando Laísa ouviu, olhou pela janela do carro e avistou uma casa, que parecia estar abandonada.

— Tem certeza que é aqui? — Perguntou, com receio de entrar.

— Está com medo, Laísa? — Apareceu a cabeça de Bernard entre as poltronas da frente.

 — Deixa de ser ridículo. — Revirou os olhos.

— Vamos nessa. — Prontificou-se Alicia. 

Então, todos tiraram os cintos e abriram as suas respectivas portas, com exceção de Laísa, que ainda fitava a casa.

— Laísa, — Pedro colocou sua mão sobre a dela. — vamos? — Despertando-se de seus devaneios, ela balançou a cabeça. 

Então, por fim, tirou seu cinto e abriu a porta. Após, eles saíram.

— Pedro, pode dar uma ajudinha aqui? — Alicia estava no porta-malas, tentando abri-lo. Pedro, observando, se aproximou e o abriu sem esforço. — Obrigada. — Deu um sorriso bobo.

Laísa e Bernard se aproximaram da parte traseira do carro e, então, todos pegaram suas mochilas para colocá-las em suas respectivas costas. Depois, seguiram em direção a casa.

— Não se preocupe, Laísa. A casa pode se apresentar assim, mas por dentro deve estar em bom estado. Não vai acontecer nada demais. — Pedro, que andava ao lado de Laísa, falou, em uma tentativa de confortá-la.

— Assim espero. — Ela pensou e sorriu.

— É... ou deve ter um monte de fantasmas prontos para te atacar. — Brincou Bernard, fazendo gestos com as mãos para imitar um fantasma. Ela deu um soco em seu ombro, o que o fez rir ainda mais.

Quando eles subiram os degraus da escadaria, perceberam que se rangeram, o que demonstrou o estado precário da casa. Pedro tirou a chave do bolso de sua calça e destrancou a porta a fim de abri-la.

— Ou não. — Sussurrou Pedro, com os olhos de todos espantados.

Dentro da casa, havia uma sala pequena com uma porta de correr, que levava a um pequeno jardim, e com uma porta embutida, que aparentava ser o banheiro. O cômodo continha dois sofás antigos, com uma pequena televisão à frente, e uma escada, a qual levava para o andar de cima.

— Será que tem como voltar atrás? — Perguntou Laísa, quase em um sussurro. Sorte que ninguém a ouviu.

— Cadê a cozinha daqui? — Perguntou Bernard.

— Parece não ter. — Os olhos incrédulos de Pedro ainda observavam o cômodo.

— Sorte que comigo vocês não irão passar fome. — Disse em um tom de deboche.

Então, ouviram um barulho de ranger da escada. 

— Vocês vão vir ou não? — Era Alicia, já subindo para o andar de cima. Então, eles a seguiram, com seus pés fazendo rangidos nos degraus, que, à medida que pisavam neles, ecoavam um som agonizante.

— Cadê o meu obrigado? — Perguntou Bernard, enquanto subiam a escada.

— Se continuar assim, vai ganhar outro soco. — Quando Laísa o amedrontou, Bernard fez um gesto para demonstrar que tinha se ofendido.

Quando, enfim, chegaram ao andar de cima, avistaram três portas em um pequeno corredor, com uma delas apresentando várias faixas amarelas escritas: Não ultrapasse.

— Alicia, aonde pensa que vai? — Perguntou Pedro, quando a viu seguindo em direção à porta proibida.

— Vou ver o que tem atrás daquela porta. — Pedro correu para ficar em frente à Alicia, que, consequentemente, parou de andar. — O que foi? — Ela cruzou os braços. — Você acha mesmo que esses avisos vão me parar? — Alicia balançou a cabeça, dando meia volta no Pedro, porém, ele a pegou pelo braço.

— Nem pense nisso, Alicia. — Ele olhou para o fundo de seus olhos. Então, à medida que via que ela cedia, soltava seu braço.

— Tudo bem. — Com ela bufando, Pedro o soltou de vez. Depois, eles seguiram na direção oposta. — Vem, Laísa, vamos ver o nosso quarto. — Ela a puxou pela sua mão e abriu uma das outras portas.

— Dá pra piorar? — Laísa se fez uma pergunta retórica, assim que viu o estado catatônico do quarto delas, quando entraram.

Havia apenas uma cama de casal não muito confortável. Além disso, as paredes amarronzadas do cômodo pareciam estar se rachando, sendo que algumas partes já estavam nesse estado.

— Isso não é adorável? — Perguntou Alicia, sentando-se na cama. Arqueou a sobrancelha, incrédula com a pergunta da amiga.

— Como você pode estar gostando disso tudo? — Laísa tirou a mochila de suas costas e a colocou na cama. — Essa casa está caindo aos pedaços. Literalmente.

— Porque, ao contrário de você, eu sei relaxar. — Ela se assustou com a maneira grossa de Alicia respondê-la.

— Para onde você vai? — Ela havia se levantado e ia em direção à saída.

— Ao banheiro. Por quê? Não posso? — Antes que Laísa pudesse respondê-la, ela já havia saído do quarto.

— Alicia, espere. — Laísa correu para tentar alcançá-la, porém, parou no vão da porta, pois, quando viu o corredor, ela já havia sumido.

Voltando para o quarto, ela abriu sua mochila a fim de pegar seu bloco de desenho e um lápis, pois era o que a mais acalmava em situações de estresse. Depois, desceu a escada e seguiu em direção ao jardim.

Enquanto ia para a porta de correr, Laísa viu de relance Alicia fechar a porta do banheiro, porém havia estranhado por parecer estar ouvindo-a chorar baixinho. Não ligando, abriu a porta de correr e entrou no jardim.

— Ao menos, o jardim não é tão ruim quanto eu pensava que poderia ser.

O jardim era repleto de flores não muito vivas, pois como o estado da casa, elas pareciam estar abandonadas. Além disso, havia um balanço.

Então, sentou-se no balanço e olhou para o céu, o que a fez notar que já havia escurecido, devido a ele estar pintado de azul escuro com alguns pontos brilhantes, que ela podia jurar que eram estrelas. Após abrir seu bloco, tentou representar o céu em seu desenho, pois era a única coisa, em meio aquela casa, que Laísa havia achado bonito.

De repente, quase ao acabar, sua mão deslizou pelo papel e estragou o desenho, pois havia escutado um som estridente vindo de um cômodo próximo. Assustada, ela deixou seu bloco e seu lápis na grama do jardim e correu para ver o que era, assim, avistou Pedro e Bernard perto da porta do banheiro, o que parecia que o som havia saído dali. Eles se entreolharam, prevendo o pior.

[Short History] A Lendária Casa Mal AssombradaOnde histórias criam vida. Descubra agora