Agente 12

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URSS, 1950

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URSS, 1950

Libero um longo suspiro ao sentir os meus pulmões funcionarem novamente. Posso sentir os meus membros sob o meu controle, mas ainda não consigo movê-los completamente.

Tenho a sensação de ser carregado por braços fortes por alguns segundos até que me choco em algo duro, liberando um som metálico quando me deito sobre isso. Acho que é uma maca.

Dois jatos de vapor percorrem por meu corpo, devolvendo o calor gradativamente à minha pele desnuda. Então, consigo ter forças para abrir os olhos.

Com a visão ainda turva, enxergo dois homens de jaleco usando um vaporizador e outro que se aproxima de mim com lenços brancos. Ele os passa em todo o meu corpo, liberando um forte odor de álcool na sala, então se afasta.

Como parte do ritual, forço as minhas pernas recém descongeladas a se moverem e deixo a maca, pondo-me em pé. Mais dois homens de jaleco se aproximam de mim e cutucam a minha pele com seus apetrechos estranhos, atestando a sua elasticidade, firmeza e durabilidade.

"Eu pensei que estivesse morto."

"...e eu pensei que você fosse menor. O que aconteceu com você?"

"Eu me alistei no Exército."

Então, um deles traz o meu uniforme. Visto as calças justas e a jaqueta de couro preta, calço os coturnos pesados e prendo o coldre sobre o meu peito. Sinto a minha respiração falhar ao ter-me dentro deste uniforme, pois todas as peças me sufocam, especialmente o coldre, que os homens na sala fazem questão de ajustá-lo ao mais justo possível em meu peito. Sinto-me um animal enjaulado.

"Isso doeu?"

"Um pouco."

Eles me guiam até a sala seguinte, onde engenheiros e mecânicos me esperam. Sento-me na cadeira central, cujos braços estão ligados a televisores, e espero um deles checar o meu braço de metal. Um senhor aparentando ter cinquenta anos busca o meu braço e abre uma das lâminas retráteis, consertando algo com o seu maçarico mais moderno. O odor chamuscado inunda a sala.

"Isso é permanente?"

"Até agora, sim."

O silêncio é quebrado quando a porta é aberta e três soldados trajando os seus uniformes vermelhos entram fazendo a segurança de um homem de estatura mediana, pele parda e ralos cabelos grisalhos. O terno preto reluz tanto quanto os seus olhos, esses sádicos e inescrupulosos olhos.

Ele caminha calmamente em minha direção, mantendo um meio sorriso nos lábios finos. Ao tê-lo perto de mim, sinto uma angústia crescer, se espalhando por meus poros, assim como uma raiva inesgotável.

— Dormiu bem, Soldado? — indaga se inclinando em minha direção.

Apenas fito os seus olhos negros me encararem esperando uma resposta malcriada para, então, me castigar como da última vez. Jamais irei me esquecer daquela sessão de choque em minhas costas, da corrente elétrica percorrendo as minhas veias e me fazendo tremer tanto a ponto de uma espuma branca deixar a minha boca. E como se não bastasse, eles lançaram dez litros de água gelada sobre mim e me deixaram preso em uma cela congelando durante três dias.

Soldado Invernal | 𝓹𝓻𝓲𝓶𝓮𝓲𝓻𝓪 𝓉𝓮𝓂𝓹𝓸𝓻𝓪𝓭𝓪 [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora