5 - Para Poder Ser

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POV Miranda

Andrea está diferente.

O pior?

Eu não gosto nada desta nova versão.

Na manhã seguinte, após a minha tentativa frustrada de seduzir a garota, acordei sozinha. Desde o fatídico dia em minha casa, ela simplesmente cumpriu todas as minhas exigências.

Ela nem tentou me fazer mudar de ideia.

Ela nem cogitou mudar de ideia também... Eu, no lugar dela, me aproveitaria da mulher fragilizada, com o casamento nos últimos suspiros. Tomaria até a última gota de tudo o que me fosse oferecido.

Ela, no entanto, resolveu ter consciência no momento mais inoportuno.

Merda!

Depois do modo como ela me olhou naquela noite após admitir que pensava em mim, de cuidar de mim... Céus, eu praticamente me atirei quase nua nos braços dela para nada.

Nada!

Aliás, pior ainda!

Recebi exatamente o que pedi e mais.

Roupas extremamente comportadas viraram rotina para Andrea, como se ela fosse alguma 'secretariazinha' de uma executiva de merda, e não alguém trabalhando na melhor revista de moda do mundo.

Inferno!

Com Emily milagrosamente melhor das alergias, as duas voltaram a se intercalar para me acompanhar aos eventos.

Os olhos de Andrea raramente se voltavam em minha direção, e quando acontecia, jamais encontravam os meus.

Acredito que mesmo se eu circulasse nua no escritório, ela não olharia para mim.

Nas festas, por mais que eu utilizasse decotes cavados, que tentasse me insinuar aos outros numa tentativa de chamar sua atenção, ela desviava. Mais que isso, em troca ela se permitia flertar agora, só que com outras pessoas.

No passar das semanas, evento atrás de evento, vi Andrea discretamente acumular vários cartões com telefones de pessoas importantes. Ela parecia utilizar o flerte como distração, contudo, o sorriso largo que tomava seus lábios, não alcançava nunca os grandes olhos castanhos.

Sinto falta dos olhos sorridentes.

Sinto falta dela, mesmo quando está perto.

A minha vida está uma bagunça, e ainda assim não consigo pensar em outra coisa que não seja a minha assistente.

Confesso que tenho vontade de perguntar o que foi que mudou; o motivo de ter mudado eu já consigo imaginar. Com certeza a assustei ao me mostrar fragilizada. Uma Miranda fragilizada não é nada atraente, sempre me disseram e os divórcios comprovaram.

Todas às vezes que estamos no carro tenho vontade de falar algo, mas não acredito que resolveria. Também, um detalhe intrigante é que ultimamente nenhum dos carros que uso tem divisória privativa.

Ela quer se afastar, eu não tenho escolha a não ser ficar longe.

Sim, eu sei que a culpa é minha, mas ainda assim dói muito mais do que deveria.

Por duas vezes a peguei me olhando na última semana. Me pergunto se ela apenas me observa quando tem certeza que não estou olhando. Provavelmente eu nunca saberia a resposta.

Pensar tanto nela tem me tirado o sono. Claro que outras coisas têm me tirado o sono também e a lista é enorme: um casamento falido, filhas praticamente adolescentes, a preocupação sobre a imprensa seguindo cada passo meu, e claro, a iminente aparição das traições de Stephen nas chamadas de todas as páginas de fofoca.

Eu jamais admitirei em voz alta, mas não consegui me concentrar na minha última reunião. Graças aos céus foi uma chamada de vídeo, e o material apresentado estava terrível. De certa forma, foi bom poder encerrar a chamada mais cedo, já que a minha cabeça está palpitando de dor.

Minha cadeira estava virada para a janela, a vista esbranquiçada do dia chuvoso parecia fazer par com minhas ideias. Algo sem foco, sem forma ou foco, mas ainda em movimento o suficiente para forçar os outros a moverem-se com agilidade.

Perdida em minha mente, quase não percebi os passos suaves entrando em meu escritório.

Ouvi o tintilar de algo sendo colocado em cima do vidro da mesa. "Não me recordo de pedir café, Andrea." Disse em meu tom habitual, virando a cadeira em sua direção.

Ela sorriu docemente. "Ainda bem que não pediu, porque eu não trouxe café." Respondeu colocando um guardanapo dobrado em minha frente. Levantei umas das pontas e tinha dois comprimidos escondidos.

"O que é isso?"

"Para a sua dor de cabeça."

"Mas eu não-"

"Miranda, eu sei que você está com dor de cabeça. Pelo tanto que você está mordendo as bochechas e pelo jeito que seus olhos estão avermelhados, imagino que esteja te matando." Arqueei a sobrancelha levemente e mais uma vez ela sorriu. "Eu só te observo... Inclusive..." Ela puxou um maço de cigarros pela metade e um isqueiro do bolso. "É o plano B, mas vamos esperar que o plano A funcione. Acho que isso ajudará com a sua tensão."

Notei o pacote aberto. "Eu não sabia que você fumava."

"Eu não fumo o suficiente para poder me definir como fumante." Ela deu de ombros. "Mas acho que você pode estar precisando de um agora."

Eu a fitei por alguns segundos. Ela estava muito tranquila. Olhei a xícara posicionada em minha mesa.

"O que é isso exatamente?" Apesar do cheiro delicioso, eu não pude evitar o hábito de torcer o nariz.

"Leite da lua." Questionei-a apenas com o olhar. "É só leite, lavanda e camomila. Vai ajudar com a sua dor de cabeça, acredite."

O sabor adocicado tomou a minha boca, o perfume da lavanda invadiu meus sentidos, o calor do líquido na minha língua quase me fez suspirar. Andrea me observava, um sorriso sínico em seu rosto, como quem diz 'eu avisei que ajudaria'. Sem dizer nada, coloquei os dois comprimidos em minha boca, e continuei a tomar a mistura que parecia abaixar minha guarda pouco a pouco.

Andrea estava de pé, ao lado da minha mesa.

Fechei os olhos e suspirei, queria me afogar em sua presença, queria tantas coisas.

Senti sua aproximação, senti minha cadeira girar em sua direção, senti seus dedos afastarem levemente o cabelo de cima dos meus olhos, seu polegar acariciar de leve o meu rosto. Junto disso, senti meu coração disparar, a boca seca, a respiração pesando, meu corpo se inclinando como um ímã.

"Pensei que você não se importava mais." Sussurrei.

"Ah Miranda..." Em sua voz baixa, a rouquidão reverberou dentro de mim. Quase sem perceber me levantei, estávamos tão, tão perto. Seu polegar mapeou meus lábios de leve. "Emilly pode voltar logo, alguém pode chegar." Disse relutante, seus olhos deixando os meus relutantes, olhando pela porta a procura de algum movimento.

Foquei meus olhos nos seus, sem conseguir disfarçar meu desapontamento em ser recusada mais uma vez.

Antes que eu pudesse dizer algo, sua boca estava na minha, uma das mãos de Andrea plantada quase agressivamente em minha cintura, a outra atrás do meu pescoço, um beijo desesperado. A língua habilidosa dominou a minha. Eu prontamente reagi e retribuí cada uma das carícias, naquele momento que eu tanto esperei, até que de repente, Andrea se afastou.

Não entendi muito bem, até ela menear a cabeça e praticamente voar do escritório, passando direto pelas mesas da recepção. Menos de dez segundos depois, Emilly entrou cheia de sacolas e caixas.

Fui para o meu banheiro retocar a maquiagem quando o celular indicou duas mensagens.

'Me desculpe por sair correndo. Ouvi o elevador, achei que seria a Emilly'

Seguida por algo que fez meu coração errar a batida.

'É impossível não me importar, só estou tentando te proteger. Espero que entenda.'

Me Torne A Sua Escolha (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora