Soldado Invernal | 𝓹𝓻𝓲𝓶𝓮𝓲𝓻𝓪 𝓉𝓮𝓂𝓹𝓸𝓻𝓪𝓭𝓪 [✓]

Dois dólares

A fumaça negra me impede de enxergar, os gritos não me permitem escutar a minha mente e a forte onda de calor me faz retirar a Bomber e deixá-la no meio fio da rua.

As chamas  percorrem as varandas, queimando as plantas que eu organizei e seguindo o rumo dos fios elétricos. Os meus vizinhos correm amedrontados para fora do prédio, gritando e protegendo os seus entes neste dia que deveria ser um feriado normal em família.

Observo o senhor Dalton organizar as pessoas no lado de fora impedindo-as de entrar novamente enquanto claramente se encontra aterrorizado por dentro.

Caminho na direção deles a fim de entrar no prédio, já que aparentemente ainda há muitas pessoas no quinto andar. Todavia, percebo uma mulher no alto do prédio, parada, observando a movimentação como uma coruja. Traja um uniforme escuro, mas que se torna avermelhado devido as chamas, e lhe cobre todo o corpo ao acompanhar um longo e pesado casaco.

Os cabelos castanhos esvoaçam-se quando, ao se apoiar em um bastão, ela salta do último andar, dá uma cambalhota no ar e pousa sobre a calçada com as pernas abertas e uma das mãos sobre o concreto. Eu conheço este estilo de pouso, apenas pessoas treinadas na URSS sabem executá-lo com maestria.

Ao endireitar-se, ela caminha mantendo os olhos verdes sobre mim e afasta o bastão de si apertando em algo que o faz liberar uma descarga elétrica sobre toda a sua extensão. Então, com as botas longas, ela corre em minha direção e, em vez de me acertar com o bastão, apóia-se nele, junta as pernas no ar e chuta o meu peito com agilidade.

Sofro com o impacto dando três passos para trás, não caindo devido me apoiar em um poste, que se entorta. Este com certeza não foi um golpe soviético, tanto que eu não soube como me defender. Parece chinês, aqueles golpes traumáticos executados em Kan-shu.

Antes que eu possa me recuperar da dor em meu peito, defendo-me de ataques com o antebraço, golpeando-a no estômago com o joelho. Ela solta um arquejo rouco e se afasta um pouco, tocando em seu estômago como se fosse o seu ponto fraco ou uma região ainda em recuperação.

O seu olhar volta a mim com o tom esverdeado mais vívido, trincando o maxilar em visível raiva. Devido a isto, os movimentos seguintes ampliam-se a golpes de punho curto, explosivos e ágeis, pareando comigo mesmo que eu não esteja tão acostumado com lutas de base tão fechada. Outra vez, esses movimentos não são soviéticos.

Enquanto defendo-me de seus socos, sou golpeado por uma rasteira poderosa o suficiente para me derrubar ao asfalto e uma dor se instalar atrás de minha cabeça. Então, o bastão elétrico aparece a minha frente soltando as suas descargas e logo é direcionado ao meu peito, mas eu desvio agarrando a mão dela e lhe dando um chute na perna, ao qual ela se desequilibra e cai ao meu lado.

— O que você quer? — indago entredentes ao me pôr de joelhos e segurá-la pelo pescoço.

— ты изменил нам. — responde em russo: "Você nos traiu."