Victor's Village: Memories

Willow Mellark

'when i first felt her stirring inside of me, i was consumed with a terror that felt as old as life itself. only the joy of holding her in my arms could tame it'

Haymitch perambulou por algumas horas na floresta densa e fria, detestava dizer em voz alta mas ele conhecia muito bem aquele lugar. Por muitos anos, quando mais novo, se escondeu por entre as árvores quando os pesadelos vinham durante o dia. Mesmo que ainda estivesse acordado. Lá ele despejava tudo para fora antes de encontrar refúgio nas bebidas baratas do Prego.

Não. Haymitch nunca ia para dentro da floresta por vontade própria, mas era a sua garota quem estava desaparecida o dia inteiro e mesmo que não fosse mais o mentor dela, ainda que ela fosse uma mulher adulta e dona de si mesma, ele ainda era o responsável por ela e pelo garoto. Afinal, sempre seriam duas crianças.

Depois de algumas horas, quando imaginou estar perdido, achou Katniss encolhida no tronco de uma árvore, com a cabeça entre as pernas enquanto soluçava baixinho. A cena toda era de partir o coração. Haviam se passado muitos anos, porém ainda era demasiadamente doloroso assistir o sofrimento que continuava assolando suas crianças. Ele sabia que Katniss já o ouviu se aproximar, só que ela não se moveu.

Bem, a antiga garota em chamas não tinha vontade de se mover naquele instante e esperava que Haymitch fosse embora e a deixasse morrer ali pelas patas de algum lobo. Ou de frio ou de fome...

A noite passada foi conturbada. Haymitch havia ido jantar com seus ex-tributos como de costume, e ouviu a discussão dos dois na cozinha. Ele ficou em silêncio na sala, apreciando a bebida e fingindo não se importar com o que acontecia no outro cômodo. Mas foi a voz autoritária e dura de Katniss que o fez perceber que o buraco era mais embaixo.

– Me deixa em paz! – e com isso ela saiu de casa, pegando a velha jaqueta do pai e seu arco sem ao menos dirigir um olhar para o antigo mentor. A casa ficou em silêncio mortal.

Haymitch esperou na sala, queria dar um tempo ao Peeta porém o silêncio se tornava um sinal de alerta quando se fazia tão presente. Ele foi para a cozinha e encontrou o garoto encostado na pia, olhando para algo além das janelas. O cheiro de cozido estava por toda a parte e a temperatura da cozinha tornava tudo bem aconchegante para aquele início de inverno. Seria uma noite agradável se não fosse pela briga.

– Ela vai voltar – Haymitch disse, tentando amenizar a situação.

– Eu sei que vai – a resposta veio um tempo depois.

– Vamos jantar? – desconcertado, Haymitch não sabia o que dizer. Os dois se sentaram na mesa em silêncio. Peeta tinha as bochechas molhadas pelas lágrimas e seu nariz escorria incessantemente.

A coisa estava feia mesmo., pensou Haymitch.

Comeram o cozido, comeram o pão, tomaram uma caneca de chocolate quente e permaneceram quietos. Haymitch ponderou várias vezes se poderia ou não dizer algo, só que desistiu em todas as vezes. Definitivamente era algo que estava fora do seu alcance e que somente eles poderiam resolver. Além do mais, não queria parecer estar tomando partido de ninguém.

Peeta foi deitar mais cedo que o normal e Haymitch pegou uma caçarola de cozido, alguns pães e uma garrafa térmica com chocolate e foi para casa, ainda encucado com seus garotos.

Dois dias se passaram e Katniss não havia voltado. A preocupação se instalou e os dois entraram na floresta numa tentativa inútil de encontrá-la lá. Principalmente porque a noção de direção dos dois não era lá essas coisas. O sol se pôs e eles voltaram para casa, mais preocupados ainda. Na manhã seguinte, Haymitch se levantou bem cedo e se aventurou mais uma vez na segunda casa de Katniss. Sua intuição dizia que não era uma boa ideia Peeta ir.