Os Sonhos

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Catarina seguia sem rumo, pensando nas palavras do pai e em como se sentia traída. Era uma promessa antiga, mas era a promessa a qual ela se agarrava para seguir sendo quem ela queria ser, quem ela nascera para ser.

Ela não precisava de um marido para comandar a Fazenda Albuquerque, não precisava de alguém lhe dizendo o que fazer, como agir, podando cada pequena atitude que tivesse. Já imaginava seu futuro como uma mulher amargurada e infeliz, e não conseguia perdoar o pai por estar fazendo ela passar por aquilo.

No entanto, entendia as reações da mãe, apesar de tudo. Elisa sempre quis ver a única filha casada e praticamente tinha um ataque do coração todas as vezes em que Catarina dizia não precisar de um marido. Não foi surpresa ver que ela aparentou estar tão certa de que aquele casamento aconteceria.

No início do verão. Catarina balançou a cabeça, espantando esses pensamentos e tentando esquecer que tudo isso havia acontecido. A moça havia ido para o lago onde a ponte ligava as terras dos Albuquerque com as dos Castro, deixando Tempestade, seu cavalo, amarrado em uma árvore ali perto.

Não se surpreendeu ter terminado ali, afinal, era um de seus lugares favoritos para ficar sozinha, só que agora recebia um novo significado. Olhar o encontro daquelas terras a fez lembrar que, por mais que tenha pensado que sim, não tinha controle nenhum sobre seu futuro, e não adiantaria nem fugir.

A moça deixou que as lágrimas lavassem toda a emoção que transbordava dentro dela, toda a angústia, toda a raiva, toda a mágoa e toda a decepção que ela estava sentindo naquele momento. Todo o medo. Catarina tinha medo do que estava por vir, tinha medo do tal noivo. Não o conhecia, não sabia do que ele era capaz e se odiou por não poder controlar sua própria felicidade.

Chorou por tudo aquilo que perdia.

***

Antônio havia saído transtornado da Quinta.

Como era possível terem orquestrado tudo e envolvido sua vida nesse maldito acordo? Casamento e Antônio de Castro eram duas coisas que não combinavam de forma alguma no momento, ainda mais de forma arranjada. Parecia até uma piada de mal gosto contada por Afonso, e ele até riria se o irmão fosse quem tivesse lhe contado e não seu pai, com todo aquele ar de superioridade e seriedade que o envolvia.

Teria que fugir, era isso ou se casar com uma moça com o intelecto de um ovo que não amava e que serviria apenas para fazer com que os planos de seus pais e os Albuquerque de enriquecerem ainda mais desse certo.

Ele não podia ficar ali, não ia conseguir suportar olhar a cara do pai até o fim do verão. Não fazia ideia de quando iriam querer casá-lo, mas ele não estaria aqui para ver o evento acontecer. Iria falar com Vicente e eles conseguiriam fazê-lo escapar desse lugar. Viajaria para a França, se fosse preciso deixar Portugal, mas não ficaria mais nenhum minuto ali.

Antônio estava maquinando diversos planos de fuga em sua mente quando um choro baixo alcançou seus ouvidos. Não tinha percebido que havia caminhado para tão longe assim, estava na ponte sob lago da divisa entre a Quinta do Girassol e a Fazenda Albuquerque e, ao olhar para baixo, viu uma moça sentada em uma espécie de tenda de madeira, olhando para o lago e chorando copiosamente.

- Senhorita? Está tudo bem? – Perguntou o advogado, preocupado. Ali não era um local muito movimento, algo sério podia ter acontecido. – Alguém lhe fez alguma coisa?

- Se me fizeram alguma coisa? O senhor nem imagina... – Catarina murmurou alto, pois ele já tinha atravessado a ponte e estava chegando perto dela.

- Ninguém tentou atacá-la? Roubá-la?

- Não, pode ficar tranquilo. – Suspirou. – Cheguei aqui sozinha. Gosto de vir aqui para pensar.

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