AZUL-MARINHO

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Geralmente
ficamos tão atribulados
com o cotidiano
Tão ocupados
com os compromissos mortais
(aqueles que morrem, pois têm fim)
(bem, há alguns matam também)
que esquecemos
só de tudo
o que há ao nosso redor
Essa história de
"criança interior"
acho que não existe
E vejam que sou bem romântica
O que acontece
na minha opinião
é que ficamos chatos
e cinzas
e chatos
e ocupados demais
Não perdemos a
"criança interior"
mas ganhamos um
"adulto exterior"
Um daqueles de que
veste sempre uma gravata
bem apertada no pescoço
sufocando-o
enquanto ele diz
estar feliz
Esses dias
fiquei encarregada de
todas as tarefas de casa
Era uma quarta-feira
eu voltava à pé
a noite escureceu
A rua
vazia
Os paralelepípedos estavam
tão tristes
Minha mochila pesava nas costas
afundando-me a cada passo
Os passos
dolorosos
exaustos
Foi quando
por um lindo acaso
olhei para cima
e vi o véu azul-marinho
sem mar
repleto de estrelas
Parei por um instante
Observei-as
e o mundo
ficou mais leve

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