O Acordo

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Catarina de Albuquerque precisava urgentemente de um marido.

Ao menos era o que sua mãe, dona Elisa, vivia falando para o esposo diariamente. José Augusto de Albuquerque não aguentava mais ouvir a ladainha de sua esposa sobre sua única filha já estar em idade para se casar, embora a filha em questão nunca ter demonstrado o menor desejo de fazê-lo tão cedo.

Catarina mal cogitava a possibilidade de se tornar uma esposa. Ora, a moça sequer possuía algum pretendente, o que fazia Elisa quase ter uma síncope toda vez que a jovem se recusava a ir a algum dos bailes da região para ficar, Deus a livrasse, agarrada com seus livros.

- Você precisa sair, minha filha, conhecer pessoas! – Dona Elisa iniciava a conversa que Catarina já conhecia de trás para frente. – Dançar, se divertir, aproveitar a vida. E precisa encontrar um marido, Catarina.

- Mamãe! – A moça disse, revirando os olhos.

Catarina era uma jovem sonhadora e tinha a sorte de ser a queridinha de seu pai, ainda que fosse a única. Não eram todos os pais que davam as filhas a mesma atenção dedicada aos filhos homens. A moça tinha aprendido a administrar uma propriedade com sua mãe assim que atingiu a tenra idade de 13 anos e, aos 15, aprendeu a fazer uma propriedade ter frutos financeiros com o auxílio do pai, afinal, Catarina sabia fazer cálculos de cabeça que deixaria qualquer homem universitário morrendo de inveja.

A mãe vivia dizendo que a moça ainda iria acabar com todos os seus nervos, mas ela se orgulhava de saber tudo o que sabia e ainda assim apreciar um bom baile, pois é claro que sabia se portar muito bem em uma festa, mesmo que não fosse uma participante assídua, como sua mãe gostaria que fosse.

Ela sabia bem que, assim que alguém colocasse uma aliança em seu dedo, perderia o pouco de liberdade que tinha conseguido alcançar sendo uma mulher, sem contar que, por ser a única herdeira da Fazenda Albuquerque, muitos eram os homens que estavam apenas interessados em sua pequena fortuna, e era justamente desses ditos pretendentes que a jovem fugia como o diabo foge da cruz. Não podia arriscar sua felicidade e futuro com qualquer um, o que levou seus pais a tomarem uma decisão que mudaria sua vida para sempre.

***

- Você precisa arrumar um noivo para Catarina urgentemente, José Augusto. – Elisa conversava com o marido no quarto, enquanto trançava os cabelos para ir dormir. – A nossa filha está tendo ideias demais para uma jovem em idade de se casar.

- Catarina não quer se casar com nenhum moço da região, Elisa. – Argumentava José Augusto, que tratou logo de defender a filha. – Além do mais, todos os jovenzinhos daqui estão interessados apenas em nosso patrimônio, você sabe muito bem disso.

- Pois procure alguém que não esteja aqui. Ou prefere que sua única filha acabe como uma solteirona sem perspectivas? – Elisa suspirou, enquanto sua mente formava o plano mais infalível de todos. – Soube que o filho de Manuel de Castro está em Lisboa. Acabou de se formar em Direito. E é herdeiro de toda a Quinta do Girassol.

- O que você está insinuando, mulher? – José Augusto encarou a esposa.

- Ora, apenas que você vá conversar com Manuel e tentem chegar em algum acordo. – Elisa deu de ombros, afofando os travesseiros para se deitar. – Já imaginou o que aconteceria se as duas famílias mais poderosas de Alto Douro se tornassem apenas uma?

José Augusto precisou de alguns segundos para entender o que a esposa estava insinuando. Os negócios aumentariam cada vez mais se juntasse forças com os Castro, e a ideia de sua esposa não era nada ruim, afinal, garantiria o futuro de sua filha, de seus futuros netos, e, é claro, o seu próprio.

O fazendeiro partiu para a Quinta do Girassol logo ao raiar do dia, encontrando Manuel de Castro no meio da plantação das uvas mais doces e famosas da região.

- Bom dia, Manuel. – Saudou José Augusto, com um aceno de cabeça.

- José Augusto, bom dia. – Manuel devolveu o aceno. – O que te traz até a Quinta?

- Tenho uma proposta para ti. – Disse o visitante, deixando o agricultor intrigado.

- Pois vamos até meu escritório.

Ambos atiçaram os cavalos e rumaram para a residência principal.

***

- Então, o que achas? – José Augusto finalizou, após partilhar sua intenção.

- Preciso confessar que estou surpreso que tenhas tido essa ideia, José Augusto. – Disse Manuel, passando a mão direita pelo queixo rijo, refletindo sobre a proposta recém-feita.

- Achas que é loucura?

- Não, não. Loucura não. – O agricultor respirou fundo. – Mas acredito que Antônio não gostará muito da surpresa.

- Catarina menos ainda. – José Augusto suspirou. – Deus sabe o quanto eu gostaria que ela própria escolhesse um marido, mas era uma ideia boa demais para deixar passar em branco. A menina já está em idade de casar e segue fazendo poucos esforços para alcançar tal feito. Devo acreditar que a mimei demais para sentir-se confortável o suficiente para atrasar o próprio matrimônio.

- Antônio acaba por forma-se em Direito, mas seu dever é aqui na Quinta do Girassol. – Manuel disse, exalando uma certeza que fez José Augusto cogitar a ideia de que Antônio não quisesse assumir os negócios da família. – E uma de suas obrigações aqui é produzir um herdeiro. É a oportunidade perfeita para trazer meu filho de volta a esta casa.

- Estais de acordo, então?

José Augusto estendeu a mão para Manuel, que a apertou prontamente selando o acordo entre as duas famílias e mudando o destino daqueles jovens para sempre.

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