O Jantar

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Na manhã seguinte...

Catarina estava acordada há horas, mas ainda não tivera coragem de levantar e enfrentar o dia.

Os acontecimentos da noite passada voltavam a sua mente o tempo inteiro e, por mais que tentasse pensar em outra coisa, as lembranças permaneciam ali.

Ela ainda não conseguia acreditar que ele estava ali, que o moço que a consolou no lago, que a ouviu chorar os sonhos perdidos e não a julgou, era seu noivo. Antônio. O nome lhe caía bem.

Catarina, no entanto, não achava que ele estava em seu juízo perfeito para tê-la convencido a participar de um plano que a arruinaria ou a casaria. Ela afundou a cabeça no travesseiro, soltando um grito abafado.

Decidida a não se entregar a vergonha e a enfrentar o mundo como sempre fez, ela levantou e pôs-se a se arrumar. Sua mente, é claro, repassou novamente todos os acontecimentos do jantar.

***

Na noite passada...

Catarina e Antônio pararam durante um segundo antes de entrarem na casa da moça para enfrentarem o jantar mais assustador de suas vidas.

- Pronta? – Antônio perguntou, apertando sua mão.

- Pronta. – Respondeu a moça, depois de dar mais uma lufada de ar.

Os dois entraram e, quando foram se aproximando da sala de jantar e das vozes preocupadas de suas mães, soltaram as mãos e a jovem sentiu falta da pequena sensação de segurança que a mão dele sob a sua lhe passava naquele momento. Seus olhares se encontraram rapidamente e a moça tratou de dar atenção a ladainha de sua mãe.

- Catarina, finalmente! – Elisa forçava um sorriso. – Vejo que Antônio conseguiu lhe convencer a voltar para o jantar.

- Sim, é claro. – Catarina murmurou. – Peço perdão por minha reação, dona Olívia. Mamãe me surpreendeu com o jantar, foi só isso.

- Está tudo bem, querida. – Olívia lhe deu um sorriso tranquilizador, o que a ajudou a se sentir mais calma. – Agora que estamos todos aqui, podemos comemorar, por certo.

- Mas é claro que sim, Olívia. – Elisa disse, um pouco mais aliviada. – Ana, por favor.

Ana, a governanta dos Albuquerque, serviu as taças de todos e trouxe uns petiscos portugueses, o que acabou deixando todos mais relaxados.

Antônio estava conversando num canto com Afonso, mas lutava para não manter seus olhos sob Catarina, que estava presa conversando com as senhoras.

O que havia em sua cabeça para ter inventado aquela história de plano? E para quê foi dizer que se casaria com ela? Poderia jurar que estava bêbado, se realmente não tivesse colocado um pingo de álcool na boca até este momento.

Afonso percebeu os olhares trocados entre os futuros noivos e não pôde deixar a oportunidade passar:

- Pelo visto você e sua noiva não veem a hora do casamento, não é meu irmão?

- Do que você está falando?

- Ora, mas é claro que é das suas caras assustadas, do que mais? – Afonso riu. – Parece até que estão indo para a forca e não para a capela mais próxima. O que poderia muito bem ser a mesma coisa, a depender do ponto de vista.

- Você realmente não cansa de fazer piada com tudo, não é? – Antônio murmurou para o irmão.

- E que graça teria a vida, Antônio, se não ríssemos dela? – Afonso levantou a taça para ele e a levou até a boca.

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