Memórias De Alya

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* Lucy *

- Espera um pouco, é muita coisa pra assimilar. Quem é ele-Apontei para o garoto que até então observava tudo com um olhar um tanto confuso.

- Eu não sei direito mas ele ajudou o seu  pai a sair de uma das celas, mas  parece que ele  não lembra de muita coisa. - Alya disse.

- Eu não lembro o meu nome e muito menos o que vim fazer aqui só sei que estava cumprindo uma missão da Resistência e  agora estou em outra dimensão. - Ele dizia.

- As quimeras não prenderam todos os habitantes. Na nossa dimensão existem pessoas que apenas querem continuar a própria vida, então elas se renderam totalmente ao reinado de Doomarak e ele garantiu que não as prenderia. Mesmo com a rendição Doomarak ainda os obriga a pagarem impostos desnecessários e as vezes suas quimeras passam de porta em porta torturando membros da família sem ter motivo nenhum . A Resistência é um grupo de pessoas que agem escondido procurando a paz e o fim de seu domínio cruel . São pessoas corajosas e a maioria são jovens. Aqueles que são descobertos passam três dias sendo torturados e depois são enforcados na frente de todo o reino para assustarem todos aqueles que são contra o seu reinado. -Alya disse enquanto fechava  os olhos, parecia ter lembrado de algo.

- Como é essa dimensão? -Perguntei lembrando que até agora não sabia nem o nome desse tal lugar.

- Bom... O nome da nossa dimensão é Ranor e sinceramente é parecido com essa. Lá nós temos vários tipos de quimeras. Temos as quimeras raras, inclusive eu sou uma delas, temos também as que são inofensivas e as quimeras das sombras. - Alya disse.

- Das sombras? - Não gostei desse nome.

- Elas viviam escondidas nos lugares mais escuros da nossa dimensão, por isso o nome. Infelizmente em Ranor as quimeras não eram muito bem aceitas pela sociedade e os habitantes viviam nos caçando e nos matando o único momento que podíamos sair era de noite quando eles já estavam dormindo. Vivemos escondidas por anos, tinha até competições para ver quem capturava mais quimeras. Mas graças ao seu avô o Rei Dimn, algumas de nós conseguiram ter a sua liberdade.

- Como ele conseguiu fazer isso?-perguntei admirada.

- Quando seu avô era uma criança, ele se perdeu na floresta  e passou vários dias com fome. Um pequeno bando de quimeras o encontrou e cuidou dele durante 4 anos. Ele percebeu que nem todas as quimeras eram ruins  e algumas só estavam tentando sobreviver, e o verdadeiro mau era o seu próprio povo. A família real achava que o seu filho já estava morto e parou com as buscas. Enquanto isso Dimn viveu com quimeras, e os considerava como parte da sua família. Depois de anos, Dimn voltou para o castelo e contou que só estava vivo graças ao pequeno grupo. Seus pais ainda continuaram com receio de autorizar que elas teriam liberdade e a caça seria oficialmente proibida. Anos depois quando Dimn assumiu o trono, ele criou uma nova lei que proibiria toda caça e matança de quimeras, isso foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Claro que várias pessoas foram contra isso e até tentaram matar o rei. Seu Avô foi um homem muito sábio e piedoso, sinceramente foi o melhor rei que Ranor já teve, ainda lembro quando brincávamos juntos.

- Espera... Quantos anos você tem? -Perguntei intrigada, ela não parecia ser tão velha.

-  Tenho 268 anos. -Ela disse com um sorriso bobo no rosto.

- 268?- Perguntei assustada.

- Bom... Eu acho que tenho 268, eu acabei perdendo as contas com o passar do tempo.

- Não julgo. Mas com que idade você conheceu o meu avô?

- Eu ainda era uma pequena quimera, tinha apenas 46 aninhos. - Era perceptível ver seus olhos brilhando ao lembrar dos velhos tempos.

- Vocês passaram muito tempo juntos? - Perguntei.

- Éramos inseparáveis, seu avô foi um ótimo amigo, inclusive ele que me nomeou como protetora real. Foi uma conquista enorme, as quimeras estariam livres e eu teria um dos melhores cargos.

- Ele não ta mais vi... -Antes que pudesse terminar a frase, ela negou com a cabeça e levantou do chão.

- Olha... Sei que você ainda tem várias e várias perguntas sobre quem somos e tudo mais. Porém, nós temos um inimigo que não vai demorar pra colocar até mesmo esse mundo em perigo. Eu e ele vamos te ajudar no seu treinamento até você estar preparada para enfrentar o seu tio. Agora nós precisamos de um lugar seguro, ao decorrer do seu treinamento te garanto que iremos te contar tudo que você precisa saber sobre a sua família. -Ela disse tirando a terra de suas patas.

- Vocês podem ficar na minha casa.

- Vamos então.

Ela começou a mudar de forma novamente e dessa vez virou uma gatinha muito fofa nem dava para imaginar que ela era de outro mundo.

- Lucy o que está esperando? temos que ir, não é mesmo? -Era tão estranho ouvir um gato falando.

- Desculpa... é que ainda é um pouco estranho tudo isso. Não é todo dia que ouço um gato falar. -Falei com um tom meio brincalhão e ela simplesmente saiu andando, parecia estar realmente com pressa.

- Qual direção?- Ela parou assim q percebeu que não sabia o caminho

-Por ali... Me segue.

Estávamos andando calmamente enquanto a dúvida invadia todos os meus pensamentos , ela não pronunciava nenhuma palavra e continuava o caminho com um semblante sério. Até que parou de andar e lhou pra trás a procura de algo.

- Onde ele está?- Ela perguntou e eu só conseguia levantar os braços em uma forma de dizer que não sabia. Para falar a verdade, nem tinha percebido que ele não estava ali.

- Por isso odeio trabalhar com crianças.

- Eu tenho 17 anos. - Disse cruzando os braços.

- Vamos atrás dele logo, espero que ele esteja morto por que se não estiver eu mesma vou matá-lo. - Ela disse com um semblante assustador, parecia até um gato endemoniado. Confesso que aquilo me assustou um pouco.

- Calma Ayla, ele  deve ter se distraído. - Falei em uma tentativa falha de acalmá-la.

- Esse é o problema Lucy... Não podemos ter distrações. -Ela disse e começou a voltar por onde veio, e novamente tudo ficou em silêncio.

De longe dava para ver seu corpo caído no chão, começamos a correr e finalmente chegamos perto o suficiente.

- Ele ta morto? -acabei de conhecê-lo, ele não pode morrer agora.

- Só tem um jeito de descobrir -Ela dizia mudando de forma outra vez. Se transformando em um urso enorme. Ela se afastou, pegou impulso e começou a correr em direção ao corpo jogado  no chão do garoto.

O chão estremeceu e um barulho enorme pôde ser ouvido, espero que ele ainda esteja vivo após esse impacto.

-VOCÊ ENLOUQUECEUUU? -Ele pergunta pressionando a barriga. Imagino que aquilo deve ter doído.

- Ele ainda está vivo... Vamos seguir em frente. -E como se nada tivesse acontecido, ela retornou a forma de gato e continuou andando.

- Você deveria ter me acordado, e não pulado em cima de mim ainda mais com todo esse peso. -Ele fala se levantando com um pouco de dificuldade.

- Como eu disse para a  Lucy, não podemos nos distrair. -Ela fala sem nem olhar para trás.

- Você poderia  ter olhado se eu estava respi... -Antes que ele pudesse terminar, resolvi interrompê-lo.

- Idiota... Não acredito que você dormiu. Tivemos que voltar para trás só para...

- Eii... eu não tenho culpa se a história tava incrivelmente chata. -Antes que eu pudesse responder Alya nos interrompe.

- CHEGAAAA... Nós temos que fazer muitas coisas ainda, então por favor parem de reclamar.

O caminho continuou em um profundo silêncio e a vontade de perguntar sobre o meu passado e a minha família invadiu a mente. Tentei focar em guiá-los para casa, mas a cada segundo que se passava, parecia que meu coração ia sair do peito.

Ranor (Entre Dimensões )Onde histórias criam vida. Descubra agora