2 - As Escolhas Dela

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POV Andy

Depois do incidente na festa, o tratamento de Miranda comigo continuou o mesmo.

Não que eu esperasse algo diferente, mas para alguém conhecida por ser imprevisível, até que estava previsível demais.

A única coisa que mudou é que agora Stephen não ia mais a festas, nem a encontros de negócios onde Miranda precisava de companhia.

Se o evento fosse muito grande, eu e Emilly estávamos lá. Se fosse um evento de menor porte, eu fazia o possível para ir.

Com possível, eu quero dizer... Emilly é alérgica a begônias, e eu descobri por sorte. Não é nada grave, mas espirros contínuos irritam La Priestly, então, quando Miranda decide que Emilly vai com ela em algum lugar, begônias brotam misteriosamente nos arranjos de flores do escritório. Funciona sempre, e ela até sai ganhando no fim das contas.

Emilly tem Serena para cuidar dela, e com todas as noites de folga que ela tem ganho pela minha estratégia, seu humor está muito melhor.

Eu, no entanto, me sinto cada vez mais desesperada por atenção. Tenho certeza que desejar alguém com toda essa força não é normal, mas seria ingenuidade da minha parte acreditar que Miranda despertaria algo leve em alguém.

Qualquer movimento em volta dela me motiva a um novo toque, e eu sinceramente vivo sedenta por eles, esperando por oportunidades. Faço questão de abrir e fechar a porta do carro, só para ela usar minha mão como suporte. Na hora de entregar o café, coloco diretamente em sua mão para tocar seus dedos por milésimos de segundos.

Quando vemos coleções de designers, me sento ao lado dela com seu celular em mãos; quando estou com sorte, ao tentar pegar o aparelho sem ao menos virar os olhos para mim, suas mãos erram o caminho.

Semana passada seus dedos erraram a rota e bateram, de leve, nos meus seios. Nem preciso dizer que a minha calcinha virou uma bagunça e que eu não pude esperar até em casa. Foi o meu primeiro orgasmo no banheiro do escritório, e absolutamente melhor do que todos que meu ex-namorado havia me dado.

Agora estou investindo em roupas mais curtas, ou decotes mais cavados. Pode ser só a minha imaginação, mas sinto os olhos dela analisando as minhas escolhas, e indo além delas.

Talvez eu esteja fazendo alguma coisa certa. Ou talvez eu seja um garoto adolescente com hormônios a flor da pele, preso no corpo de outra pessoa. Talvez eu só esteja louca, sempre há essa possibilidade também.

O fato é que agora estamos na saída de um coquetel que levou algumas horas a mais do que o planejado. Por um milagre, o humor de Miranda não piorou tanto com a estada prolongada no evento. Eu, por outro lado, me sinto irritada.

Miranda, esta noite em especial, escolheu se vestir para matar. Expôs os ombros convidativos, num modelo com um decote um pouco mais cavado que o que costuma usar no dia a dia, o tecido vinho de veludo pressionando suas curvas na medida certa, exibindo orgulhosamente a boa forma.

Eu olhei? Claro! Muito! Todos da festa olharam, e comentaram. Muitos desejavam a mesma mulher que eu nesta noite, contudo, algumas pessoas se acharam no direito tomar liberdades e eu tive que assistir homens nojentos praticamente salivarem por ela. Um tal de John supôs que poderia segurá-la pela cintura, como se ela estivesse disponível para alguém além do inútil do Stephen.

No decorrer da noite passei a interferir de formas sutis, a cada vez que julgava uma interação como abusiva.

Miranda, é claro, percebeu desde o primeiro segundo o que eu estava fazendo. Ela parecia se inclinar cada vez mais aos corpos alheios, só para observar minhas reações. Eu inventava desculpas que aos ouvidos dela seriam ridículas, mas aos ouvidos alheios seriam totalmente plausíveis. Rodávamos ao próximo círculo de personalidades. Começava tudo de novo. Até eu ser um pouco mais ríspida com alguém, aí a diversão dos seus olhos virou faísca, e ela resolveu que era hora de ir.

Nossas viagens de carro geralmente eram silenciosas, ela em um extremo, eu em outro. Roy a deixava em casa primeiro, depois me deixava na frente do meu prédio.

Por isso, eu esperava silêncio.

"Você vai parar com isso, e vai parar agora." Miranda murmurou assim que a divisória privativa do carro acabou de fechar. "Eu não sei que tipo de palhaçada você pensa que está fazendo, Andrea, mas acaba aqui."

"Miranda, eu não-"

"Você me ouviu, e sabe muito bem do que eu estou falando Andrea." A voz da dela baixou ainda mais, fazendo meu coração gelar. Ela virou para mim por uns segundos antes de olhar para fora. "E não pense que eu não notei as outras coisas, Andrea. E se você puder-"

A voz dela morreu no meio da frase. Virei o rosto para tentar achar o motivo da súbita quietude.

Os olhos dela estavam vidrados na figura do lado de fora. O carro havia parado em um semáforo, mas já começava a se mover. Ainda assim, pude ver nitidamente.

Stephen, uma loira de uns vinte e poucos anos pendurada em seu pescoço, mais algumas pessoas em volta.

Miranda respirou fundo e virou o rosto para frente. Segundos depois ela pescou o celular e discou rapidamente.

"S-Stephen... Não querido, eu só queria saber como está sua viagem de negócios... estou a caminho de casa... Tudo bem, até." A voz calma contrastava com as mãos trêmulas e com o olhar de ódio que eu estava vendo em seu rosto.

Eu realmente nunca entenderia porque ela escolhia passar por isso.

Ela sabia a verdade, não acreditava nas histórias. Não acreditaria nem se não o tivesse visto, era inteligente demais para deixar passar as pontas soltas e os presentes de gosto duvidoso.

Ela reconhecia cada mentira.

Mesmo com toda fama de má, o deixava ficar por perto, o deixava posar como alguém que controlava sua vida, suas ações, e eu nunca poderia entender.

Sua testa estava pulsando, provavelmente a pressão estava subindo também. Se qualquer coisa acontecesse a ela, eu mataria o maldito com as minhas próprias mãos.

De verdade, eu só queria puxar Miranda para um abraço, beijá-la até ela esquecer de tudo. Infelizmente, eu não podia.

Sem pensar muito, e sem dizer nada, agi da forma mais próxima de um possível conforto. Tomei suas mãos trêmulas entre as minhas, que foram imediatamente apertadas com intensidade. Ela parecia gritar através do toque.

Eu faria tanto se ela deixasse... tanto.

Seguimos o restante do caminho em silêncio, ela parecia pensar em muitas coisas simultaneamente, engrenagens trabalhando rápido, e ela não soltou minhas mãos. Por mim ela não soltaria nunca mais.

Não mesmo.

Me Torne A Sua Escolha (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora