O Plano

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- Você! – Antônio falou no instante em que seus olhos encontraram os dela.

O mundo era mesmo minúsculo, não era?

O advogado passara horas pensando nessa moça, em como ela estaria, se teria seus sonhos realizados, sem nunca cogitar a possibilidade de ela ser a noiva que seus pais lhe arrumaram.

Ele observou seus olhos irem de surpresos para ferozes e a moça soltou-se de seu abraço, ignorando todos aqueles que estavam presentes na sala de estar e indo jardim a fora. Sentiu o movimento rápido que dona Elisa fez para ir atrás da filha, mas a impediu.

- Deixe que eu vou.

- Mas... – ele não esperou que a futura sogra terminasse de falar e saiu, seguindo a moça até o meio do jardim.

***

Catarina não podia acreditar na peça que sua mente estava lhe pregando. De todos os homens do mundo, tinha que ser justamente com ele que seus pais a queriam casar?

Ela havia perdido dias pensando nele, se ele havia conseguido fugir...

Fugir!

A moça soltou uma risada nervosa, sem acreditar que aquilo tudo estava lhe acontecendo. Não bastasse estar noiva de um completo estranho, era um que havia lhe dito que iria fugir. Ele ia abandoná-la e deixá-la arruinada. Teria como algo dessa situação melhorar ou Deus estaria rindo dela nesse exato momento?

Catarina estava no meio do jardim quando sentiu passos se aproximarem e se virou, dando de cara com o noivo:

- Você! – Exclamou, encarando-o com os olhos ferozes.

- Acredito que já passamos dessa parte. – Ele deu de ombros. – Pode me chamar de Antônio.

- Não, obrigada. – Catarina levantou o queixo. – Não acredito que isto está acontecendo.

- Pelo visto concordamos em algo. – Antônio a olhou.

Ela estava ainda mais bonita do que no dia em que se encontraram no lago, e ele não achava que havia como isso ser possível. O vestido azul combinava perfeitamente com seu tom de pele e seu cabelo preso dava um ar de refinamento, mas aqueles olhos cor de ébano entregavam toda a fúria que emergia dentro dela. Antônio queria poder tirar aquele sentimento de lá, transformá-lo em algo que os deixassem suaves e brilhantes.

- O que o senhor está fazendo aqui?

- Voltamos para as formalidades? – Antônio perguntou.

- Nunca saímos dela. – Catarina estava séria.

- Acredito que estávamos bem mais informais no dia que nos conhecemos.

- Nós não nos conhecemos aquele dia. – A moça o encarou com mais força, se é que aquilo era possível.

Catarina sabia que aquele comentário era mentira e que devia estar soando infantil, mas não iria voltar atrás no argumento. Eles não haviam trocado nomes, afinal.

- Se prefere acreditar nisso... – Ele a encarou rapidamente, depois voltou o olhar para o céu. – Confesso que estou surpreso. De todas as mulheres do mundo, nunca imaginei que meus pais tivessem armado para que minha noiva fosse justamente a senhorita.

- E o senhor vai fugir e me deixar arruinada aqui. – Catarina murmurou.

- Em minha defesa, não sabia quem era a noiva.

- Se vai fugir, o que veio fazer aqui? Rir de mim? – Perguntou indignada.

- Vim para não a decepcionar por não conhecer seu noivo. – Respondeu honesto. – Achei que merecia isso, mesmo sem saber quem era.

- E ainda assim me arruinaria depois de ir embora. – Ela disse, cética.

- Tinha esperança de que conhecesse meu irmão, quem sabe o acordo permanecesse assim. – Ele a encarou.

- Alto Douro inteira conhece a fama de seu irmão, não iria funcionar.

- A senhorita iria se casar contra a própria vontade de qualquer forma, não faria diferença quem fosse o noivo. – O advogado disse o óbvio.

- Tudo isso é uma piada de mal gosto. – Ele a ouvia murmurar de olhos fechados. – Eu tenho certeza de que irei acordar desse pesadelo.

Antônio coçou a garganta, fazendo com que ela abrisse apenas um olho para encará-lo.

- O que é?

- Temo dizer que essa piada de mal gosto é uma verdade. – Ele afastou uns dois passos da moça que lhe lançava um olhar matador. – Tudo bem, calma, eu tenho um plano.

- Um o quê? – Exclamou a moça.

- Um plano, e se a senhorita colaborar, podemos nos dar bem.

Antônio achava que algo havia acontecido com seu cérebro. Era um homem inteligente, mas aquela ideia que maquinava na sua mente de repente se tornou a melhor coisa que ele pensara em semanas.

Iria contra seu plano de fuga e Vicente provavelmente iria matá-lo, mas a verdade era que ele não queria abandonar Catarina naquela situação daquela forma, agora que sabia quem era ela. Mal se conheciam, é verdade, mas algo dentro de Antônio estava insistindo para que tentasse ajudá-la, ele só não sabia o quê.

- O que o senhor pretende? – Catarina cedeu a curiosidade.

- Que contracenemos juntos.

- O quê? – A moça perguntou, confusa.

- Ora, é óbvio, senhorita. – Antônio se aproximou dela. – Só precisamos fingir que estamos interessados um no outro, quando, na verdade, vamos fazer de tudo para provar que não somos compatíveis. Acredito que seu pai não a deixaria se casar se percebesse que não suporta o futuro marido.

- E seu pai?

- Ele se incomodaria mais por não me fazer ficar no interior do que por não fechar o acordo com a sua família. – O advogado deu de ombros. – Então, o que me diz?

- Acredito que você está bêbado. – Catarina encarou os olhos azuis esperançosos.

- Prometo que não ingeri nenhuma gota de álcool hoje. – Ele levantou as mãos em sinal de rendição.

- E se não funcionar? – A moça deixou o nervosismo aflorar.

- Me caso com você. – Antônio disse, sério.

- Vai desistir de fugir para casar comigo? – Catarina não escondeu a surpresa.

Antônio não sabia por que havia dito que se casaria com ela caso o plano desse errado. Pena? Remorso? Não... era algo mais, algo que ele não sabia definir.

- Não posso deixá-la arruinada, senhorita. Não saberia viver com isso. – Ele disse, sincero.

Catarina o encarou por alguns segundos, procurando sinais de mentira ou de que ele fosse fugir a qualquer segundo, mas a verdade é que via nele a mesma sinceridade do dia em que se encontraram no lago.

Que Deus a abençoasse...

- Senhor Antônio de Castro, temos um acordo.

Catarina estendeu a mão e o advogado rapidamente a apertou, selando o acordo.

- Senhorita Catarina de Albuquerque, acredito que temos em nossas mãos a oportunidade perfeita de colocar nosso plano em prática ainda esta noite. – Antônio a imitou e seus olhos se encontraram num olhar cúmplice.

- Acha mesmo que vai dar certo?

- Mas é claro que sim! – Ele lhe deu um sorriso tranquilizador. – Se anime, senhorita, temos um casamento para arruinar.

A jovem só percebeu que segurava a mão do advogado quando parou de frente à porta de sua casa para tomar uma dose de coragem antes de entrar. Sentia-se confortável ali.

Catarina rezou para que o plano funcionasse ou, ou estaria arruinada ou casada com esse moço que lhe causava sentimentos confusos.

Os dois entraram juntos na casa.

O plano iniciara.

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