1 - Eu Não Entendo

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POV Andy

Eu realmente não entendo.

Parece que ela gosta de sofrer, de se punir. Parece que existe a necessidade de se autoflagelar emocionalmente, enquanto o seu exterior permanece meticulosamente perfeito.

Uma coisa que eu não sei? Quando comecei a me importar. Quando tomei o papel de tentar amenizar os dias da minha chefe, com tarefas que vão muito além da descrição do trabalho, só para vê-la minimamente contente.

Não é como se ela fosse me agradecer, ou sorrir, ou pelo menos me devolver a afeição que eu estava livremente lhe devotando todos os dias, com uma amizade distante que fosse.

Qualquer pessoa faria isso.

Mas Miranda Priestly não era uma pessoa qualquer e eu sabia disso.

Pior?

Eu gostava disso. Agora, não tinha mais nada a ser feito.

Esta noite, por exemplo, estou me torturando ao tentar decorar cada detalhe da pele exposta pelo corte baixo do vestido. Tenho que ser discreta por estarmos em um evento, mas isso não me impede de levar segundos a mais por perto ao me inclinar para sussurrar o nome de algum convidado em seu ouvido, mesmo ciente do fato de que ela sabe todos eles. Não impediram os leves toques em seu braço ou nas costas para conduzir o tempo correto do tapete vermelho também.

Eu estava quebrando uma regra básica, não tocar Miranda Priestly. Isso parecia não afetar a ela, já em mim o efeito era oposto.

Sentia a minha pele queimar ao encontro dela.

Desejava todos os dias morrer queimada por ela.

Juro, parece algo hipnótico.

Quando o perfume dela invade meus pulmões, me sinto tremer um pouco. Ultimamente até seus rompantes me deixavam ardente.

Como pode uma criatura ser tão atraente?

Saí de meus devaneios com alguém falando alto e vindo em nossa direção.

Stephen.

Eu sabia que Miranda estava apreensiva por sua chegada, principalmente porque ela havia solicitado roupas para ele em sua suíte, e ele não apareceu para se arrumar com ela. Agora, com o terno desalinhado e visivelmente embriagado, ele praticamente anunciava para a festa inteira que o barman havia lhe chamado de senhor Priestly, e que se negava a servir-lhe outra bebida.

"Querido, aí está você. Eu senti sua falta hoje." Miranda disse em uma voz quase genuinamente amável, mesmo que um rubor de vergonha tomasse seu rosto por baixo da maquiagem impecável.

O homem estava a ponto de começar a esbravejar novamente, desta vez na direção dos altos executivos do Elias Clarke.

Eu tinha que agir.

Não por ele, ele poderia se danar e eu não me importaria. Mas Miranda, que geralmente sabia como agir para lhe acalmar rapidamente, estava paralisada. Olhos grudados na camisa. Quando me aproximei, entendi.

Havia uma marca de batom, bem visível, numa cor que Miranda jamais usaria. Mais perto, era fácil perceber que estava impregnado de perfume barato. Que filho da puta! Eu tinha que pensar rápido e tirar o crápula da festa. Pelo menos fazer com que ele trocasse a camisa, não queria ver minha chefe humilhada.

"Qual bebida o senhor deseja? Eu posso pegar." Perguntei prontamente, os olhos da mulher se voltando para a minha figura com faíscas de ódio. Em qualquer outro momento ela teria me repreendido, mas aqui, só atrairia ainda mais atenção.

"Uísque. Duplo." Ele disse com a língua embolada. Ao sair prontamente para buscar a bebida, pude ouvir ele sussurrar não tão baixo no ouvido da esposa. "Pelo menos uma das suas assistentes presta para alguma coisa, Miranda. Você deveria aprender com ela."

Filho da puta!

Enquanto eu voltava com o copo cheio, Miranda me observava como se quisesse me matar. Eu conseguia ver em seus olhos a revolta, como se eu a estivesse traindo.

Eu sorri.

Ajeitei meus ombros, por dois motivos. Primeiro, que não era sempre que os olhos dela pousavam em mim com tanto foco, e mesmo que estivesse com raiva, me deixava contente. Segundo, é que eu tinha um plano e estava prestes a realizar uma loucura. Não me importava se ela tentasse me matar depois.

A dois passos do casal eu propositalmente levantei um pouco mais a perna na passada. A sandália agarrou de leve na barra do vestido. Tropecei acidentalmente. Em segundos a camisa de Stephen estava completamente arruinada, ele teria que trocar.

Bingo!

"Oh meu Deus, eu sinto muito." Murmurei fingindo desespero. Miranda sabia que eu estava fingindo. Os olhos de Emilly estavam arregalados e eu a ouvi soltar um "Puta merda!" de susto. "Mir-Miranda me perdoe, por favor." Eu continuava o meu teatro. "A roupa dele está na suíte, eu posso ir buscar."

Os olhos dela agora tinham uma luz diferente. Entendimento. Ela viu meus olhos na marca de batom. Ela sabia que eu tinha visto.

Comprimindo os lábios em uma linha fina, ela deu continuidade ao meu teatro. Murmurou algo no ouvido do marido.

"Leve Stephen até a suíte, Andrea." Murmurou num tom que claramente dizia a todos que eu estava em apuros. Eu, por outro lado, que já havia catalogado sua voz, sabia a diferença.

Nada aconteceria comigo. Pessoalmente, não sei se acho isso bom ou ruim.

Me Torne A Sua Escolha (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora